23 nov, 2015 - 12:45
Uma equipa de investigadores da Universidade de Coimbra (UC) foi financiada por uma organização norte-americana para prosseguir o estudo para identificar o mecanismo responsável pelo surgimento da doença de Alzheimer.
A equipa de cientistas, do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da UC, recebeu da Alzheimer Association um apoio de 100 mil dólares (cerca de 94 mil euros) para prosseguir as investigações sobre a perda de memória na doença de Alzheimer, depois de ter descoberto que "a degeneração e perda de memória dependem do ATP [adenosina 5-trifosfato]".
Até agora sabia-se que o ATP funciona como "molécula energética no interior das células, mas é um sinal de perigo quando libertado das células", resultando a perda de memória da "deterioração da comunicação entre neurónios". Desconhecia-se, contudo, como ocorre esta deterioração, fenómeno que foi descoberto por investigadores do CNC, afirma uma nota divulgada esta segunda-feira.
Os investigadores, na sequência de "sucessivos estudos realizados ao longo da última década", identificaram "um mecanismo celular activado pelo ATP, que está presente durante o desenvolvimento neuronal e que é anormalmente reactivado em modelos animais de doença de Alzheimer, podendo estar na origem da perda de sinapses, que são contactos entre neurónios essenciais para a sua correta comunicação".
O financiamento vai permitir avaliar se este novo mecanismo contribui para a perda sináptica e de memória na fase inicial da doença de Alzheimer.
"O ATP activa um receptor na membrana dos neurónios, desencadeando uma cascata de eventos intracelulares que favorece a perda estrutural das sinapses. O receptor para o ATP que identificámos como estando envolvido neste processo degenerativo induz modificações na atividade de proteínas envolvidas na manutenção do esqueleto celular, comprometendo a estabilidade das sinapses", explica Ricardo Rodrigues, coordenador da equipa de cientistas.
"Com a demonstração de que o mecanismo agora identificado contribui para a perda das sinapses estaremos mais perto de identificar um alvo terapêutico que impeça o aparecimento da doença de Alzheimer", sustenta Ricardo Rodrigues.
Com o financiamento da Alzheimer Association, "vai-se testar em modelos animais (ratinhos) se o bloqueio deste receptor previne a degeneração sináptica e a perda de memória associada", isto é, "encontrar uma estratégia terapêutica que evite o surgimento da doença de Alzheimer", salienta Ricardo Rodrigues.
Se for determinada uma estratégia eficaz para a doença, ela "também será para outras doenças neurodegenerativas, que deverão partilhar este mesmo mecanismo de degeneração e morte celular", admite o coordenador da equipa de especialistas do CNC.
"No futuro, poderemos ter um único medicamento para tratar diversas patologias que afectam o sistema nervoso central", acreditam os investigadores.
A Alzheimer Association é uma organização voluntária para a saúde, sediada em Chicago, "líder mundial no apoio, tratamento e investigação em Alzheimer, quer financiando a investigação para o combate a esta e outras formas de demência, quer no apoio aos doentes de Alzheimer".