31 out, 2015 - 14:20
Desgastantes, mas gratificantes, é como Gil Cardoso, sargento-ajudante da Unidade de Controlo Costeiro (UCC) da GNR, define a missão Poseidon Sea 2015 na qual participou na ilha de Lesbos, Grécia, entre Junho e Agosto últimos.
Gil Cardoso foi um dos dez militares no Centro de Coordenação Internacional em Atenas que entre 1 de Junho e 31 de agosto participou na operação da União Europeia na Grécia Poseidon Sea 2015, destinada a detectar e encaminhar, através das autoridades locais, os migrantes para os centros de acolhimento.
Se, por um lado, “estas missões são desgastantes do ponto de vista psicológico”, por outro, também “são gratificantes”. Contudo, ainda que “estas novas experiências” sirvam para “abrir horizontes”, deixam também uma certa frustração, disse o militar da GNR.
“É muito gratificante poder ajudar os outros, (...) pessoas que estão em sofrimento e estão a fugir, mas, é muito desgastante vermos pessoas com tantos problemas e nós, praticamente de mãos atadas, não podermos fazer mais do que pura e simplesmente ajudá-los a fazer o resto da viagem”, sublinha, recordando a precariedade das embarcações em que imigrantes ilegais e refugiados viajam naquela zona da costa grega.
Embarcações extremamente rudimentares que estão preparadas para 10 pessoas e que, normalmente, nunca transportam menos de 50, indica.
Ao largo da ilha grega de Lesbos, no Mar Egeu, na costa da Anatólia, a sete/oito quilómetros da Turquia, um dos locais de maior fluxo migratório, os militares da UCC da GNR deviam controlar a fronteira. Face ao fluxo de imigração ilegal - de uma média de 300 pessoas por dia que rapidamente ascenderam às 5.000/por dia –, a missão evoluiu para “humanitária”, conta.
“Havia necessidade de preservar a vida humana, que é um bem mais precioso” e havia todo o tipo de pessoas, de bebés a idosos, refere.
Dos 83 incidentes detectados (embarcações ilegais), num total de 3.067 imigrantes, socorreram 1.265 pessoas do mar e resgataram da água 318, indica.
Além de algumas confusões, Gil Cardoso recorda episódios que o tocaram, como o de uma senhora, aparentando cerca de 80 anos, que, sem conseguir subir a escarpa da zona montanhosa onde aportou a embarcação que a transportara, teve que ser resgatada e transportada pelas autoridades gregas.
Realizada sob a égide da agência europeia Frontex (European Agency for the Management of Operational Cooperation at the External Borders of the Member States of the European Union), a missão da unidade de controlo costeiro da GNR dispunha de uma embarcação de alta velocidade.
Questionado sobre se os meios portugueses eram suficientes, Gil Cardoso considera que a embarcação portuguesa era “muito equilibrada para a situação, foi muito utilizada e muito prestável”.
Ressalva, porém, que, face à dimensão da tragédia que atinge aquela zona grega, “por mais meios que se coloquem no terreno são sempre insuficientes”.
“A GNR, nestes últimos anos, tem evoluído muito na actuação e tem dado muita formação aos militares para que possam, cada vez mais, fazer um bom serviço e orgulhar o país que representamos”, realça.
Memórias que ficam
O sargento-ajudante admite voltar a fazer uma missão semelhante, embora não esqueça episódios que viveu este ano, como numa manhã de sol muito forte, em que regressavam para terra e tiveram que inverter a marcha da embarcação para analisar uma mancha de combustível que havia no mar, um pouco a norte da cidade de Mitilene, capital da ilha de Lesbos.
Quando se dirigiram à lancha, depararam-se com uma embarcação à deriva, com problemas no motor, sobrelotada de migrantes.
“Tinha cerca de 10 crianças, com 2/3 meses, a bordo, que choravam. Estavam completamente desprotegidas, não tinham chapéu ou agasalho que os protegesse do sol e devido à quantidade de pessoas que estavam a bordo era-nos completamente impossível pô-las na nossa embarcação para as trazer para terra em segurança”, narra.
Foram resgatados por uma embarcação da guarda costeira grega, porque a força portuguesa no local só em casos excepcionais os resgatava: “Quando eram números assim tão grandes normalmente só recolhíamos as pessoas da água, porque era perigoso transportar tanta gente dentro da nossa embarcação”, ficando estes a aguardar por barcos que os pudessem transportar em segurança, conclui.
No âmbito do Poseidon Sea 2015, Portugal tem ainda no local, até 31 de Dezembro, oito elementos da Polícia Marítima.