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França

"Sou um violador". Homem que drogou e recrutou dezenas de estranhos para violar a mulher admite crimes

17 set, 2024 - 09:38 • Beatriz Pereira com Reuters

Dominique Pelicot confessou o crime na primeira vez que fala em tribunal. O caso que chocou França tornou Gisèle Pelicot num símbolo na luta contra a violência sexual.

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Dominique Pelicot, o francês acusado de drogar a sua esposa e recrutar dezenas de estranhos para violá-la ao longo de uma década, admitiu esta terça-feira as várias acusações criminais que enfrenta e implorou o perdão da sua família.

Pelicot deveria ter testemunhado na semana passada neste caso que chocou França, mas a sua aparição foi adiada devido a problemas de saúde. O homem apareceu agora em tribunal com uma bengala.

"Sou culpado pelo que fiz", disse o homem de 71 anos. "Sou um violador, assim como todos os outros nesta sala. Todos sabiam, não podem dizer o contrário".

Ao tribunal disse ter tido uma infância difícil e que ele próprio foi vítima de violação. "Da minha juventude só me lembro de choques e traumas", admitiu.

Sobre a ex-mulher, Gisèle Pelicot, afirmou que "ela não merecia isso. Eu a amei muito por 40 anos e muito por 10 (referindo-se ao período em que ocorreram as violações)".

"Rezo para que a minha esposa, os meus filhos e os meus netos aceitem as minhas desculpas. Lamento o que fiz, peço o seu perdão, mesmo que não seja perdoável", disse.

Pelicot enfrenta acusações que incluem violação, violação coletiva e diversas violações de privacidade ao gravar e divulgar imagens sexuais.

Além de Dominique Pelicot, outros 50 homens acusados de violação estão também a ser julgados na cidade de Avignon, no sul de França. Se forem considerados culpados, podem arriscar até 20 anos de prisão.

Alguns disseram que acreditavam que Gisèle Pelicot fingia estar a dormir durante os atos sexuais e que, por isso, consentiu com as relações.

Sobre as mais de 20 mil imagens e vídeos da sua mulher a ser violada inconscientemente, encontradas pelas autoridades, Pelicot admite que estes conteúdos foram feitos por "prazer" mas também "como garantia, pois hoje, é graças [aos vídeos] que conseguimos encontrar as pessoas que participaram nisto".

Gisèle Pelicot, que acompanhou o julgamento em tribunal, admitiu ser "difícil ouvir da boca do Sr. Pelicot o que ele acabou de dizer. Por 50 anos, vivi com um homem que eu nunca imaginei que seria capaz disso. Eu confiava nele completamente."

Gisèle Pelicot insistiu num julgamento público para expor todos os homens acusados de violá-la.

Já na segunda-feira, a mulher, que se tornou um símbolo da luta contra a violência sexual em França, dirigiu uma mensagem às vítimas destes crimes, afirmando que “não estão sozinhas”.

Numa declaração à imprensa antes do início da audiência, Gisèle Pelicot agradeceu o apoio que tem recebido desde o início do julgamento e também às manifestações que têm sido organizadas em França.

“Graças a todos, tenho a força necessária para levar este combate até ao fim. Dedico este combate a todas as pessoas, mulheres e homens de todo o mundo que são vítimas de violência sexual. A todas estas vítimas, quero dizer hoje que olhem à vossa volta, não estão sozinhas”, afirmou.

Manifestação de apoio a Gisèle Pelicot, em Paris. Fotos: Teresa Suarez/EPA
Manifestação de apoio a Gisèle Pelicot, em Paris. Fotos: Teresa Suarez/EPA

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