18 set, 2015 - 13:56 • Anabela Góis com Lusa
A Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, foi obrigada a recusar grávidas por não ter enfermeiros para assegurar o pós-parto (o chamado puerpério).
Ao que a Renascença apurou, nos últimos dias algumas mulheres tiveram de ficar na urgência depois de os bebés nascerem e duas delas foram mesmo transferidas para outro hospital da capital (o de Santa Maria).
A situação já se arrasta há algum tempo. O puerpério (serviço para onde vão as mulheres depois de terem os filhos) só tem 30 camas e não há enfermeiros para que se possa abrir mais.
No último fim-de-semana, a opção passou por internar as puérperas na própria urgência, onde não usufruem da devida privacidade, além de contribuírem para entupir este serviço.
Contactado pela Renascença, o Centro Hospitalar Lisboa Central diz que a falta de enfermeiros é uma situação pontual e garante já ter pedido autorização para contratar mais profissionais.
Recorda, por outro lado, que a lotação de 30 camas no puerpério resulta de uma decisão judicial tomada na sequência da providência cautelar interposta contra o encerramento da MAC.
“Não nos fecham por fora, mas estão a fechar-nos por dentro”, afirmou Ana Cristina Ranha, enfermeira e dirigente sindical na MAC, à agência Lusa, referindo-se à falta de profissionais que se acentuou nos últimos tempos e que deverá piorar em Outubro.
A situação está “caótica”, classificou. “Estamos a entrar em momento caos, com muita gente cheia de vontade de sair”.
A falta de pessoal não é de hoje, mas agravou-se com a transferência de profissionais dos hospitais para os centros de saúde, mediante os concursos internos entretanto abertos, explica.
Só da neonatalogia – o maior serviço da MAC, no qual trabalha esta sindicalista – vão sair 10 enfermeiros e as equipas que permanentemente deveriam ter 12 profissionais, agora só têm 10.
A enfermeira tem receio do impacto da redução que se aproxima: “Ou vamos assumir os cuidados com elementos a menos, correndo mais riscos, ou temos de fazer turnos extraordinários com maior frequência”.
Em qualquer das soluções, sublinhou, os profissionais irão sujeitar-se a mais situações de stress.
Também não abundam médicos
No caso dos médicos, o panorama também não é animador. Uma fonte da MAC disse à Lusa que é elevado o número de médicos com mais de 50 anos a fazer urgência, quando a lei os dispensa da urgência nocturna a partir desta idade.
A mesma fonte lamentou que os internos que ali são formados não tenham depois a possibilidade de continuar a trabalhar na MAC, impedindo a resolução, em parte, do problema de falta de pessoal clínico.
De acordo com a edição do “Correio da Manhã” desta sexta-feira, a MAC recusou na noite passada receber grávidas de risco “devido a falta de pessoal médico”.
Questionado pela Lusa, o Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC) confirmou que, “por doença súbita de um especialista que integrava a equipa de urgência na MAC, foi pedido ao Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) o não encaminhamento de doentes de risco para aquela unidade”.