27 nov, 2024 - 07:58 • Redação com Reuters
Um cessar-fogo entre Israel e o grupo Hezbollah entrou em vigor esta quarta-feira, depois de ambos os lados terem aceitado um acordo mediado pelos EUA e pela França, uma rara vitória para a diplomacia numa região traumatizada por duas guerras devastadoras em um ano.
O exército do Líbano, encarregado de ajudar a garantir que o acordo seja mantido, revelou em comunicado que se estava a preparar para se deslocar para o sul do país.
Os militares pediram que os moradores das vilas fronteiriças adiassem o retorno para casa até que o exército israelita, que avançou cerca de seis quilómetros em território libanês, se retirasse.
Já esta quarta-feira, quando o cessar-fogo entrou em vigor, às 04h00 (hora local), ouviram-se rajadas de tiros na capital do Líbano, em Beirute. Não ficou imediatamente claro se o tiroteio foi comemorativo, já que vários tiros foram também disparados para alertar moradores que podem ter perdido os avisos de evacuação emitidos pelo exército israelita.
Mais tarde, carrinhas com colchões, malas e até móveis passaram pela cidade portuária de Tiro, no sul, que foi fortemente bombardeada nos últimos dias antes do cessar-fogo. Alguns carros agitavam bandeiras libanesas e buzinavam, em forma de comemoração pelo acordo.
O Presidente dos EUA, Joe Biden, que falou na Casa Branca logo após o gabinete de segurança de Israel aprovar o acordo, diz que este cessar-fogo "foi projetado para ser a cessação permanente das hostilidades".
"O que resta do Hezbollah e de outras organizações terroristas não será permitido", apontou. "Civis de ambos os lados poderão em breve retornar com segurança às suas comunidades".
Israel retirará gradualmente as suas forças ao longo de 60 dias, enquanto o exército do Líbano assumirá o controlo do território próximo à sua fronteira com Israel para garantir que o Hezbollah não reconstrua infraestruturas, informou Biden.
O Hezbollah não comentou formalmente sobre o cessar-fogo, mas o alto funcionário Hassan Fadlallah disse à Al Jadeed TV do Líbano que, embora apoiasse a extensão da autoridade do estado libanês, o grupo saíria mais forte da guerra.
"Milhares juntar-se-ão à resistência. Desarmar a resistência foi uma proposta israelita que fracassou", disse Fadlallah, que também é membro do parlamento do Líbano.
Já o Irão, que apoia o Hezbollah, o grupo palestino Hamas e os rebeldes Houthis que atacaram Israel a partir do Iémen, saudou o
"fim da agressão do regime sionista contra o Líbano".
Em comunicado, o porta-voz da diplomacia iraniana, Esmail Baghai, diz que Teerão "apoia firmemente o Governo, a nação e a resistência libanesa".
Também o presidente francês Emmanuel Macron escreveu na plataforma X que o acordo foi “o ápice de esforços empreendidos por muitos meses com as autoridades israelitas e libanesas, em estreita colaboração com os Estados Unidos”.
Ricardo Ferreira Reis, especialista em assuntos in(...)
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, na declaração televisiva em que anunciou o acordo, esclareceu que, embora o cessar-fogo seja implementado, poderá responder com firmeza a qualquer violação do Hezbollah.
"A duração do cessar-fogo vai depender do que acontecer no Líbano", esclareceu Netanyahu. "Mantemos toda a liberdade para reagir se o Hezbollah atacar. Se forem disparados mísseis, nós atacaremos".
Netanyahu explicou que o acordo vai permitir que Israel se concentre na ameaça do Irão e dará ao exército israelita uma oportunidade de descansar e focar-se no Hamas, o grupo que controla Gaza.
O primeiro-ministro israelita disse ainda que o Hezbollah, que é aliado do Hamas, estava consideravelmente mais fraco do que no início do conflito.
"Nós atrasámo-lo décadas, eliminámos os seus principais líderes, destruímos a maioria dos seus foguetes e mísseis, neutralizamos milhares de combatentes e destruímos anos de infraestrutura terrorista perto de nossa fronteira", admitiu.
Nas horas que antecederam o cessar-fogo, as hostilidades aumentaram enquanto Israel intensificava a sua campanha de ataques aéreos em Beirute e outras partes do Líbano, com as autoridades de saúde a relatar pelo menos 18 mortos.
O exército israelita disse que atingiu "componentes da administração e sistemas financeiros do Hezbollah". O Hezbollah também continuou a disparar foguetes contra Israel nas horas finais.