Uma colecção de 175 obras de arte, reunida pelo ex-Banco Português de Negócios (BPN), avaliada em três milhões de euros, vai ser vendida, dando prioridade ao Estado português, segundo as empresas responsáveis pelos activos do banco.
No conjunto, são maioritariamente obras - muitas de pintura e algumas de escultura - de artistas portugueses de várias gerações, todos consagrados, como Júlio Pomar, a artista Paula Rego (representada com três obras) e Maria Helena Vieira da Silva (com cinco), além de Mário Cesariny, Helena Almeida, José de Guimarães e Julião Sarmento.
Amadeo de Souza-Cardoso, Dacosta, Cruzeiro Seixas, Álvaro Lapa, Fernando Calhau, Eduardo Batarda, João Cutileiro, João Pedro Vale, Ana Vidigal e Nadir Afonso também estão no conjunto, e há artistas estrangeiros representados, como Antoni Tápies, Arpad Szénes, marido da pintora portuguesa Vieira da Silva, Peter Zimmermann e Sonia Delaunay.
Francisco Nogueira Leite, presidente da Parvalorem e da Parups, empresas criadas em 2010 para gerir os activos e recuperar os créditos do ex-BPN, nacionalizado em 2008, revelou que o processo vai avançar na sequência da inventariação das peças.
Estas peças constam dos Relatórios e Contas das duas sociedades, que detêm igualmente a colecção de 85 obras de Joan Miró (1893 -1983), avaliadas entre 35 e 53 milhões de euros, para as quais chegaram a estar marcados dois leilões pela Christie´s, em Londres, no ano passado, que acabaram por ser cancelados devido a processos jurídicos ainda em curso.
De acordo com os relatórios das empresas, depois de ter sido feita a inventariação, avançará, numa primeira instância, o contacto com o Estado para indagar do seu interesse em adquirir as obras. Questionado se o Estado tem legalmente direito de preferência na compra, Francisco Nogueira Leite esclareceu à agência Lusa que não, que foi uma decisão das empresas.
Relativamente às obras de artistas portugueses, "gostávamos que ficassem em Portugal e, para o efeito, a entidade competente, que é a Secretaria de Estado da Cultura, será quem poderá tentar, dentro das suas disponibilidades, ajudar a cumprir essa possibilidade".
"A Parups não faz política quer cultural quer de nenhuma natureza, pelo que apenas tem por função alienar activos de forma a amortizar os custos para os contribuintes do ex-BPN", sustentou, sublinhando que essa é a missão das empresas.
As obras herdadas do ex-BPN têm várias origens: foram compradas pelo próprio banco ou foram recebidas como dações, em forma de pagamentos.
Questionado sobre o destino das obras, caso o Estado não esteja interessado em comprar, Nogueira Leite indicou que serão vendidas em leilão, mas em Portugal, e não no estrangeiro, como era o destino dos Miró.