O secretário-geral da Rede de Judiarias de Portugal (RJP) classifica como “um momento histórico” a aprovação do decreto-lei de concessão da nacionalidade portuguesa a descendentes de judeus sefarditas expulsos de Portugal a partir do século XV.
“Do meu ponto de vista, este é um momento histórico que vem dignificar o nosso país pelo reconhecimento de um direito que era devido aos descendentes dos judeus portugueses”, afirmou Jorge Patrão, em declarações à agência Lusa.
O Governo aprovou na quinta-feira um decreto-lei que regulamenta a naturalização de descendentes de judeus sefarditas expulsos de Portugal depois do século XV, podendo este direito ser exercido por tempo indeterminado.
Jorge Patrão considerou que, tal como aconteceu em 1996 com a votação simbólica da revogação do decreto de expulsão dos judeus de Portugal (datado de 1496), esta é mais uma forma de “reparar um erro” e acrescentou que sente “orgulho” pela decisão.
“Num tempo em que se verificam novamente sinais de anti-semitismo, considero que Portugal vem dar um sinal muito importante e que se afirma como um verdadeiro exemplo do que deve ser o bom relacionamento e o diálogo entre todas as culturas e religiões”, vincou.
O secretário-geral da RJP sublinhou que o mais importante desta regulamentação “é o seu simbolismo”, apesar de acreditar que haverá um grande número de pedidos de nacionalidade portuguesa.
Àquela entidade chegou já informação de “pessoas de todo o mundo que vêem com interesse esta possibilidade”.
“Ainda na quinta-feira tive um contacto de um israelita de origem sefardita que quer vir produzir trigo para o Alentejo, que quer fixar residência na cidade do Porto e que, muito provavelmente, também irá fazer uso deste direito que agora lhe é concedido”, testemunhou.
De acordo com o dirigente da Rede de Judiarias, estima-se que haja 15 milhões de judeus em todo o mundo, dos quais 20% terão origem sefardita, ou seja, cujos ancestrais eram originários da Península Ibérica.
A Rede foi criada em 2011 e tem sede em Belmonte, vila do distrito de Castelo Branco onde se encontra uma das mais antigas comunidades judaicas do país.
Actualmente integram esta associação cinco regiões de turismo, 28 municípios portugueses e as comunidades judaicas de Belmonte e Lisboa.
A lei da nacionalidade foi alterada em Abril do ano passado pelo parlamento português, por unanimidade, para que os descendentes de judeus sefarditas expulsos de Portugal pudessem ter a nacionalidade portuguesa, por proposta do PS e do CDS-PP, mas essa alteração estava por regulamentar.