25 nov, 2015 - 03:33 • Rosário Silva
O concelho de Portel, que apresenta uma das maiores manchas de montado de sobro e azinho da Península Ibérica, já está em estágio para a concretização de mais uma edição da Feira do Montado, entre 26 e 29 de Novembro.
Há 16 anos, quando começou, o certame tinha como preocupação “despertar a atenção para o problema do montado e a sua sustentabilidade”, revela à Renascença o presidente da Câmara de Portel. A este fundamento soma-se o cuidado em dar a conhecer todo o seu potencial económico, em termos agrícola, ambiental, industrial e turístico.
José Manuel Grilo avança que a feira acaba por ser, também, “o local de reunião de muitos portelenses, que tiram férias nesta altura do ano e de muitos outros alentejanos que, de Norte a Sul do país, nos visitam e onde se sentem bem”.
E não é difícil a sensação de bem-estar numa região onde os produtos do montado – cortiça, cogumelos, carvão e lenha, mel, queijos ou enchidos - na sua maioria artesanais contam, mais recentemente, com essa “ mais-valia que é a albufeira de Alqueva e o incremento que já dá ao turismo” completa o autarca.
Enchidos, sim. E sem medo de comer
Conferir no terreno todo o potencial que o montado assegura, só mesmo com uma visita ao concelho alentejano. Entre os produtos já mencionados, encontram-se os tradicionais enchidos de qualidade que a muitos faz crescer água na boca.
Desde a linguiça, passando pela farinheira ou pelo paio, entre outros, os produtos derivados do porco de raça alentejana assumem um papel importante, não só na alimentação como também na cultura e na economia local.
Os alertas da Organização Mundial de Saúde (OMS) no que toca às carnes transformadas são tidos em conta, mas não estão a condicionar a actividade local.
“Preocupa-me porque temos alguns produtores, mas creio que é apenas um alerta”, refere José Manuel Grilo.
“As nossas carnes, aquelas que derivam do porco alentejano, tem todas as condições organolépticas que lhes confere grande qualidade e do meu contacto com os produtores de enchidos, continua tudo normal como até agora”, confirma o presidente do município.
Todas as carnes do porco são aproveitadas para os enchidos, a sua qualidade e o tempero utilizado que é adicionado à carne – o pimentão, o alho e o sal – com o toque especial que lhes é dado por quem os produz, confere aos enchidos um sabor único e autêntico.
Os enchidos são um dos elementos da gastronomia do concelho, sendo utilizados em alguns pratos tradicionais, como nas açordas, no cozido de grão ou nas migas. São petisco obrigatório em qualquer entrada de uma boa mesa alentejana.
É por entre sobreiros e azinheiras que o porco de raça alentejana pasta alimentando-se do fruto dessas árvores, a bolota. E é graças à bolota e às pastagens do montado que a sua carne é tenra, saborosa e de qualidade.
A bolota que guia os sentidos
A bolota é, de resto, protagonista de um pavilhão temático criado há dois anos pela autarquia e que oferece uma viagem guiada pelos sentidos ao universo do montado.
“Os visitantes partem, de uma forma lúdica e pedagógica, à descoberta daquilo que são os valores naturais e culturais da nossa região e percorrem vários passos para disfrutarem do montado na sua plenitude”, conta José Grilo.
“Utilizando os nossos cinco sentidos” complementa, “pode olhar-se as nossas paisagens de sobro e azinho, ouvir o cante alentejano, respirar a esteva e o rosmaninho, apreciar o paladar do mel, por exemplo, ou sentir a textura da cortiça ou da bolota.”
Inaugurado em 2013, “A Bolota - Pavilhão Temático” é um espaço museológico repartido por quatro salas: Sala Artesanato, Sala Cortiça, Sala Património, Sala Sentidos.
“É um espaço muito agradável não só direccionado para as escolas mas para todos os que nos visitam que ficam agradavelmente surpreendidos ao contactarem com o nosso montado e todas as potencialidades que a ele estão associadas” conclui o presidente da câmara municipal de Portel.
Um pavilhão temático para ver e sentir com maior intensidade por ocasião da feira do montado que, entre 26 e 29 de Novembro, brinda os milhares de visitantes esperados com um programa diversificado.
Colóquios e conferências sobre a temática, mas também várias formas de animação, prometem marcar os dias e as noites do certame que faz de Portel a “capital nacional do montado”.