11 dez, 2024 - 17:17 • Pedro Mesquita
O padre Firas Lutfi não sabe quando será possível (...)
O Papa manifestou, esta quarta-feira, a esperança de que as diversas religiões na Síria "possam caminhar juntas com amizade e respeito recíprocos". É essa, precisamente, a grande preocupação manifestada à Renascença, a partir da Síria, pela Irmã Maria Lúcia Ferreira (também conhecida como irmã Myri), da Congregação das Monjas de Unidade de Antioquia.
Esta religiosa portuguesa reside no Mosteiro de São Tiago Mutilado, na vila de Qara, a cerca de 90 km de Damasco, e conta-nos que por agora a situação está relativamente calma. Ainda assim, alerta, a minoria cristã está apreensiva. O regime de Bashar al-Assad caiu às mãos de rebeldes islamistas, e há o receio de que o futuro traga mais guerra ou perseguições religiosas: "Por agora, está tudo muito bem e há uma certa euforia, uma certa liberdade, porque as fronteiras estão todas abertas".
O problema, acrescenta, é a incerteza do futuro, "a liberdade que os cristãos vão ter para continuar a viver a sua vida, sem que ninguém os incomode".
Como está a viver este momento? O regime de Bashar al-Assad caiu, mas o futuro - com uma nova liderança - parece ser uma grande incógnita...
O problema é que, pronto, são fações islamistas e os cristãos têm medo, claro. A memória é muito recente da guerra, dos massacres, etc. Mas desta vez eles vieram de maneira diferente, a acalmar toda a gente (e a dizer) que nós somos o mesmo povo. Por agora está tudo bem. Mas quando vier um novo governo, isso é que não se saberá qual vai ser o lugar dos cristãos nisto tudo.
É esse o verdadeiro receio? Se vai haver, novamente, perseguições aos cristãos? Há o receio de que essas sejam palavras de circunstância?
Sim. Ainda agora estávamos a ouvir um bispo de Alepo, que dava uma entrevista e ele dizia mais ou menos a mesma coisa. Por agora, está tudo muito bem e há uma certa euforia, uma certa liberdade, porque as fronteiras estão todas abertas. E de repente o dólar desceu, de repente o poder de compra é maior, etc. Mas quando um novo governo estiver a ser estabelecido...isso, depois, não se sabe. (Não se sabe) a liberdade que os cristãos vão ter para continuar a viver a sua vida, sem que ninguém os incomode. Era o caso no antigo regime. Acho que os cristãos tinham um lugar muito bom na sociedade, estavam muito bem integrados.
Apesar de ser uma ditadura, os cristãos não eram perseguidos...
Claro, não se podia dizer tudo, mas já havia lugar para todos igualmente. Olhe, não se podia dizer tudo, havia limites, mas a vida não era má. E a Síria era um belo país. Antes da guerra era um belíssimo país.
E agora o futuro é uma incerteza...
Uma incerteza total. Não se sabe o que vai acontecer, se vai haver guerra entre as várias fações.
As pessoas para já - como me diz - estão a reagir com algum entusiasmo. Nota-se o regresso das pessoas a casa ou há, por exemplo entre os cristãos, aqueles que pensam em abandonar o país?
Isso toda a gente pensava por causa da pobreza, porque as pessoas estavam estranguladas, antes da queda do regime. Agora, pronto, os cristãos tiveram muito medo, muito medo, e muitos saíram das suas casas. mas depois, quando os rebeldes foram entrando nas vilas a acalmar toda a gente e a dizer “está tudo bem”, eles voltaram e festejaram. Mas agora há alguns que estão novamente a sair porque têm medo, não sabem o futuro.