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França

Gisèle Pelicot, violada por dezenas de homens durante uma década, condena covardia dos abusadores

20 nov, 2024 - 09:39 • Redação com Reuters

"Eles devem assumir a responsabilidade pelas suas ações. Eles violaram. Violação é violação", afirmou a francesa em tribunal. Filhos do casal falam "numa família destruída".

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Gisèle Pelicot, que foi drogada e violada centenas de vezes por 50 homens ao longo de dez anos, condenou, esta terça-feira, a covardia dos abusadores, que alegam não perceber que houve violação.

"Para mim, este é o julgamento da covardia, não há outra maneira de descrevê-lo", disse a francesa, que referiu que não havia desculpas para os abusos sexuais terem acontecido enquanto estava inconsciente.

Um vídeo gravado pelo marido e exibido no tribunal nas últimas semanas mostrou-a repetidamente imóvel, enquanto os acusados, incluindo o marido, de 71 anos, abusavam dela.

"Quando se entra num quarto e se vê um corpo imóvel, em que momento se decide não reagir?", questionou, num discurso direcionado aos acusados, muitos dos quais presentes no tribunal. "Porque é que vocês não saíram imediatamente para denunciar à polícia?"

Dominique Pelicot, o marido, já tinha admitido em tribunal ter drogado a esposa e convidado estranhos para a sua casa, para que a pudessem violar enquanto estava inconsciente.

A maioria dos homens tem admitido em tribunal que não tiveram a intenção de a violar, colocando a culpa no marido, que, segundo eles, os havia manipulado.

Gisèle Pelicot só soube dos abusos sexuais há quatro anos, quando a polícia encontrou vídeos e fotos que o marido tinha gravado dos abusos que ele próprio orquestrou e também participou.

"Violação é violação"

Gisèle Pelicot revelou, em tribunal, que estava com raiva dos acusados, até porque qualquer um deles poderia, a qualquer momento, ter posto fim ao seu calvário, se tivessem denunciado o seu marido.

"Eles devem assumir a responsabilidade pelas suas ações. Eles violaram. Violação é violação", alertou.

É a terceira vez que a mulher se dirige ao tribunal em Avignon, no sul da França, enquanto o julgamento, que atraiu a atenção mundial, se encaminha para a divulgação dos veredictos e sentenças a 20 de dezembro.

Pela lei francesa, Gisèle poderia ter pedido que o julgamento fosse realizado a portas fechadas. Em vez disso, pediu que fosse realizado em público, dizendo que esperava que isso ajudasse outras mulheres a manifestarem-se e mostrarem que as vítimas não têm nada do que se envergonhar.

"É hora de todos olharmos para essa sociedade machista e patriarcal e mudar a forma como se olha para uma violação", pediu em tribunal.

Gisèle já admitiu também que nunca irá perdoar o marido.

"A nossa família foi destruída"

Na segunda-feira, os dois filhos do casal pediram ao tribunal para puni-lo severamente, em sequência das suas ações, dizendo que, para eles, o pai estava morto.

"A nossa família foi destruída", afirmou um filhos, David Pelicot, de 50 anos. "O que espero deste julgamento é que esses homens, e aquele homem no banco dos réus (o pai), sejam punidos pelos horrores que infligiram à minha mãe".

Dominique Pelicot interrompeu o depoimento do filho, dizendo que se queria desculpar pelo que fez, mas o filho atirou: "Nunca!"

Já a irmã, Caroline Darian, disse ao tribunal que acreditava também ter sido abusada pelo pai. O homem referiu nunca abusou dos filhos ou dos netos.

"Nem tem coragem de dizer a verdade!", gritou a filha no tribunal. "Vai morrer numa mentira. Sozinho, na sua própria mentira".

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