27 out, 2015 - 11:46 • João Carlos Malta com Lusa
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A APIC (Associação Portuguesa de Industriais de Carne) “rejeita firmemente” a nova classificação feita pela Agência Internacional para Pesquisa sobre Cancro (IARC) - agência especializada da Organização Mundial da Saúde (OMS) -, que avaliou o risco carcinogénico de carnes e produtos cárneos.
A IARC classificou as carnes e produtos cárneos como agente do grupo 1 "carcinogénico para humanos", sendo que a associação que defende os interesses dos industriais de carne trata-se de “um programa de identificação de perigos que não incluí a avaliação do risco”.
“Isso significa que este estudo não teve em consideração a exposição real à substância ligada ao potencial de causar cancro. A APIC recomenda uma abordagem mais holística, considerando que da vasta gama de produtos de carne produzidos na União Europeia (UE), todos têm valor nutricional ideal, e cumprem os diferentes requisitos dos consumidores. Há um extenso leque de evidências científicas que comprovam os benefícios do consumo de carne no âmbito de uma dieta saudável”, defende em comunicado a associação.
O APIC defende que as carnes e produtos cárneos “são uma fonte essencial de nutrientes”. E argumenta que estes alimentos são “uma fonte extraordinária de proteínas de alto valor biológico, bem como uma excelente fonte de aminoácidos essenciais; de vitaminas do grupo B, como vitamina B12, que contribui para o funcionamento regular do sistema imunitário e minerais como o ferro que ajuda a reduzir o cansaço”.
Os industriais consideram que o cancro é um assunto muito complexo e pode ser dependente de uma combinação de factores, tais como a idade, genética, dieta, ambiente e estilo de vida. E argumentam que “o consumo de produtos à base de carne é mais baixo que o risco produzido por outros factores, tais como, doenças do cólon, IMC (Índice de Massa Corporal), falta de actividade física e tabagismo. Os factores ambientais: ar exterior e interior, poluentes, bem como contaminantes do solo e da água) apresentaram valores de risco muito mais elevados (de RR 2 a RR41) nos diferentes tipos de cancros. O consumo actual de carnes e produtos seus derivados na União Europeia (24 g/dia, em média) é muito menor do que o que poderia ser considerado como alta ingestão diária (mais de 50 g/dia)."
A indústria de carnes aconselha a manter a ingestão média actual de produtos à base de carne, pois tal como para qualquer outro alimento, o seu consumo excessivo não é nunca aconselhável.
A APIC diz que “estão a ser cumpridas todas as normas legislativas e respeitados os limites aplicados aos aditivos dentro do quadro regulamentar”. A associação termina o comunicado a dizer que “os organismos oficiais, as sociedades médicas e os especialistas, recomendam o consumo de todos os grupos de alimentos, com vista a ter uma dieta saudável, equilibrada e variada, incluindo um consumo moderado de produtos cárneos”.
Restaurantes e hotéis pedem tranquilidade
O director-geral da Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), José Manuel Esteves, considerou esta terça-feira que o relatório da OMS sobre carne processada "deve ser encarado tranquilamente e sem pânico" pelos consumidores.
Em declarações à Lusa, a propósito do anúncio de que a carne processada – como bacon, salsichas ou presunto – é cancerígena para os seres humanos, José Manuel Esteves disse que esta informação deve ser encarada "sem pânico e como uma chamada de atenção".
"Tranquilamente, vamos todos, cada um por si como consumidor, estar sempre atentos, mas sem pânico. O relatório da OMS [Organização Mundial de Saúde] é positivo. É bom que a população esteja sensibilizada, mas sem pânico", declarou.
O responsável disse que o "equilíbrio" alimentar é o mais importante e lembrou que Portugal é dos países com uma dieta mais equilibrada no mundo.
"Quero lembrar que nós somos um dos maiores consumidores de peixe e temos também duas dietas importantes (a mediterrânica e a atlântica) e somos líderes europeus nas boas práticas de higiene e segurança alimentar", salientou.
De acordo com José Manuel Esteves, Portugal é um país cada vez mais seguro, inclusive na questão da alimentação.
"Claro que somos democratas, abertos e cada cidadão, quando vai a um restaurante, pode escolher o que quiser com bom senso. Se calhar, este relatório até pode ter o efeito oposto, ou seja, uma oportunidade para valorizar as gastronomias atlântica e mediterrânica", disse.