Siga-nos no Whatsapp
A+ / A-

​Exclusivo Renascença

Joaquim Chissano defende reformas em Moçambique quando Chapo tomar posse

26 dez, 2024 - 19:35 • Pedro Mesquita

Em entrevista à Renascença, o antigo presidente Joaquim Chissano reage, com preocupação, ao atual momento, que compara aos tempos da guerra: “Não quer dizer que, na guerra passada, não tenha havido coisas gravíssimas também (...) houve muitas mortes também, talvez mais do que agora. Mas existiu, finalmente, a aceitação de um diálogo que surtiu efeito”.

A+ / A-

O homem que liderou Moçambique ao longo de 19 anos admite que “a situação em Maputo é grave”.

Joaquim Chissano diz que se tem assistido a “muitas destruições na economia, destruição de pertences de privados e de pessoas humildes...e há vidas humanas que se perdem devido a esta agitação”.

Questionado, pela Renascença, sobre a melhor formula de resolver esta crise, o antigo Presidente dá uma resposta pragmática: “Agora, não estou a sentir a vontade de haver um diálogo, porque não se pode chegar à correção de problemas no passado com uma estrutura governativa que está a cessar."

Joaquim Chissano defende que deve existir um diálogo para fazer as “reformas necessárias”, para recriar a confiança na governação...,mas só depois de Chapo tomar posse: “É preciso chegar à tomada de posse, porque o Conselho Constitucional já proclamou um Presidente. Agora, o Chapo tem que tomar posse e, então, começarmos ali a olhar para o futuro...incluindo as reformas que são necessárias para que se recrie uma confiança na governação”.

“Penso que a mudança que conta, realmente, não é a mudança do partido...é a mudança de como se trabalha”, remata Chissano.


Como olha para a situação que se vive, neste momento, em Moçambique, o senhor que foi Presidente durante 19 anos?

A situação em Maputo é grave porque há muitas destruições da economia, de pertences de privados e de pessoas humildes, e há vidas humanas que se perdem devido a esta agitação.

A situação é crítica, por exemplo, no hospital central de Maputo. Tanto quanto sei, os doentes muitas vezes não conseguem lá chegar, os médicos também não e já há falta sangue (para as intervenções cirúrgicas)...

Sim, porque as pessoas são impedidas de circular. Até já queimaram uma ambulância. Eu vi uma ambulância a ser queimada. E já libertaram reclusos libertos. Houve tiroteios e morreu gente.

Ao longo destes (quase) 50 anos, desde a Independência - e já houve guerra, recordo - este é o momento mais crítico de que se lembra?

Bom, é para as pessoas que estão são visadas, para a população que sofre. Mas não quer dizer que, na guerra passada, não tenha havido coisas gravíssimas também. Basta lembrar que até a ponte Dona Ana foi destruída e as linhas férreas foram destruídas. E houve muitas mortes também, talvez mais do que agora. Mas existiu, finalmente, a aceitação de um diálogo que surtiu efeito. Agora não estou a sentir a vontade de haver um diálogo, porque não se pode chegar à correção de problemas no passado com uma estrutura governativa que está a cessar.

Esta violência acontece numa altura em que o Presidente Nyusi está de saída e vai entrar um novo Presidente - Daniel Chapo - que é contestado. Desta vez, como é que se pode resolver esta situação?

Não vejo vários caminhos. É preciso chegar à tomada de posse, porque o Conselho Constitucional já proclamou um Presidente. Agora, o Chapo tem que tomar posse e, então, começarmos ali a olhar para o futuro, incluindo as reformas que são necessárias para que se recrie uma confiança na governação. Ele já disse que pretende dialogar com todos para fazer coisas novas. Em todos os partidos há talentos, que podem ter ideias boas, e que combinadas podem dar uma mudança que se pretende, não é?

O senhor fala de uma mudança, mas o facto é que desde a independência, pode ter havido mudanças de políticas, mas esteve sempre o mesmo partido no poder: a Frelimo. Isso não pode ser também a causa desta situação?

Eu penso que as mudanças que contam, realmente, não é a mudança do partido. É a mudança de como se trabalha.

Mas não seria pacificador para o país e para o futuro da democracia que houvesse uma alternância democrática?

A alternância democrática faz-se como, afinal? Faz-se através das eleições. Portanto, o que é preciso aqui é criar as condições para que as eleições ocorram, realmente, como é desejável, para serem credíveis, etc. Isso é que é preciso corrigir. Porque, se não são credíveis, é porque há qualquer coisa que não está bem, na legislação ou nas formas de trabalho.

Considera que estas eleições e o resultado destas eleições, são credíveis?

Não quero ser tribunal... Temos um Conselho Constitucional e creio que é preciso respeitar as instituições. Agora, nessa discussão que pode haver (depois da tomada de posse de Daniel Chapo), num trabalho sério, creio que tem que se ver como é que o Conselho Constitucional deve ser constituído e como deve trabalhar. Porque este Conselho Constitucional resultou de várias discussões entre os partidos que estavam no Parlamento. Foi desse debate que saiu o Conselho Constitucional, tal como está, assim como a Comissão Nacional de Eleições. Então, se é preciso rever, é preciso rever isso tudo para que resultem órgãos mais competentes e mais credíveis. Porque são eles, só são esses órgãos que devem dizer se as eleições foram corretas ou não.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Abel guilaze
    29 dez, 2024 Chimoio 14:29
    Boa tarde É uma entrevista a homem ex presidente. Que muito respeito, e junto a minha palavra a necessidade de reformas profundas. Sobretudo na função pública. A Reforma eleitoral é mas simples de corigir nós já tivemos orgãons que se pretendiam profissionais por motivos politicos sobejamente conhessidos por sua excelência Joaquim Chissano, estamos hoje neste modelo que só nos traz desabores Mas penso que se os Moçambicanos di facto comprometidos com a Paz podem encontrar caminhos celeres para o comforto da nova Lei eleitoral que vai ao encontro dos anseios dos Moçambicanos. Mas não disse VIVA MOÇAMBIQUE E ACIMA DE TUDO VIVA A PAZ.

Destaques V+