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Guerra na Ucrânia

Era do gás russo na Europa acaba com fim de fornecimento através da Ucrânia

31 dez, 2024 - 19:40 • João Pedro Quesado com Reuters

Gazprom não reservou fluxo no gasoduto para 1 de janeiro. Moldova vai ter que reduzir consumo de gás em cerca de um terço.

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O fornecimento de gás russo para a Europa através da Ucrânia, que já foi dominante e durou décadas, deve terminar no dia de Ano Novo de 2025, com o fim de um contrato entre os dois países em guerra que rendeu milhares de milhões a Moscovo em receitas de gás e a Kiev em taxas de trânsito.

O fechamento da rota de gás mais antiga da Rússia para a Europa põe fim a uma década de relações tensas, desencadeadas pela invasão da Crimeia pela Rússia em 2014.

A União Europeia (UE) redobrou os esforços para reduzir a dependência da energia russa após o início da guerra na Ucrânia em 2022, procurando fontes alternativas de fornecimento de gás natural.

O gás natural liquefeito (GNL) do Qatar e dos Estados Unidos ajudou a UE a encontrar uma alternativa. O fornecimento através de gasodutos surgiu da Noruega.

A mudança ficou clara em 2023, quando a exportadora de gás estatal russa Gazprom registrou um prejuízo de 7 mil milhões de dólares, o primeiro desde 1999, apesar dos esforços para aumentar as exportações para o novo comprador, a China.

Os restantes compradores restantes de gás russo via Ucrânia, como a Eslováquia e a Áustria, também mudaram para fornecimentos alternativos.

Um porta-voz do Ministério da Energia da Áustria disse na terça-feira que, devido às compras feitas através da Itália e da Alemanha e ao preenchimento do armazenamento, o fornecimento aos consumidores está garantido.

A Eslováquia também não correrá o risco de escassez - embora agora enfrente 177 milhões de euros extra em taxas para rotas alternativas, segundo o Ministério da Economia do país.

Uma porta-voz da Comissão Europeia afirmou que os preparativos da UE incluíram medidas de eficiência energética, desenvolvimento de energia renovável e um sistema de gás flexível.

"A infraestrutura de gás europeia é flexível o suficiente para fornecer gás de origem não-russa para a Europa Central e Oriental através de rotas alternativas. Ela foi reforçada com novas capacidades significativas de importação de GNL desde 2022", disse Anna-Kaisa Itkonen.

Impacto mínimo no mercado

Os analistas preveem um impacto mínimo no mercado devido à paralisação, que foi confirmada esta terça-feira: os dados da operadora de trânsito de gás da Ucrânia mostraram que a Rússia não solicitou, até às 17h, nenhum fluxo de gás para 1 de janeiro através do gasoduto ucraniano para a Europa.

Os especialistas dizem que é improvável que o fim do acordo cause uma repetição do aumento do preço do gás na UE em 2022, já que os volumes restantes são relativamente pequenos.

O mercado de gás mostrou pouca reação na terça-feira, com os preços de referência europeus do gás a fechar em 48,50 euros por megawatt-hora, uma alta apenas marginal no dia.

Apesar do progresso da UE na substituição do fornecimento russo através Ucrânia, a Europa sentiu o impacto após o início da guerra, com custos de energia mais altos a afetar sua competitividade industrial do Velho Continente em relação aos Estados Unidos e à China.

Isso contribuiu para uma grande desaceleração económica, um aumento na inflação e agravou a crise do custo de vida.

A Ucrânia agora enfrenta uma perda de cerca de 800 milhões de dólares por ano em taxas de trânsito da Rússia, enquanto a Gazprom perderá cerca de 5 mil milhões de dólares em vendas de gás.

A Moldova, que já foi parte da União Soviética, está entre os países mais afetados. O país anunciou precisar de introduzir medidas para reduzir o uso de gás em cerca de um terço.

Rotas de meio século fechadas

A Rússia e a antiga União Soviética passaram meio século a construindo uma grande fatia no mercado europeu de gás, que atingiu um máximo de cerca de 35%, mas a guerra na Ucrânia praticamente destruiu esse negócio para a Gazprom.

