16 dez, 2024 - 16:17 • Marta Pedreira Mixão com Reuters
No dia 8 de dezembro de 2024, os rebeldes sírios tomaram Damasco, o que levou o Presidente Sírio, Bashar al-Assad, a abandonar o país em direção à Rússia, pondo fim a mais de 50 anos de domínio da família Assad.
O antigo Presidente sírio tinha assumido o poder há 24 anos, ao suceder o pai.
A guerra civil síria começou a 15 de março de 2011, quando a repressão de protestos populares espoletou uma revolta armada.
Mais de 13 anos depois do seu início, o conflito que parecia estar esquecido levou à queda do regime, quando as forças rebeldes avançaram sobre Damasco.
Agora, o primeiro-ministro interino, Mohammed al-Bashir, fala das prioridades para esta nova era: "segurança e estabilidade em todas as cidades sírias", promover o regresso dos "refugiados sírios que estão espalhados pelo mundo" e "planeamento estratégico" para “acabar a precariedade de serviços essenciais como eletricidade, comida e água". Não é possível, porém, ignorar o impacto de mais de 13 anos de uma devastadora guerra civil.
O número final de mortos é difícil de contabilizar.
As Nações Unidas estimaram no ano passado que mais de 300 mil civis perderam a vida até ao final de março de 2021 - data em que a guerra civil assinalava os 10 anos -, o que representa uma média de 84 vítimas mortais por dia.
Nos primeiros 10 anos de guerra, estima-se que mais de 250 mil combatentes tenham sido mortos.
A Rede Síria para os Direitos Humanos (RSDH) - um grupo independente de defesa dos direitos humanos - estima que o número de mortos seja ligeiramente inferior, registando 231.495 mortes de civis entre março de 2011 e junho de 2024.
Das vítimas, cerca de 30 mil seriam crianças, 76% das quais mortas pelas forças governamentais.
Presidente deposto emitiu a primeira declaração de(...)
Segundo a Amnistia Internacional, num relatório de 2017, no complexo prisional de Sednaya, conhecido como o "Matadouro de Assad", eram realizados enforcamentos e execuções em massa.
A Amnistia afirma que as forças de segurança sírias submeteram os seus cidadãos a detenções, desaparecimentos forçados e tortura, nomeadamente violência sexual e defende que o extermínio de detidos em Sednaya fazia "parte de um ataque generalizado e sistemático contra civis que constitui um crime contra a humanidade".
De acordo com o RSDH, até agosto deste ano, 15.102 pessoas foram torturadas até à morte, tendo mais de 98% sido mortas pelas forças governamentais.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) considerou que a guerra civil gerou uma das maiores - e mais longas - crises de deslocados do mundo, afetando mais de 12 milhões de pessoas.
A situação foi agravada depois de a Síria ter sido afetada por um grande terramoto no ano passado, que destruiu casas e infraestruturas vitais.
Cerca de cinco milhões de pessoas fugiram para o Líbano, Turquia e Jordânia - este último foi o país que recebeu o maior número de deslocados de guerra, com cerca de 3,8 milhões de sírios registados como refugiados.
Mais 1,9 milhões de pessoas estão registadas como refugiados no Egito, Iraque, Jordânia e Líbano e 41 mil no Norte de África.
Os sírios também têm sido forçados a deslocar-se dentro do seu país, cerca de 7,2 milhões de pessoas fugiram das suas casas, de acordo com o Centro de Monitorização de Deslocações Internas, que faz parte do Conselho Norueguês para os Refugiados.
Com o avanço dos rebeldes sobre as principais cidades, entre 28 de novembro e 8 de dezembro, cerca de 1 milhão de pessoas - na sua maioria mulheres e crianças - foram forçadas a abandonar as suas casas, segundo a ONU.
A guerra destruiu redes económicas, infraestruturas e obrigou as pessoas a abandonar as suas casas, escolas e empregos.
De acordo com o Banco Mundial, entre 2010 e 2020, o produto interno bruto da Síria caiu para mais de metade. Mas o impacto desta guerra não se limitou nas fronteiras sírias e o conflito reduziu as taxas médias anuais de crescimento do PIB do Iraque, Jordânia e no Líbano.
Apesar de, num período anterior à guerra, a pobreza extrema ser praticamente inexistente na Síria, atualmente mais de uma pessoa em cada quatro vive em situação de pobreza extrema.
Segundo um relatório do Banco Mundial, mais de metade destas pessoas vivem em Alepo, Hama e Deir-ez-Zor.
Em Deir ez-Zor, 72% da população sobrevive com menos de 2,15 dólares por dia.
A guerra destruiu mais de 7.000 escolas, afetando a educação de cerca de 2 milhões de crianças.
A diretora-executiva da UNICEF, Catherine Russell, afirmou recentemente que "as condições humanitárias no país são terríveis, com milhões de crianças e famílias a enfrentarem privações extremas".
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), só 65% dos hospitais e 62% dos centros de cuidados de saúde primários estão a funcionar em pleno na Síria. Milhões de pessoas sem acesso a cuidados de saúde.
Depois de mais de 13 anos de conflito, o setor da saúde também enfrenta uma enorme falta de profissionais.
Quase mil profissionais de saúde morreram na Síria entre 2011 e março de 2024, segundo a Physicians for Human Rights.
De acordo com a Comissão Europeia, na Síria, 16,7 milhões de pessoas precisam de assistência e apenas 27,3% do Plano de Resposta Humanitária das Nações Unidas deste ano foi financiado.
"Metade das instalações de saúde não estão a funcionar, o que afeta 1,5 milhões de pessoas, e mais de 1 milhão de crianças enfrentam o abandono escolar devido aos encerramentos contínuos".