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Médio Oriente

Regime da Síria caiu. Rebeldes chegaram à capital e Assad fugiu do país

08 dez, 2024 - 08:12 • João Pedro Quesado , Olímpia Mairos , com Reuters e Lusa

O ditador sírio abandonou o país e encontra-se em Moscovo, deixando o caminho livre para os rebeldes assumirem o controlo de Damasco. Guerra civil da Síria dura desde 2011, fez mais de 14 milhões de refugiados e matou mais de 600 mil pessoas.

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Veja o vídeo: "É um sentimento indescritível". Milhares saem à rua na Síria para celebrar queda de regime de Bashar al-Assad
Veja o vídeo: "É um sentimento indescritível". Milhares saem à rua na Síria para celebrar queda de regime de Bashar al-Assad

As forças rebeldes na Síria anunciaram este domingo ter tomado o controlo da capital do país, Damasco, e que o Presidente Bashar Al-Assad fugiu. "O tirano Bashar Al-Assad fugiu", anunciou a coligação de grupos rebeldes através da plataforma Telegram.

De acordo com a BBC, a Rússia afirma que o Presidente deposto terá abandonado o cargo e o país após negociações com "outros participantes no conflito armado". Assad terá ainda dado instruções para uma transição de poder pacífica, diz o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo - que sublinha que o país não esteve envolvido nas negociações e que as suas bases militares na Síria estão em alerta, mas não sob ameaça.

O primeiro-ministro do país, Mohammad Ghazi al-Jalali, afirmou que o país deve avançar para eleições livres, para que a população escolha o líder que prefere. A coligação de grupos rebeldes diz estar a trabalhar para completar a transferência de poder para um governo de transição, com plenos poderes executivos.

O anúncio da entrada dos grupos rebeldes em Damasco aconteceu durante a madrugada portuguesa, colocando-se logo de seguida a questão sobre o paradeiro de Bashar Al-Assad, que presidia à Síria desde 2000. Os rebeldes já tinham conquistado Homs, a terceira maior cidade do país.

"Depois de 50 anos de opressão sob o poder do Baath, e 13 anos de crimes, de tirania e de deslocações forçadas, anunciamos hoje o fim deste período negro e o início de uma nova era para a Síria", declararam os rebeldes. A guerra civil na Síria começou em 2011, com a forte repressão das forças do regime de Assad aos protestos da Primavera Árabe.

Segundo as agências internacionais, milhares de moradores saíram às ruas gritando “Homs está livre” e "Abaixo Bashar al-Assad", já depois de ter sido derrubado um dos maiores símbolos do regime Sírio, a estátua de Hafez Al-Assad, pai de Bashar Al-Assad.

Regime Assad cai ao fim de mais de 50 anos

O rápido colapso do regime da família Assad é mais um momento importante para o Médio Oriente, e uma derrota para a Rússia e o Irão, que perdem assim um aliado importante no centro da região. Outros países da região também se mostram receosos de uma nova onda de instabilidade. Israel já reforçou a presença militar na fronteira com a Síria.

A saída de Assad da Síria foi anunciada pelo Observatório Sírio dos Direitos Humanos, que declarou que "Assad deixou a Síria [e saiu] pelo aeroporto de Damasco, antes da retirada dos membros das forças armadas e de segurança" do local.

O avião que terá retirado Bashar Al-Assad da região voou inicialmente em direção à costa síria, uma região de forte apoio a Assad, mas inverteu o percurso e voou na direção oposta por alguns minutos, antes de desaparecer do mapa.

Fontes sírias dizem à Reuters ser muito provável que Assad tenha morrido numa queda do avião, já que a inversão de percurso é um "mistério". "Possivelmente o transponder foi desligado, mas acredito que a maior probabilidade é a aeronave ter sido abatida", cita a agência noticiosa.

O OSDH, com sede em Londres e uma vasta rede de informadores na Síria, tinha já indicado que, face ao avanço das forças rebeldes, o exército e as forças de segurança tinham abandonado o aeroporto de Damasco.

Bashar Al-Assad acedeu ao poder em 2000, sucedendo ao pai, Hafez, após a morte deste. Hafez Al-Assad assumiu a presidência da Síria em 1971.

A guerra civil, que começou em 2011 como uma revolta - parte da Primavera Árabe - contra o regime de Assad, abriu espaço para os jihadistas do Daesh (ou auto-proclamado Estado Islâmico) ganharem território e lançar ataques para o resto do mundo, atraiu a Rússia e os Estados Unidos da América (com alguns aliados ocidentais) para os combates e criou mais de 14 milhões de refugiados, de acordo com a agência das Nações Unidas para os refugiados.

O Observatório Sírio dos Direitos Humanos dizia, em março deste ano, que quase 618 mil pessoas já tinham morrido vítimas da guerra civil.

Trump diz que al-Assad "fugiu" ao perder apoio da Rússia

Para o Presidente-eleito dos Estados Unidos da América, o Presidente sírio, Bashar al-Assad, "fugiu" da Síria depois de perder o apoio da Rússia, seu protetor.

"Al-Assad foi-se embora. Ele fugiu do seu país. O seu protetor, a Rússia, liderada por [o Presidente] Vladimir Putin, já não o queria proteger", escreveu Trump, que tomará posse em 20 de janeiro de 2025.

Segundo Trump, a Rússia "perdeu todo o interesse na Síria por causa da Ucrânia, onde cerca de 600.000 soldados russos estão feridos ou mortos, numa guerra que nunca deveria ter começado e que pode durar para sempre".

