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Gente que “perdeu o chão”. Ou como a pobreza se intensificou em Portugal

16 out, 2015 - 11:26 • Henrique Cunha , Isabel Pacheco

"A grande lição que se pode tirar sobre este período de austeridade é que, claramente, nós tivemos um retrocesso das políticas sociais”, diz à Renascença o investigador Carlos Farinha Rodrigues.

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Durante o período de ajustamento financeiro, a taxa de risco de pobreza passou de 45,4% para 47,8% em Portugal e a resposta à crise terá acentuado o cenário. A tese é de Carlos Farinha Rodrigues, professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) e um dos coordenadores do trabalho da Fundação Francisco Manuel dos Santos que retrata as desigualdades sociais no país.

“A intensidade da pobreza subiu fortemente. Ou seja, nós não só temos mais pobres como os nossos pobres estão em pior situação, estão mais pobres. As políticas implementadas para responder à crise, em vez de tentar atenuar a situação dos mais pobres, acabaram por reforçar as suas condições de precaridade”, afirma à Renascença na véspera do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, que assinala no sábado.

“Quando analisamos a evolução dos rendimentos familiares de 2009 a 2013, constatamos que os rendimentos familiares de praticamente todos os grupos sociais regrediram, em média, 7%”. Mas há aqui uma disparidade: “Os rendimentos dos indivíduos mais ricos da sociedade – os 10% mais ricos – diminuíram cerca de 8% e os rendimentos das famílias mais pobres diminuíram 25%”.

O investigador justifica a discrepância com “um fortíssimo retrocesso das transferências sociais”, lembrando que o Rendimento Social de Inserção “passou de 400 mil beneficiários em 2009 para pouco mais de 200 mil em 2013”.

Os dados relativos a esse ano indicam “claramente que tivemos em Portugal um retrocesso das políticas sociais”, fazendo-nos “recuar praticamente para o início do século”, defende Carlos Farinha Rodrigues.

Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), uma em cada cinco pessoas é pobre em Portugal.

Teoria vs realidade

Apesar de os governantes afirmarem que a pobreza está a diminuir, no terreno a realidade parece ser outra.

“Os sinais de pobreza estão-se a acentuar. Contrariamente ao que os nossos responsáveis dizem, as situações de grande carência estão a crescer no nosso país”, afirma Manuel Carvas Guedes, responsável pela Sociedade de São Vicente de São Paulo do Porto, que apoia mais de 13 mil famílias todos os anos.

Manuel Carvas Guedes não acredita, contudo, “que em Portugal exista fome”, já que a solidariedade defende os mais necessitados. “O nosso povo tem uma enorme virtude: é solidário”, destaca.

Mas continuam a existir carências básicas: “Crianças que não tomam o seu leite quando deviam tomar, não comem fruta, não comem carne e outros alimentos que são essenciais para o seu desenvolvimento”.

Além disso, há "muitas situações de jovens a meio dos seus cursos superiores, em que os pais ficaram desempregados e não conseguem continuar a pagar os estudos”, acrescenta o responsável.

Gente que “perdeu o chão”

Mais acima, em Braga, uma junta de freguesia com o mesmo nome (S. Vicente) fornece roupa e alimentação a quem mais precisa.

Os bens chegam pela mão de quem pode dar que a quem mais precisa – gente que “perdeu o chão”, afirma a responsável pela Loja Social, onde “todos os dias entra gente nova”.

Manuela garante que “ a situação está pior. Bem pior”. Se em 2014 eram 40 as famílias apoiadas, hoje são mais de uma centena.

O autarca da freguesia, Jorge Pires, lembra que “há seis anos”, quando assumiu o cargo, “se pensasse criar uma loja destas parecia doido. Hoje, infelizmente, é uma necessidade porque as pessoas estão mais pobres”. Pobres e, muitas vezes, envergonhados, confirma a coordenadora dos voluntários.

A roupa que preenche as prateleiras está a substituir as t-shirts de Verão pelas calças de ganga e os agasalhos e roupa de cama”, dado que começa a chegar o Inverno.

Mas há também produtos de higiene e alimentos: “Tínhamos atum, mas já não temos. De resto, temos salsichas e azeite, arroz e massa”, descreve ainda Manuela.

