Siga-nos no Whatsapp
A+ / A-

“Não conseguimos dormir a noite toda”. Comunidade cristã na Síria teme pelo futuro

10 dez, 2024 - 17:00 • Ângela Roque , Miguel Marques Ribeiro

O padre Firas Lutfi não sabe quando será possível celebrar de novo Missa, nem conseguiu ainda confirmar se os cristãos da sua comunidade ficaram ou fugiram do país. E pede à comunidade internacional que permaneça atenta.

A+ / A-
Padre_Lufti_damasco1
Oiça o áudio

Nos últimos dias viveu-se “o caos” em Damasco, diz à Renascença frei Firas Lutfi, guardião da comunidade franciscana na capital síria. “As pessoas estão com medo. Não conseguimos dormir a noite toda”.

O pároco dos católicos latinos em Damasco admite que a minoria cristã receia pelo futuro e que há muito medo face à incerteza que se vive no país.

“Os cristãos estão preocupados com o seu futuro. Precisam de ser confortados, não só com palavras mas com atos, que lhes garantam a sua segurança e das suas casas, e uma atmosfera de liberdade para todos, em especial para os jovens e para as raparigas”, sublinha frei Lutfi.

A agitação dos últimos dias, com a progressão dos rebeldes até Damasco e a queda de Bashar al-Assad, não permitiu celebrar a missa dominical e a igreja permanece encerrada.

OuvirPausa
Aguardo que seja possível abrir a igreja e chamar todos para se juntarem na celebração da missa

“Infelizmente não celebrámos a Missa em público, no domingo. Na igreja estava só eu e os meus irmãos frades. Aguardo que seja possível abrir a igreja e chamar todos para se juntarem na celebração da eucaristia. Mas, por agora não. Nem sabemos ao certo quem ficou no bairro, nem quem está com o exército, para evitar problemas maiores”, conta.

Natural da Síria, o franciscano espera que quem tomou o poder cumpra as promessas de estabilidade e de respeito das minorias, mas há algumas dúvidas de que tal venha a acontecer.

“O nosso receio é que os militares não cumpram o que disseram, de que vão respeitar as pessoas, em especial a minoria cristã e que têm um plano político para governar a Síria e tomar conta das coisas”, afirma.

E deixa um apelo, para que não se abandone os cristãos sírios. “A minha esperança é que a comunidade internacional esteja ao lado deles e ajude (quem tomou o poder) a manter as promessas, conduzindo a Síria no bom caminho da segurança e da estabilidade", sublinha.

Frei Lutfi admite que o contexto já é mais favorável. “A situação está agora mais calma, mas temos de ter a certeza de que as coisas estão a ir pelo o caminho certo”.

OuvirPausa
A minha esperança é que a comunidade internacional esteja ao lado deles e os ajudem a manter as promessas

Nestas declarações feitas a partir de Damasco - cidade conquistada este domingo pelos rebeldes , que puseram fim a mais de 50 anos da ditadura de Bashar al-Assad -, frei Lutfi lembra ainda que a economia da Síria está paralisada, depois de quase 14 anos de guerra.

“O país está em ruínas, tal como a economia. É dificil sobretudo para os mais pobres. Por isso, a minha esperança, como sírio e como franciscano, é que a comunidade internacional tenha presente e não se esqueça deste belo país, que é um mosaico cultural e religioso. Que tenhamos paz e prosperidade, é o que desejo”.

E, agradecendo o contacto da Renascença, lembra: “o nosso povo precisa de tudo. De seguranca, em primeiro lugar, mas toda a ajuda é bem vinda. Obrigada por se interessarem pelo povo sírio e em particular pelos cristãos”.

O franciscano espera que a revolta não dê lugar a um novo regime ditatorial, mas que ajude o país a prosperar. "Como o povo sírio merece", conclui.

Saiba Mais
Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • António J G Costa
    10 dez, 2024 Cacém 21:06
    Todavia, logo a seguir à tomada de Aleppo pelas forças dos "terroristas moderados" do HTS cristãos em fuga começaram a chegar a Homs. Jacques Mourad arcebispo de Homs lamentava-se da chegada de pessoas com fome, frio e sede depois de 25 horas de estrada. "Querem acabar com a grande história dos cristãos de Aleppo", denúncia.

Destaques V+