15 dez, 2015 - 09:09 • Anabela Góis
Será que os portugueses estão dispostos a contribuir mais para a saúde, em particular, para tratamentos inovadores na área do cancro? A proposta consta do relatório “Cancro 2020: novos e velhos desafios” que é apresentado esta terça-feira.
A ideia não é saber se os portugueses podem ou querem pagar mais pelos serviços de saúde. Segundo Ana Escoval, coordenadora do think tank Inovar em Saúde [grupo de reflexão], é saber se estão disponíveis para contribuir para que o orçamento da saúde seja maior. “O dinheiro para a saúde sai dos impostos.”
“E aqui o que se poderia perguntar às pessoas era, por um lado, se estariam dispostas a pagar mais e por outro se esse mais seria num aumento dos impostos ou seria num imposto específico para a saúde”, esclarece.
Este grupo defende também a necessidade urgente de uma verdadeira rede de referenciação oncológica, a nível nacional, que até pode incluir os privados. Uma rede que permita tratamento igual para todos, independentemente do local onde os doentes estão.
“A inovação custa dinheiro, tratar bem custa dinheiro, nós temos excelentes profissionais, por vezes gastamos, tempo, gastamos dinheiro, e gastamos vidas porque não temos, de facto, uma organização estratégica, uma referenciação adequada em muitas das situações”, aponta Ana Escoval.
Para a professora da Escola de Saúde Pública, é também urgente também criar um sistema único, em rede, com toda a informação dos doentes. “Todo o profissional vai tratá-lo melhor se esse sistema de informação for único, estiver interligado, do que se você vai a Santa Maria e tem lá uns exames, vai ao IPO e tem outros, vai ao Champalimaud colher mais uma informação e tem outros, e depois quando vão fazer o tratamento esta informação está dispersa.”
“A não ser que você tenha tido a capacidade de pedir esses documentos, levá-los consigo, não se esquecer, não os perder - e isto tudo numa altura em que pessoas estão muito frágeis devido à doença”, explica.
Ana Escoval defende também a necessidade de um debate sobre a percepção que os portugueses têm de que o acesso aos tratamentos oncológicos é mais rápido nos hospitais privados. “Nós temos um serviço público que responde muitíssimo bem depois de os doentes entrarem. Isso está provado em todos os estudos e nos resultados. E temos, de facto, esta sensação da parte das pessoas de que há menor celeridade no público na resposta às situações”, diz.
Outra recomendação passa por uma maior participação dos doentes na tomada de decisão dos tratamentos a fazer, mas para isso é preciso que a informação lhes chegue de forma clara e compreensível.
Segundo o estudo “Os portugueses e o cancro”, que também é divulgado esta terça-feira, a maioria dos inquiridos (83%) considera que o investimento público na saúde é insuficiente, embora tenham noção de que é o sector com mais orçamento.
Realizado pela GFK Metris, junto de mais de 1.200 portugueses, o mesmo estudo mostra que um terço dos portugueses está disponível para pagar mais para a saúde, mas só se a verba fosse canalizada para os seus tratamentos. Poderia servir como uma espécie de poupança: se vier a ter cancro, pode recorrer a essa verba.