17 ago, 2024 - 10:04 • Marisa Gonçalves , Fábio Monteiro com Lusa
Cerca de 60 pessoas da comunidade de luso-venezuelanos na Madeira associaram-se, este sábado, ao protesto a nível internacional convocado pela oposição venezuelana que contesta a reeleição de Nicolas Maduro.
Os manifestantes, sobretudo venezuelanos e luso-venezuelanos, percorreram as principais avenidas do Funchal, gritando por "liberdade" e por uma "Venezuela livre".
A Venezuela, país que conta com uma expressiva comunidade de portugueses e de lusodescendentes, realizou eleições presidenciais no passado dia 28 de julho, após as quais o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) atribuiu a vitória a Nicolás Maduro com pouco mais de 51% dos votos, enquanto a oposição afirma que o seu candidato, o antigo diplomata Edmundo González Urrutia obteve quase 70% dos votos.
A oposição venezuelana convocou para este sábado um "grande protesto mundial pela verdade" em mais de 100 cidades do mundo, incluindo Portugal, tendo a Madeira aderido a esta "pressão internacional" para seja feita "uma leitura correta das atas de votos", conforme destacou à Lusa um dos organizadores da iniciativa deste sábado.
A líder da oposição, María Corina Machado diz esperar a adesão em mais de 300 cidades, um pouco por todo o mundo. No Funchal, estão previstas duas concentrações. Ao final do dia, pelas sete da tarde, haverá uma nova concentração na Praça do Município.
Na quinta-feira, o Comando Com Venezuela de Portugal entregou ao presidente da Assembleia Legislativa Regional, José Manuel Rodrigues, as atas obtidas dos diferentes centros de votação que demonstram "que o Presidente da República Bolivariana de Venezuela é Edmundo González Urrutia com 7.173.152 votos, contra os 3.250.424 que obteve Nicolás Maduro".
Em declarações à Renascença, Carlos Fernandes, deputado regional e descendente de luso-venezuelanos, diz que a comunidade de portugueses e lusodescendentes na Venezuela vive, nesta altura, com muitos receios.
"Há muito medo porque não se sabe o que vai acontecer. A verdade seja dita, muitos portugueses, que estão dentro da política na Venezuela, que fazem parte do movimento político da Mariá Corina Machado, têm medo, muitos estão nervosos, e estão, neste momento, com investimentos parados e aguardar o que vai acontecer no país", afirma.
Carlos Fernandes garante também que há muita revolta pela detenção do opositor e ex-governador do Estado de Mérida, Williams Dávila Barrios, que tem nacionalidade portuguesa e que foi hospitalizado em estado grave de saúde.
“É uma pessoa que tem 72 anos, tem muitos problemas de saúde, e que hoje está numa clínica em Caracas, porque o seu estado de saúde complicou-se. Tivemos de tirá-lo da cadeia e internar numa clínica. Isto é desesperante, grave. Isto tem revoltado muito a nossa comunidade”, conta.
O deputado regional diz que a instabilidade da situação política e social faz com que as gerações mais novas de lusodescendentes pensem mais na possibilidade de abandonar o país.
“Os mais novos são aqueles que estão sempre a pensar que têm de deixar a Venezuela para trás. Os mais velhos não querem sair de lá. Querem ficar.”
O deputado descendente de luso-venezuelanos sublinha ainda a importância do contributo da comunidade de origem portuguesa para a economia da Venezuela que defende um futuro melhor para aquele país.
“A nossa comunidade quer que a verdade seja dita e que este impasse político possa acabar o mais rápido possível. O maior motor económico do país precisa de continuar a trabalhar. A nossa comunidade quer trabalhar, quer estar feliz.”
Portugal é um de 22 países subscritores, a par da União Europeia, de uma declaração que pede a publicação imediata das atas originais” das eleições presidenciais na Venezuela e a verificação “imparcial” e “independente" dos resultados.