"A Rússia e o Irão estão atualmente enfraquecidos, um por causa da Ucrânia e de uma má economia, o outro por causa de Israel e dos seus sucessos em combate", acrescentou Trump.

Do lado da atual administração norte-americana, o secretário assistente de Defesa para o Médio Oriente, Daniel Shapiro, afirmou que "ninguém deve verter nenhumas lágrimas sobre o fim do regime de Assad". O responsável assegurou ainda que os Estados Unidos vão manter uma presença no leste da Síria "para assegurar a duradoura derrota do ISIS" e vão tomar as medidas necessárias para defender as forças na área.

Refugiados sírios no Líbano voltam em festa

Centenas de refugiados sírios residentes no Líbano atravessaram este domingo a fronteira de regresso ao seu país.

Segundo descreve a agência de notícias EFE, na principal passagem fronteiriça entre o Líbano e a Síria, Masnaa, longas filas de veículos aguardam para entrar no território sírio.

Vive-se uma atmosfera festiva entre gritos de "Alá é grande" e slogans contra o homem que liderou o país durante quase 25 anos.

Os refugiados sírios viajam com bandeiras da oposição síria.

O Governo do Líbano estima que cerca de 1,5 milhões de refugiados sírios vivam no país, dos quais mais de 800.000 estão registados na Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).

"Esperanças cautelosas" e apelos contra "caos" da comunidade internacional

"Hoje olhamos para o futuro com esperanças cautelosas de abertura [...] paz, reconciliação, dignidade e inclusão para todos os sírios", disse hoje o enviado das Nações Unidas para a Síria, Geir Pedersen.

A China "acompanha de perto a evolução da situação na Síria e espera que o país Síria regresse à estabilidade o mais rapidamente possível", escreveu o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês num comunicado.

Embora a Rússia e o Irão tenham sido os apoiantes mais próximos da Síria nos últimos anos, os laços de Damasco com a China fortaleceram-se. A China é um dos poucos países fora do Médio Oriente que al-Assad visitou desde o início da guerra civil na Síria, em 2011, com o presidente chinês, Xi Jinping, a anunciar uma "parceria estratégica" com o seu homólogo sírio.

A França "saudou" a queda do regime depois de "mais de 13 anos de repressão extremamente violenta contra o seu próprio povo", reagiu o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que apelou a todos os sírios "à unidade, reconciliação e rejeição de todas as formas de extremismo".

Nos Estados Unidos, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional norte-americano, Sean Savett, declarou que o Presidente [Joe] Biden e a sua equipa estão a acompanhar de perto "os acontecimentos extraordinários" na Síria e que estão em contacto constante com os "contactos regionais".

Através da vice-primeira-ministra do Trabalho, Angela Rayner, Londres disse que queria "ver os civis e as infraestruturas protegidos porque demasiadas pessoas perderam as suas vidas".

"Precisamos de estabilidade nesta região", disse Rayner, acrescentando que se deve "encontrar uma solução política em que o governo atue no interesse do povo sírio", ao mesmo tempo que saudava a queda do regime de al-Assad.

"Espanha fará pressão, com todos os países mais envolvidos na região (...), para que qualquer que seja a solução para o futuro da Síria, seja pacífica", afirmou por sua vez o ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, José Manuel Albares, na TVE.

"Isso é o que a Espanha sempre quis para a Síria, que fosse pacificada, que beneficiasse o povo sírio, que trouxesse uma forma de nova estabilidade ao Médio Oriente", acrescentou.

Por seu lado, a Turquia, que tem apoiado certos grupos rebeldes, insta os intervenientes internacionais e regionais a garantirem uma "transição suave" após o "colapso" do regime sírio, declarou o chefe da diplomacia turca, Hakan Fidan, no Qatar.

O alto funcionário dos Emirados Árabes Unidos Anwar Gargash pediu aos sírios que "trabalhem juntos" para evitar o "caos", na primeira reação de um país árabe à queda de al-Assad.

Gargash recusou-se a confirmar ou negar relatos de que o Presidente sírio se refugiou nos Emirados Árabes Unidos. "É, em última análise, uma nota de rodapé para a história", disse, quando questionado sobre o paradeiro de Bashar al-Assad. "Não creio que seja importante", acrescentou.

Já secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pede calma e que se evite violência na Síria, após a queda do regime de Bashar al-Assad, que vê como uma "oportunidade histórica para construir um futuro estável e pacífico".

"Há muito trabalho a fazer para assegurar uma transição política ordenada para instituições renovadas. Reitero o meu apelo para a calma e para que se evite a violência neste momento sensível, protegendo simultaneamente os direitos de todos os sírios, sem distinção", referiu Guterres numa nota partilhada no portal das Nações Unidas.

Bashar al-Assad está em Moscovo

O Presidente deposto da Síria, Bashar Al-Assad, está em Moscovo. A Rússia concedeu asilo por razões humanitárias ao líder sírio e a sua família, avançaram este domingo as agências de notícias russas, citadas pela AFP.

"Assad e os membros da sua família chegaram a Moscovo. A Rússia, por razões humanitárias decidiu conceder-lhes asilo", referiu a mesma fonte, segundo a TASS e a Ria Novosti.

Fonte do Kremlin citada pelas agências russas indicam que funcionários russos estão em contacto com representantes da oposição síria, que terão garantido a segurança das bases e diplomatas russos.

[notícia atualizada às 19h30 para acrescentar mais detalhes]

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