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"Ergue-te" ajuda prostitutas. Tudo começa com um chá que pode mudar vidas

02 mar, 2015 - 10:57 • Liliana Carona

As Irmãs Adoradoras saem todos os dias no "giro". Na sua unidade móvel percorrem as ruas, estradas, bares, pensões, propondo uma conversa que adivinha um futuro diferente.

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"Mulheres da rua", "mulheres da má vida", "prostitutas". As expressões são variadas, mas por detrás de cada rosto há uma vida que muitas vezes não teve opção. Mas as Irmãs Adoradoras acreditam que o destino pode ser mudado e em 2010 criaram o projecto "Ergue-te", em Coimbra.

Saem em "giros" pelas ruas, estradas, bares, pensões, propondo uma conversa que adivinha um futuro diferente. Já estenderam a mão a mais de 1.200 mulheres e há seis casos de sucesso.

O primeiro contacto das irmãs com as mulheres em contexto de prostituição começa com um chá e uma fatia de bolo dentro de uma carrinha com seis lugares, um espaço tipo salinha.

Saem todas as noites numa unidade móvel, com os vidros escurecidos, comparticipada pela Segurança social, que foi completamente adaptada. Pequenas gavetas guardam os ingredientes para o lanche e o material para a prevenção.

"Este projecto surge para dar resposta a uma necessidade no distrito, mas também no âmbito do carisma das Irmãs Adoradoras. Elas nasceram no século XIX, em Espanha, com uma mulher que hoje é a Santa Maria Micaela e fundou esta congregação para dar resposta a mulheres em contexto de prostituição", explica à Renascença a directora técnica do "Ergue-te", Maria Martinha, de 39 anos.

Antes do arranque da viatura para mais um "giro", somos convidados a sair. Não podemos gravar. "Existe uma relação de confidencialidade, não mostramos os rostos das pessoas e se as identificássemos, a sociedade é tão cruel que elas ficariam rotuladas 'ad eternum'. Há este pacto com elas".

"Reorganizar a vida toda"
O acordo não permite às Irmãs Adoradoras identificar quem quer que seja, mas na Avenida Fernão Magalhães, uma das ruas de Coimbra onde a prática da prostituição é mais comum, todas as mulheres conhecem a carrinha.

Só uma aceitou falar com a Renascença. Para esta mulher de 28 anos, o projecto "é uma óptima ideia". Assim, as pessoas têm "uma solução, uma alternativa e podem construir um futuro diferente. É bom que existem meios e pessoas para que todos possamos viver melhor, se tiverem boas intenções, se forem dinâmicos e simpáticos, terão toda a facilidade em alcançar os objectivos", argumenta a jovem que apesar de nunca ter recorrido aos serviços do "Ergue-te", conhece o trabalho da instituição.

As Irmãs Adoradoras acompanham, neste momento, mais de cem mulheres e fazem um balanço positivo. "O desafio é reorganizar a vida toda para que a pessoa consiga ter uma existência fora do contexto da prostituição. E já contamos seis mulheres que fizeram este percurso moroso e complexo".

Contudo, as histórias que Maria Martinha tem para contar deixam-na com um nó na garganta. "Já aconteceu pararmos e numa primeira abordagem a mulher pedir-nos ajuda para fugir, situações de risco, esperarmos pelo dia a seguir e não a encontrarmos mais. Isso também nos pesa", lamenta.

Maria Martinha luta por um novo olhar para estas mulheres. "Olhando o trajecto destas vidas, parece que todos os caminhos as levaram para ali: a educação e até a falta de oportunidades. O Papa confirma na mensagem quaresmal aquilo em que acreditamos, a cultura da indiferença e o cuidado ao outro, de sairmos e não termos medo”, lembra.

Na Avenida Fernão Magalhães, está o gabinete de apoio do projecto. É uma equipa de intervenção social com um gabinete de atendimento onde se presta apoio, social, psicológico, jurídico e de saúde.

Mas era preciso mais e em 2013 nasceu a primeira Estrutura de Emprego Protegido. "Quando se abre uma vaga de emprego há centenas de pessoas a concorrer e estas nossas mulheres vão em desvantagem. Começamos a perceber que precisavam de um tempo para se encaixar no mercado de trabalho em que os hábitos, rotinas laborais fossem trabalhados. Damos formação de costura, serigrafia", conta Maria Martinha.

"Estas mulheres são vítimas", sublinha a directora técnica da equipa, lembrando que se tiverem outras oportunidades "elas agarram-nas".

A renúncia quaresmal da diocese de Coimbra de 2014 foi dedicada ao projecto "Ergue-te". Quem quiser ajudar pode fazê-lo através do NIB 0035 0255002391555300 8.

Esta reportagem, emitida no último programa Princípio e Fim, faz parte de um ciclo de trabalhos da Renascença que partem do desafio do Papa Francisco na sua mensagem para esta Quaresma. A Renascença partiu à procura de cristãos que se dão aos outros em áreas habitualmente esquecidas ou periféricas, contrariando a "indiferença" denunciada por Francisco

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