14 out, 2015 - 09:51 • André Rodrigues , Isabel Pacheco
Pouco mais de 50 mil. Será este, segundo a Ordem dos Médicos, o número de utentes da Região Norte que está na iminência de ficar sem médico de família, em resultado da redução do número de vagas para especialistas em medicina geral e familiar.
Este ano, a Administração Regional de Saúde do Norte (ARS Norte) abriu 74 lugares para 102 candidatos. Há, por isso, 28 médicos que ficam automaticamente excluídos do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Um cenário que, nas contas de Miguel Guimarães, presidente da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos, deixa “pouco mais de 50 mil pessoas que, objectivamente, vão perder o seu médico de família, que fazia um seguimento regular há pelo menos seis meses. Em muitos casos, há um ano e meio". Com escassas alternativas ao SNS, restam dois caminhos aos médicos recém formados: "ou a emigração ou a actividade exclusiva no sector privado".
Sair do país é cada vez mais uma possibilidade
O número de médicos disponíveis para emigrar não pára de subir. No ano passado, a Ordem dos Médicos recebeu quase 400 pedidos de emissão do certificado internacional de competências, indispensável para os clínicos que pretendam exercer no estrangeiro.
Miguel Guimarães admite que, no final de 2015, o número de médicos emigrantes possa ser ainda maior do que em 2014. "Este ano, o número de pessoas que já pediu o certificado acompanha a tendência do ano passado. E até finais de Junho, o número de médicos que emigraram já ultrapassou as duas centenas".
Falta de médicos é mais grave no Baixo Tâmega
André Ribeiro é um dos 28 excluídos do concurso de admissão de novos médicos da ARS Norte.
Sem médico de família ficam, agora, mais de mil e setecentos utentes da Unidade de Saúde Familiar de Longara a Vida, em Felgueiras. "1793", precisa o clínico.
Uma instabilidade também vivida pelos outros 27 colegas, também eles excluídos do concurso. Todos médicos de família na zona Norte desde Abril. André Ribeiro faz contas ao futuro e dúvidas não lhe restam. “Terei mesmo que decidir entre a emigração e o exercício exclusivamente privado da medicina geral e familiar”.
A decisão ainda não está tomada. Mas André Ribeiro garante que não teria de ser assim. Até porque, os números não batem certo com a realidade do país. “Abriram mais vagas do que candidatos na ARS de Lisboa e Vale do Tejo e abriram menos vagas do que os médicos que terminaram a especialidade na região Norte”.
E conclui que isto se traduz "numa tentativa de empurrar os médicos que terminaram a especialidade no norte para a região de Lisboa. Não podemos tirar acessibilidade dos utentes do norte de forma a privilegiar utentes de outras zonas".
Enquanto isso, a falta de médicos continua a ser um problema por solucionar em vários concelhos a norte do país: “em Felgueiras, em Amarante, no Marco de Canaveses, em Ribeira de Pena, em Santa Marinha do Zêzere, concelho de Baião".