05 dez, 2024 - 13:20 • João Malheiro
A coordenadora de investigação e advocacia da Amnistia Internacional Portugal diz que a guerra contra o Hamas não pode servir de desculpa para um genocídio em Gaza.
No dia em que a Amnistia Internacional publica um relatório que acusa Israel de estar a tentar cometer genocídio do povo palestiniano, Inês Subtil refere, à Renascença, que os objetivos militares contra o Hamas "podem coexistir com intenções genocidas".
"É essencial que não se permita que a guerra sirva de desculpa e o calor das batalhas obscure os factos no terreno", aponta.
Para a representante da Amnistia Internacional, a posição de que Israel pretende apenas desmantelar e não destruir civicamente os palestinianos "não resiste aos factos do terreno".
"O que se passa é um genocídio que tem de parar já", reitera.
Questionada sobre o que sustenta a acusação de genocídio, Inês Subtil enumera um conjunto de provas que constam no relatório de quase 300 páginas da Amnistia Internacional. Nomeadamente, começando pela identificação de três atos: matar membros de um grupo, causar lesões corporais e mentais graves a esse grupo e infligir deliberadamente condições de vida calculadas para provocar a sua destruição total ou parcial.
"Foram atos proibidos cometidos para Israel. Depois, olhamos para o que era necessário para comprovar a intenção genocida", explica, apontando para entrevistas a mais de 200 sobreviventes de ataques, de detenções, membros de autoridades locais, pessoal de ONGs e agências das Nações Unidas, um olhar sobre imagens digitais e aéreas e uma análise a 15 ataques aéreos que a Amnistia Internacional calcula terem morto mais de 330 civis.
E, depois dessa análise, a Amnistia Internacional concluiu que se podia identificar três padrões que evidenciam a intenção genocida de Israel: "Destruição em massa, deslocação em massa e bloqueio ou restrição da ajuda humanitária", detalha Inês Subtil.
A coordenadora de investigação e advocacia da Amnistia Internacional Portugal alerta, ainda, que, se vários países do Ocidente, como Estados Unidos da América, França, Alemanha, entre outros, não pararem de apoiar ou manter uma postura de inação perante Israel, podem tornar-se "cúmplices" dos atos genocidas.
"A Amnistia Internacional, desde o primeiro momento, condena o que aconteceu no 7 de outubro de 2023 e está a investigar o Hamas. Isso não pode apagar a carnificina que está a acontecer há mais de um ano em Gaza. É urgente que a comunidade internacional assuma as suas obrigações", conclui.
A Amnistia Internacional publicou esta quinta-feir(...)