14 ago, 2024 - 00:18 • João Pedro Quesado com Reuters
O ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, visitou na terça-feira o complexo da mesquita de Al-Aqsa, conhecido pelos judeus como Monte do Templo, e disse que os judeus devem ter permissão para rezar no local, desafiando novamente as regras que abrangem um dos locais mais sensíveis do Médio Oriente. A visita é uma repetição de algo que já aconteceu em 2023, e é pelo menos a segunda em 2024, segundo o "The Times of Israel".
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu apressou-se a negar qualquer mudança nas regras que proíbem os judeus de rezar no local, que é considerado sagrado para os muçulmanos. Netanyahu repreendeu ainda Ben-Gvir, chefe de um dos partidos nacionalistas de extrema-direita que faz parte da coligação do governo.
"Não há nenhuma política privada de nenhum ministro no Monte do Templo — nem do ministro da Segurança Nacional, nem de qualquer outro ministro", disse o gabinete de Netanyahu em comunicado.
Em Washington, o secretário de Estado dos Estados Unidos da América, Antony Blinken, criticou a visita de Ben-Gvir ao local.
A discussão com Ben-Gvir foi a segunda vez esta semana que Netanyahu entrou em conflito com um dos seus principais ministros, após uma dura reprimenda emitida ao ministro da Defesa, Yoav Gallant, na segunda-feira. sobre os objetivos da guerra de Gaza.
Os comentários de Ben-Gvir, durante uma visita ao complexo para marcar o dia de luto judaico pela destruição dos templos antigos, ocorrem num momento especialmente delicado, em que a guerra em Gaza pode transformar-se num conflito maior, potencialmente atraindo o Irão e os seus representantes regionais.
O local é considerado sagrado por judeus - que o chamam de Monte do Templo - e por muçulmanos - que o chamam de Nobre Santuário.
No Judaísmo, este é o local mais sagrado por ser onde dois templos judeus estiveram de pé, com o segundo a ser destruído pelos romanos. O Muro das Lamentações, ou Muro Ocidental, é o único vestígio que resta desse segundo templo, e é local de oração.
No Islão, a mesquita de Al-Aqsa é o terceiro local sagrado, a seguir às mesquitas de Meca e Medina, e é a segunda mesquita mais antiga da religião. Chamado de Nobre Santuário, inclui o local onde o profeta islâmico Maomé subiu ao céu.
Tensão no Médio Oriente
Hamas disse esta terça que não vai estar nas negoc(...)
O local é administrado desde 1187 por uma comissão islâmica, a Jerusalém Waqf, financiada pela Jordânia. As regras permitem aos judeus visitar o local, mas não rezar; contudo, o acesso tem sido restringido por Israel, que controla o exterior do local, desde 7 de outubro.
"A nossa política é permitir a oração", disse Ben-Gvir ao passar por uma fila de visitantes judeus que se prostraram no chão, enquanto outros cantavam e batiam palmas em comemoração. A Waqf disse que cerca de 2.250 judeus entraram no local na terça-feira.
O porta-voz do presidente palestiniano Mahmoud Abbas denunciou a visita de Ben-Gvir como uma "provocação", e pediu que os EUA intervenham "se quiserem evitar que a região exploda de forma incontrolável".
Blinken disse que Washington se opôs fortemente à visita de Ben-Gvir, que, disse, "demonstrou flagrante desrespeito ao status quo histórico em relação aos locais sagrados em Jerusalém".
"Essas ações provocativas apenas exacerbam as tensões num momento crucial, quando todo o foco deveria estar nos esforços diplomáticos em andamento para alcançar um acordo de cessar-fogo e garantir a libertação de todos os reféns e criar as condições para uma estabilidade regional mais ampla", disse Blinken, pedindo ao governo israelita que evite incidentes semelhantes no futuro.
Ben-Gvir entrou em conflito repetidamente com outros ministros sobre seus apelos para permitir orações no complexo, o que ajudou a desencadear conflitos repetidos com os palestinos ao longo dos anos, incluindo uma guerra de 10 dias com o Hamas em 2021.
Moshe Gafni, chefe do Judaísmo Unido da Torá, um dos partidos ultraortodoxos do governo, criticou a visita de Ben-Gvir ao complexo, que muitos judeus ortodoxos acreditam ser um lugar sagrado demais para judeus entrarem.
"O dano que isso causa ao povo judeu é insuportável e também causa ódio infundado no dia da destruição do Templo", afirmou em comunicado.