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Martins da Cruz: “A situação da Síria é o final de uma longa guerra civil de 14 anos”

09 dez, 2024 - 06:30 • Olímpia Mairos

Questionado sobre quem poderá assumir o controlo da situação na Síria, o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros diz que “o HTS, que é o grupo que vem da Al-Qaeda e do Isis, é o que parece estar a dirigir as operações”.

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O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e embaixador português na NATO, António Martins da Cruz, considera que a situação da Síria é o final de uma longa guerra civil de 14 anos e que levou à queda do regime.

As forças rebeldes na Síria anunciaram este domingo terem tomado o controlo da capital do país, Damasco, e o Presidente Bashar Al-Assad fugiu do país com a família para Moscovo. A Rússia concedeu asilo ao Presidente deposto.

“O que é que se vai passar agora, é muito cedo para dizer”, diz Martins da Cruz, sublinhando que quem perdeu “foi, seguramente, o Irão e, seguramente, a Rússia, que eram os países que apoiavam mais o regime do senhor Assad, de tal maneira que a própria Rússia o recebeu agora em asilo”.

Já sobre quem ganhou, o antigo ministro dos Negócios estrangeiros português considera que foi a Turquia, “que apoiava um dos grupos rebeldes que combatia os curdos, com a ajuda do exército turco”.

“E ganhou Israel, na medida em que o Hezbollah, apoiado pela Síria e pelo Irão, é, seguramente, um dos prejudicados desta nova situação na Síria. O que se vai passar na Síria para o futuro, não sabemos”, acrescenta.

Nestas declarações à Renascença, Martins da Cruz assinala que “o principal grupo que ocupou as cidades ou que dirigiu a ocupação das cidades e de Damasco é um grupo que nasceu da Al-Qaeda, dos radicais islâmicos”.

“Há dezenas de grupos rebeldes na Síria, desde os grupos curdos ao norte até aos diversos grupos islâmicos do sul. Será que eles se vão entender? Ou será que a Síria vai cair numa situação igual à Líbia, onde há uma guerra civil, desde há dez anos para cá, e, pelo menos, dois poderes?” - questiona, lembrando que “já houve três ou quatro, agora há só dois poderes na Líbia”.

“Um dos grandes culpados da manutenção do regime Assad na Síria é o Presidente Obama”

O antigo embaixador português na NATO entende que “a situação é preocupante, de tal maneira que o próprio Presidente dos Estados Unidos já veio dizer, embora só tenha mais um mês de poder, que os Estados Unidos vão fazer tudo para estabilizar a situação”.

“É uma maneira de voltar para trás, porque um dos grandes culpados da manutenção do regime Assad na Síria é o Presidente Obama, que não quis intervir há 11 anos, quando os Estados Unidos podiam ter feito uma intervenção decisiva na Síria”, lembra.Segundo Martins da Cruz, os Estados Unidos mantêm “ao pé da fronteira do Iraque algumas centenas, acho que não chega a um milhar, de soldados, têm duas ou três bases na Síria para apoiar, sobretudo, os curdos”.

“Não é com esse tipo de empenhamento e com o armamento que, possivelmente, terão lá que vão controlar a situação. Por outro lado, a Europa desapareceu. Tirando duas ou três declarações dos ingleses, que são os responsáveis históricos pela situação na Síria, porque não souberam acabar o mandato que lhes foi dado depois da Primeira Guerra pela Sociedade das Nações, e deram origem, eles, ingleses, ao regime da Síria, a França fez declarações, a Europa está calada, como é costume, nestas situações”, adverte.

“Situação pode degradar-se e podemos ter ali uma nova Líbia”

Questionado sobre quem poderá assumir o controlo da situação na Síria, Martins da Cruz diz que “o HTS, que é o grupo que vem da Al-Qaeda e do Isis, é, neste momento, o que parece estar a dirigir as operações”.

“Nós não sabemos. Quanto aos curdos, eu duvido muito que sejam vencedores por uma razão: apesar do apoio que lhes estaria a dar os Estados Unidos, é óbvio que a Turquia não vai permitir que ao longo da sua fronteira sul haja o estabelecimento maior de um poder curdo”, assinala.

O antigo embaixador refere que “o próprio exército turco, em território sírio, está, nestes últimos anos, a combater diretamente os curdos”, por isso, diz não acreditar que “a Turquia vá permitir o reforço do poder curdo na Síria”.

“Agora, os curdos estão lá, estão bem armados, são provavelmente mais de uma dezena de grupos islâmicos e outros que estão na Síria, os chamados rebeldes da Síria, o problema é se eles se vão entender”, alerta.

Por fim, Martins da Cruz diz não acreditar que haja alguém, “a não ser talvez algum país árabe, e só posso ver como tendo alguma força a Arábia Saudita, porque os outros não têm, obviamente, nenhum poder na região, a Arábia Saudita de um lado e, talvez, o Egito do outro lado, se quiserem e se o entenderem, para tentar estabelecer algum acordo entre estes grupos rebeldes”.

“Se não, a situação, a pouco e pouco, irá degradar-se e podemos ter ali uma nova Líbia”, conclui.

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