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Abu Mohammad al-Jolani

Quem é o líder dos rebeldes que derrubaram o regime da Síria?

08 dez, 2024 - 17:26 • João Pedro Quesado com Reuters

Extremista que fez esforço para se moderar – ou parecer mais moderado - é agora o rosto de uma fase de mudança ainda incerta no país do Médio Oriente.

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Como comandante do ramo da Al Qaeda na guerra civil da Síria, Abu Mohammad al-Jolani era até agora uma figura obscura que se mantinha longe dos olhos do público, mesmo quando o grupo que lidera se tornou o mais poderoso na luta contra o presidente Bashar al-Assad.

Hoje, al-Jolani é o mais conhecido dos insurgentes da Síria, tendo gradualmente ganhado destaque desde que cortou laços com a Al Qaeda em 2016 – deu então um novo nome ao seu grupo e emergiu como o governante de fato do noroeste da Síria, controlado pelos rebeldes.

A transformação ficou demonstrada desde que os rebeldes liderados pela Organização de Libertação do Levante (OLL ou Hayat Tahrir al Sham ou HTS, em árabe), anteriormente conhecida como Frente Al-Nusra, atravessaram o país e declararam que haviam derrubado Assad no domingo, após tomarem a capital, Damasco.

Al-Jolani teve destaque na tomada de poder, enviando mensagens destinadas a tranquilizar as minorias sírias que há muito temem os jihadistas.

"O futuro é nosso", disse numa declaração lida na TV estatal da Síria, pedindo aos seus combatentes que não magoem aqueles que largam as armas.

Quando os rebeldes entraram em Aleppo, a maior cidade da Síria antes da guerra, no início da invasão a Damasco, um vídeo mostrou al-Jolani de uniforme militar e a dar ordens por telefone, lembrando os combatentes de proteger as pessoas e proibindo-os de entrar em casas.

O líder dos rebeldes visitou a cidadela de Aleppo acompanhado por um combatente que agitava uma bandeira da revolução síria (com três estrelas em vez de duas, e o terço superior verde em vez de vermelho), antes rejeitada pela Al-Nusra como um símbolo de apostasia, mas recentemente adotada por al-Jolani como aceno à oposição mais tradicional da Síria.

"Jolani tem sido mais inteligente que Assad. Reequipou-se, remodelou-se, fez novos aliados e lançou uma ofensiva de charme" para as minorias, avalia Joshua Landis, especialista em assuntos da Síria e chefe do Centro de Estudos do Médio Oriente Médio na Universidade de Oklahoma.

Uma suavização para se tornar mais aceitável

Aron Lund, membro do think-tank Century International, considera que al-Jolani e a OLL claramente mudaram, embora ainda permaneçam "bastante linha-dura".

"É propaganda, mas o facto de fazerem esse esforço mostra que já não são tão rígidos como antes. A velha Al Qaeda, ou o Estado Islâmico, nunca teriam feito isso", apontou o especialista.

Al-Jolani e a Frente Al Nusra emergiram como as mais poderosas entre as inúmeras fações rebeldes que surgiram nos primeiros dias da insurgência contra Assad, em 2011.

Antes de fundar a Frente Al Nusra, Jolani lutou pela Al Qaeda no Iraque, passando cinco anos numa prisão dos EUA. O atual lider regressou à Síria quando a revolta começou, enviado pelo líder do grupo Estado Islâmico no Iraque na época - Abu Omar al-Baghdadi - para aumentar a presença da Al Qaeda.

Os EUA colocaram Jolani na lista de terroristas em 2013, apontando que a Al Qaeda no Iraque o tinha encarregado de derrubar o governo de Assad e estabelecer a lei islâmica sharia na Síria, e que a Al Nusra tinha realizado ataques suicidas que mataram civis e defendido uma visão sectária violenta.

A Turquia, principal apoiante estrangeira da oposição síria, designou a OLL como um grupo terrorista, ao mesmo tempo que apoia algumas das outras fações que lutam no noroeste do país.

Al-Jolani deu a primeira entrevista à comunicação social em 2013, com o rosto envolto num cachecol escuro e de costas viradas para a câmara. Falando à Al Jazeera, pediu que a Síria fosse governada de acordo com a lei sharia.

Cerca de oito anos depois, sentou-se para uma entrevista no programa “Frontline” da norte-americana “PBS”, de frente para a câmara e vestido de camisa e blazer.

Jolani disse que a designação de terrorista era injusta, e que se opõe à morte de pessoas inocentes.

Jolani detalhou como a Frente Al-Nusra se expandiu dos seis homens que o acompanharam do Iraque para 5 mil em um ano.

Mas o líder dos rebeldes disse que o seu grupo nunca apresentou uma ameaça ao Ocidente. "Repito – o nosso envolvimento com a Al Qaeda acabou, e mesmo quando estávamos com a Al Qaeda éramos contra realizar operações fora da Síria, e é completamente contra a nossa política realizar ações externas", sublinhou.

Al-Jolani travou uma guerra sangrenta contra o seu antigo aliado, Baghdadi, depois de o Estado Islâmico tentar subjugar unilateralmente a Al Nusra em 2013. Apesar dos laços com a Al Qaeda, a Nusra era considerada mais tolerante e menos autoritária nas relações com civis e outros grupos rebeldes em comparação ao Estado Islâmico.

O Estado Islâmico foi posteriormente derrotado em territórios que controlava na Síria e no Iraque por uma série de adversários, incluindo uma aliança militar liderada pelos EUA.

Enquanto o Estado Islâmico entrava em colapso, Al-Jolani consolidava o domínio da OLL na província de Idlib, no noroeste da Síria, estabelecendo uma administração civil chamada Governo da Salvação.

O governo de Assad via a Organização de Libertação do Levante como terrorista, assim como o resto dos rebeldes.

Com os rebeldes muçulmanos sunitas agora no controlo, a administração da OLL emitiu declarações na procura de assegurar os alauitas xiitas e outras minorias sírias. Numa ocasião, instou os alauitas a fazerem parte de uma futura Síria que "não reconhece o sectarismo".

Numa mensagem para os moradores de uma cidade cristã a sul de Aleppo, Jolani disse que eles seriam protegidos e suas propriedades salvaguardadas, pedindo que permanecessem em suas casas e rejeitassem a "guerra psicológica" do governo sírio.

"Jolani é realmente importante. O principal líder rebelde na Síria, o islamita mais poderoso", disse Lund, para quem a OLL demonstrou "capacidade logística e de governança" ao governar seu próprio território em Idlib por anos.

"Eles adotaram os símbolos da revolta síria mais ampla... Que agora usam e tentam reivindicar o legado revolucionário - que 'somos parte do movimento de 2011, as pessoas que se levantaram contra Assad, e também somos islâmicos'."

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