O novo presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) afirmou que a retoma económica não elimina automaticamente as injustiças geradas pela crise e defende que os resultados do crescimento devem ser repartidos de "forma equitativa".
Pedro Vaz Patto, que sucede no cargo a Alfredo Bruto da Costa, disse à agência Lusa que o combate à pobreza é uma missão da Comissão Nacional Justiça e Paz e tem sido exortada pelo Papa. "Os apelos de Francisco são particularmente interpelantes nesse sentido" e "nós não podemos deixar que a crise económica acentue a pobreza e a desigualdade", afirmou.
Os pobres, defende, não podem ser as vítimas políticas da crise: "Aqueles que mais sofrem, aqueles que já estão em situação mais difícil, não podem sofrer com políticas porque não são responsáveis".
"Eu não discuto que a austeridade seja necessária, não pode é fechar-se os olhos aos critérios de justiça na repartição dos sacrifícios", que não pode acentuar injustiças, sustentou.
Desemprego, pobreza e direitos humanos
Pedro Vaz Patto observou ainda que é preciso ter atenção aos casos de pobreza envergonhada, uma realidade que nem sempre é tida em conta.
"Além da privação material, é também a auto-estima das pessoas, a sua imagem social, que muitas vezes é posta em causa", disse.
Comentou ainda, a este propósito, que a "questão do desemprego não tem a ver só com a privação de rendimentos, mas também com a sensação que as pessoas têm de inutilidade, de não poderem dar o seu contributo para a vida social".
Sobre o anunciado crescimento económico, o presidente da comissão afirmou que não se pode pensar que "vem eliminar automaticamente as injustiças" e "sarar as feridas" da sociedade.
Por outro lado, defendeu, "é necessário estar atento a que os fluxos desse crescimento sejam repartidos de uma forma justa e de uma forma equitativa".
Além do fenómeno da pobreza, a actividade da CNJP está também atenta à "realidade nacional e internacional", tendo como objectivo "fazer um juízo à luz do evangelho e da doutrina social da Igreja sobre essa realidade".
"Temos de responder aos desafios que nos lança o Papa Francisco e que têm a ver, de modo particular, com a inclusão social dos pobres", em que estão incluídas todas as pessoas fragilizadas, como podem ser os doentes e as vítimas de afronta aos direitos humanos.
Lembrou o alerta recente do Papa sobre as vítimas do tráfico de pessoas, explicando que é a este tipo de desafios que a Comissão Nacional Justiça e Paz procura responder.
Vaz Patto defendeu que, para combater o tráfico humano, é preciso "reforçar a cooperação internacional", mas também que os cidadãos denunciem estes casos.