Comentários
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  • Parabéns á RR
    21 out, 2015 Lis 22:04
    Parabéns á RR, por há 5 dias ter esta notícia "no ar", e permitir "dar voz" a quem não tem, e não tem como ter.
  • DR
    20 out, 2015 Covilha 12:29
    Estas são as políticas da coligação e PS, e bem, o povo português tem memória curta, uma vez que continua a votar nos mesmos!
  • E é isto que temos..
    19 out, 2015 Lx 10:06
    Notícia hoje do jormal Económico - NUNCA SE VENDERAM TANTOS PORSCHES EM PORTUGAL , em: http://economico.sapo.pt/noticias/nunca-se-venderam-tantos-porsche-em-portugal_232031.html. AINDA DIZEM QUE A AUSTERIDADE FOI PARA TODOS !!! Já em Junho, o jornal Expresso tinha emitido uma notícia que referia que a pobreza tinha aumentado para níveis do inicio de século, em: http://expresso.sapo.pt/sociedade/2015-06-05-Pobreza-aumentou-para-niveis-do-inicio-do-seculo. ESTA POLITICA DE PASSOS COELHO FEZ DOS POBRES MAIS POBRES E DOS RICOS MAIS RICOS! E porque é que ganhou? Porque o povo está tão descrente na política, e tão cansado por estar sempre a ser penalizado, que já nem se mexe. E a insatisfatória campanha de António Costa, que se mostrou fraco na argumentação e muito mole na defesa dos seus interesses, mais as (alegadas) aldrabices de Passos Coelho, também não ajudaram. A acrescentar que existem muitas pessoas reformadas e muitas outras em situação de pobreza extrema, que não devem sequer ter possibilidade para se deslocarem para votar, quer por motivos físicos, quer por falta de dinheiro para pagar transportes. No entanto, a classe mais privilegiada, que suponho que há muito que não via tantos benefícios como agora, deve ter ido votar em peso, para não lhes escapar o tacho. E dificuldades de transporte também não devem ter...se calhar até foram...de Porsche! E é isto que temos. Aguenta!!!!
  • mikas
    19 out, 2015 aqui 06:07
    Cortes e troikas.diminuir ou acabar com toda a assistència social. Números é o que interessa. para por as contas em dia, o resultado que interessa é o saldo. A fome e o sofrimento provocam guerras que geram mais do mesmo. Depois de começarem, vem o arrependimento, mas já é tarde.
  • Ao João
    18 out, 2015 Lis 14:51
    ...faltou considerar algo mais - A pobreza aumentou, como se sabe, mas a venda de "luxo" também aumentou em Portugal. A avaliação deverá ser feita levando em consideração estes dois factos - Ricos mais ricos e pobres mais pobres. Foi o resultado desta política de Portas e Passos.
  • João
    18 out, 2015 Portugal 11:17
    A resposta à crise acentuou a pobreza. Gostava de saber porque não referem as razões de tetem sido necessáruas essas medidasve qual teria sido o cenário sem essas medidas
  • Revoltante
    16 out, 2015 Lx 20:48
    É urgente o que se passa cá dentro - responsabilidade desta política que enriqueceu os ricos e empobreceu os pobres. A situação está insustentável, sufocante. E não me venham com tretas de que Portugal está, ou vai ficar, melhor. Estão constantemente a sair notícias (analise/levantamento de entidades idóneas) que refutam totalmente tais supostos resultados da paf. E basta olhar em volta para ver qual a realidade do país. REVOLTANTE !!
  • MT
    16 out, 2015 Lx 18:27
    Esta notícia vai ser fotocopiada e deixada em todos os locais por onde passar para que cada um tome consciência da miserável realidade em que vive quase metade da população portuguesa. É urgente agir!!
  • 16 out, 2015 17:15
    É isto que devia acontecer á GENTALHA QUE DESGOVERNA O PAÍS, depois de fazerem AS ASNEIRAS DEVIAM SER RESPONSABILIZADOS E BEM RESPONSABILIZADOS, QUE é o que acontece ao cidadão comum. POIS É MUITO FÁCIL GASTAR O DINHEIRO QUE NÃO É NOSSO MAIS A MAIS QUANDO NÃO SÃO CHAMADOS Á PERNA. Era fundamental que os deputados criassem uma LEI QUE RESPONSABILIZASSE QUEM (DES)GOVERNA, quando ROUBAM E QUANDO CORRONPEM E SÃO CORRONPIDOS. POIS A CORRUPÇÃO É FEITA POR ESSES SUJEITOS INTITULADOS DE politicos.
  • carlos branco
    16 out, 2015 tomar 16:18
    talvez que essa gente que anda a tratar de trazer para o nosso pais ,tenha humanismo suficiente para olhar para esta gente em vez de arriscar de trazer alguns talisbans para o nosso pais

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