A greve dos enfermeiros teve uma adesão de 80% no turno da noite, revela a presidente do Sindicato dos Enfermeiros, Guadalupe Simões. A sindicalista adianta que os efeitos da paralisação devem sentir-se com mais intensidade durante o dia.
“A adesão à greve no turno da noite foi de 80%, registando-se uma variação entre os 65% no Hospital de Faro e 90,6% no Hospital de São José. Agora, vamos iniciar o turno da manhã [8h00], no qual o impacto da greve deve ser mais sentido, uma vez que nos serviços que não funcionam 24 horas os enfermeiros não têm obrigatoriedade de comparecer”, afirma à Renascença.
Em causa estão, por exemplo, os serviços nos centros de saúde, nas consultas externas e nas cirurgias de ambulatório. “Nos blocos operatórios, só estarão a funcionar as salas de urgência e alguns exames complementares de diagnóstico”, adianta Guadalupe Simões.
Está prevista para a hora de almoço uma nova actualização sobre o nível de adesão. A greve começou às zero horas desta quinta-feira e vai decorrer até às 24h00 de sexta. Estão previstos serviços mínimos.
Enfermeiros reclamam valorização da carreira
Na origem da greve está a não valorização da carreira de enfermeiro, como justifica o sindicato. A Ordem dos Enfermeiros expressa solidariedade com o protesto e sublinha o elevado o número de enfermeiros recém-licenciados que continuam a sair do país.
Segundo o vice-presidente da Ordem, Bruno Noronha, cita os números do Observatório da Emigração: “o número de enfermeiros no Reino Unido subiu 500%.”
Bruno Noronha adianta que três quartos dos que se formam anualmente nas faculdades portuguesas solicitam emissão da declaração para poderem trabalhar no estrangeiro.
Na origem desta decisão estão duas questões fundamentais. “Além de termos poucos para satisfazer as necessidades dos cidadãos, ainda temos uma carreira que em tudo obstaculiza que estes profissionais se consigam desenvolver do ponto de vista técnico e científico.”
“Temos aqui duas dimensões com as quais concordamos plenamente, porque têm impacto directo e negativo nos cidadãos. É preciso fazer também esta interpretação mais lata das razões para a convocação de uma greve”, sublinha o vice-presidente da Ordem dos Enfermeiros.
Emigração é hipótese antes de terminada a licenciatura
A degradação das condições de trabalho assinalada pelos enfermeiros em greve e as dificuldades sentidas, nomeadamente, nos salários e na colocação, levam a que, ainda na faculdade, os aspirantes à profissão penem em emigrar.
Tiago Miranda é um desses exemplos. A dois anos de terminar a licenciatura em enfermagem, já pensa em fazer as malas. Começou a aprender inglês e Inglaterra poderá ser o destino.
Trata-se de uma escolha sem alternativa, alega o jovem estudante, para quem o país não dá condições de trabalho nem esperança no futuro.
“Tenho colegas que chegaram a receber propostas de emprego de 30 horas semanais por 200 euros. Penso que é bocado ridicularizar a profissão”, critica.
Dos 110 colegas que terminaram o curso em 2014, apenas seis conseguiram exercer enfermagem em Portugal e 40 são enfermeiros lá fora. “Se aqui em Portugal não der, lá fora serei reconhecido e valorizado”, garante o jovem estudante.