O gasoduto Yamal-Europa, através da Bielorrússia, também foi fechado, e a rota Nord Stream através do Mar Báltico até a Alemanha foi alvo de sabotagem em 2022.

Combinadas, as várias rotas entregaram um recorde de 201 mil milhões de metros cúbicos de gás para a Europa em 2018.

A Rússia enviou cerca de 15 mil milhões de metros cúbicos de gás através da Ucrânia em 2023, abaixo dos 65 mil milhões de metros cúbicos quando o último contrato de cinco anos começou, em 2020.

A única rota de gás russa ainda em operação é a TurkStream, que cruza o Mar Negro até a Turquia. A TurkStream tem duas linhas: uma para o mercado interno turco e a outra que abastece destinatários da Europa Central, incluindo Hungria e Sérvia.

Comentários
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  • Mais vale tarde
    02 jan, 2025 Que nunca 08:29
    Só peca por tardio: esse corte devia ter acontecido mal o primeiro russo cruzou a fronteira. Mas claro, Merkels e companhia deixaram a Europa dependente dos combustíveis russos e aí não era possivel faze-lo. Mas mais vale tarde, que nunca. E as tretas de Ficos e Eslováquia não passam de tentativas desesperadas de meter medo, aliás completamente falhadas.
  • Menos 5000 Milhões
    01 jan, 2025 Para serem gastos em armas contra a Ucrânia 12:43
    A Rússia não cortou gás nenhum: foi a Ucrânia que lhe fechou a porta. A Rússia não tem economia tão sólida assim para deitar pela janela 5 000 Milhões de dólares. O Ocidente? Sobreviverá, a Rússia que não se preocupe. Isto estava previsto há muito.
  • Manuel Fernandes
    01 jan, 2025 Figueira da Foz 03:27
    Factos: 1- Um dia antes do fim da proibição do trânsito do gás pela Ucrânia: os preços do gás na Europa subiram ao máximo de 2024. 2- Os preços do gás na Europa cresceram ao longo de Dezembro, quando foi anunciado que o trânsito do gás russo através da Ucrânia seria interrompido a partir de 1 de Janeiro: em apenas algumas semanas, os preços dos combustíveis aumentaram 19%. 3- O primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, apelou ao Conselho da UE para apoio na continuação do trânsito do gás pela Ucrânia e fundamentou o apelo com uma avaliação de que, nos próximos dois anos, os países da UE (ou seja, os CIDADÃOS europeus, onde se incluem os portugueses) pagarão 120 MIL MILHÕES de Euros ADICIONAIS por gás e eletricidade se o fornecimento do gás russo for interrompido. No entanto, Bruxelas não respondeu ao apelo do chefe do governo eslovaco. 4- A decisão de não renovar o acordo de transito de gás russo (por gasoduto) que atravessa o território ucraniano e é distribuído aos países da UE foi tomada pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. 5- Este contrato de trânsito de gás (em gasoduto), que Volodymyr Zelensky impediu a renovação, permitiu que a Ucrânia ganhasse cerca de US$ 700 MILHÕES todos os anos (mas Ucrânia não precisa de ganhar dinheiro, porque NÓS - contribuintes europeus - pagamos-lhe tudo, desde armas a salários, reformas e pensões). 6- Já em 2025, todos nós vamos sentir (e pagar) as consequências dos aumentos dos preços do gás e da energia na União Europeia.
  • Bocejos
    31 dez, 2024 Ucrânia 23:54
    A Hungria II, perdão, a Eslováquia já começou com ameaças se a Ucrânia não deixar passar o gás, mas parece que levou com o dedo do meio. Um País que enfrenta há quase 3 anos a Rússia e não dá mostra de medo ou desistência, encara ameaças de fantoches eslovacos com um bocejo ...
  • Não precisamos deles
    31 dez, 2024 Europa 21:26
    800 milhões não são 5000 milhões, quer dizer, a Ucrânia perde, mas a Rússia perde muito mais, e o Inverno vai a meio e as reservas de gás aguentam-se com outros fornecedores. E cada ano que passa, as renováveis estão mais ativas e a eficiência energética das novas construções é maior. A Rússia pode meter as chantagens habituais sabe onde que por aqui Europa, já não assusta.

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