19 out, 2024 - 00:17 • Miguel Marques Ribeiro
Os doze migrantes que foram enviados por Itália para um centro de acolhimento na Albânia vão regressar de novo ao ponto de partida, em Bari, determinou a secção de imigração do tribunal de Roma.
A decisão surge depois de outros quatro migrantes terem regressado a solo italiano na quinta-feira.
Desta forma, todos os 16 migrantes (dez do Bangladesh e 6 do Egito) que tinham sido enviados para o Centro de Permanência para Repatriamento (CPR) de Gjader, na Albânia, vão ser transferidos novamente para o outro lado do Mar Adriático, o que constitui um importante revés legal para as intenções do governo de Giorgia Meloni.
A primeira-ministra italiana, que se encontrava de visita ao Líbano quando tomou conhecimento da decisão, reagiu com fúria, segundo a imprensa italiana, criticando severamente a sentença judicial.
Itália prepara-se para abrir dois centros de acolh(...)
"É difícil trabalhar e tentar dar respostas a esta nação quando também há oposição de algumas instituições. Os italianos pediram-me para acabar com a imigração ilegal e farei tudo o que puder para manter a minha palavra e acabar com o tráfico de seres humanos", declarou.
No acordo assinado entre os dois países, a Albânia autoriza as autoridades de Roma a construir e gerir centros de acolhimento de migrantes no seu território, capazes de receber até três mil migrantes por mês, em troca de 670 milhões de euros, a serem pagos ao longo dos próximos cinco anos.
Segundo o juíz que analisou o processo, “Os dois países de onde provêm os migrantes, Bangladesh e Egipto, não podem ser considerados seguros à luz do que foi decretado pelo Tribunal Europeu de Justiça”.
A classificação de país seguro é nuclear para dar sustentação legal à operação desenhada pelas autoridades italianas. O objetivo é criar uma via rápida de repatriamento dos migrantes via Albânia, num prazo não superior a quatro semanas.
A decisão do tribunal estabeleceu que o requisito de país “seguro” só é cumprido por nações nas quais todas as categorias de indivíduos, sem exceção, estão a salvo de discriminação.
Conselho Europeu
No capítulo das migrações, parece ganhar cada vez (...)
Aplicando este critério restritivo, muitos dos 22 países identificados como “seguros” pela Itália ficam fora da lista, o que inviabiliza, na prática, o protocolo assinado com Tirana, visto com bons olhos por alguns congéneres europeus.
A primeira-ministra dramatizou as consequência da decisão que foi conhecida esta sexta-feira. “Mais ninguém poderá ser repatriado. Não poderemos fazer mais nenhuma política de defesa”.
Os dois partidos que formam a coligação de Governo com o partido de Meloni, os Fratelli d'Itália, também já vieram criticar duramente o poder judiciário.
A Lega, de Salvini, instou os “juízes pró-imigração a concorrer às eleições”, enquanto o ministro dos Negócios Estrangeiros e líder do Forza Itália, defendeu que “o poder judiciário deve aplicar as leis, não alterá-las ou impedir que o executivo possa fazer o seu trabalho”.
O Partido Democrático, de centro-esquerda, por seu turno, apoia a abertura, pela União Europeia, de um processo formal de infração contra a Itália. Uma posição muito criticada por Giorgia Meloni. “Comportamento simplesmente escandaloso e irresponsável”, classificou. “Pessoas pagas pelo povo italiano para pedir à Europa que ataque o povo italiano”.
A primeira-ministra já convocou um Conselho de ministros para segunda-feira, em que esta questão deverá estar em cima da mesa.