03 dez, 2024 - 23:51 • Miguel Marques Ribeiro com Reuters
Aviões e fundos presidenciais russos foram utilizados num programa que retirou crianças dos territórios ucranianos ocupados, despojando-as da identidade ucraniana e colocando-as à guarda de famílias russas, revelou um relatório da Escola de Saúde Pública de Yale, dos Estados Unidos.
A investigação apoiada pelo Departamento de Estado, e publicada na terça-feira, identificou 314 crianças ucranianas levadas para a Rússia nos primeiros meses da guerra na Ucrânia no âmbito de um programa sistemático financiado pelo Kremlin para as “russificar”.
O responsável pelo relatório, Nathaniel Raymond, diretor executivo do Laboratório de Pesquisa Humanitária de Yale, assegurou existirem provas de que “a deportação das crianças da Ucrânia faz parte de um programa sistemático liderado pelo Kremlin” para as tornar cidadãs da Rússia.
A agência Reuters não conseguiu confirmar as conclusões do relatório de forma independente.
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Em Março de 2023, o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu mandados de detenção contra o Presidente russo, Vladimir Putin, e a sua comissária para os direitos da criança, Maria Lvova-Belova, pelo alegado crime de guerra de deportação de crianças ucranianas.
Na altura, Lvova-Belova disse que a sua comissão agiu por razões humanitárias para proteger as crianças numa área de hostilidades militares.
As conclusões do relatório, segundo alega Raymond Nathaniel, podem fornecer as evidências necessárias para sustentar acusações adicionais do TPI contra Putin, no capítulo da "transferência forçada" de pessoas de um grupo nacional e étnico para outro.
Em resposta a perguntas da Reuters, o gabinete do procurador do TPI admitiu que o relatório de Yale possa ser útil para “as atividades em curso no processo". No entanto, recusou-se a fornecer informações sobre eventuais impactos nas investigações que decorrem sobre a Ucrânia.
O Kremlin disse que não podia responder às perguntas enviadas na segunda-feira, alegando falta de tempo. gabinete de Lvova-Belova não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
Por sua vez, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, reagindo ao documento, declarou no X: “A Ucrânia está a trabalhar incansavelmente para garantir que os nossos filhos regressam a casa e que todos os responsáveis por estes crimes hediondos são punidos”.
As conclusões do relatório vão ser apresentadas no Conselho de Segurança das Nações Unidas, na quarta-feira, órgão que é presidido, neste momento, pelos Estados Unidos.