12 jan, 2016 - 19:57
O Governo introduziu alterações nos exames escolares a meio do ano lectivo porque considerou que era “urgente” acabar com um sistema criado por Nuno Crato que o novo ministro, Tiago Brandão Rodrigues chamou mesmo de “nocivo”.
“Nocivo” foi também o adjectivo que o ministro usou, em conferência de imprensa, esta terça-feira, para aconselhar pais, alunos e professores a não “treinar” para os exames e para as provas de aferição.
“É importante não treinar para os exames e isso é altamente pernicioso e até nocivo”, afirmou Tiago Brandão Rodrigues que esta quarta-feira inicia uma volta pelo país para explicar o novo sistema de exames anunciado em comunicado na semana passada. O ministro vai tentar tranquilizar alunos e famílias que, disse, não se devem inquietar com estas alterações.
Tiago Brandão Rodrigues diz que “não há ímpeto reformista” no seu ministério, “apenas uma vontade de corrigir os erros de forma urgente” e disse acreditar “na seriedade” com que alunos vão enfrentar as provas de aferição.
“Não há ímpeto reformista, mas há uma vontade forte de corrigir os erros de forma urgente, de poder trabalhar calmamente, de poder melhorar também a construção de uma escola melhor. Acima de tudo, é preciso dizer à comunidade educativa que estudaremos, que estaremos aqui para dialogar, que haverá debate público em relação às questões que queremos implementar”, referiu aos jornalistas o ministro Tiago Brandão Rodrigues, em conferência de imprensa sobre o novo modelo de avaliação do ensino básico.
O ministro da Educação afirmou que, apesar das muitas alterações normativas à avaliação externa nos últimos anos, só sob a tutela de Nuno Crato “houve uma ruptura” no modelo de avaliação, com exames em todos os ciclos do básico, e que levou a uma “distorção do processo de aprendizagem”.
“É preciso e é urgente restituir à escola a sua função principal, poder dizer à escola e dar um sinal inequívoco no início deste período escolar que a função principal da escola é ensinar e criar soluções para que se possa ensinar melhor, e acima de tudo que o processo pedagógico não é construído para que se possa treinar melhor. O que estava a acontecer é que a escola se estava moldar ao processo de exames. Isso é altamente pernicioso e é algo que não queremos fazer”, declarou Tiago Brandão Rodrigues.
O responsável pela pasta da Educação defendeu que as provas de aferição devem ser complementares à avaliação contínua, que o novo modelo “privilegia uma intervenção atempada” sobre as dificuldades e que representa uma “opção clara” por uma “escola integradora”, cortando com o modelo de “escola selectiva”.
Novas provas, fim de provas
O Ministério da Educação (ME) decidiu aplicar provas de aferição no 2º, no 5º e no 8º ano de escolaridade e manter a prova final no 9º ano, a única com peso na nota final dos alunos.
O novo modelo, que elimina os exames do 4º e do 6º ano, e que é aplicado já este ano, foi anunciado na passada semana, a meio do ano lectivo, alterando as expectativas de realização de provas e exames, mas Tiago Brandão Rodrigues defende que nem os alunos que afinal já não fazem exame este ano, nem aqueles que sabem agora que terão provas de aferição, “têm que se inquietar” com esse facto, acrescentando que o processo de aprendizagem nas escolas deve decorrer normalmente até ao final do ano.
Questionado sobre se entendia que poderia haver um empenho menor dos alunos nas provas de aferição por não terem peso para a nota final, o ministro recusou essa possibilidade.
“Acredito na credibilidade do nosso processo educativo, das escolas, e acima de tudo, que o processo de aprendizagem levará a competências que são perenes, que de certa maneira se vão cimentar no processo de aprendizagem dos alunos. [...] não tenho nenhuma dúvida relativamente à seriedade dos alunos, dos professores e das escolas relativamente a este modelo”, disse.
Tiago Brandão Rodrigues disse acreditar que o novo modelo de avaliação “responde às necessidades das escolas” e justificação a manutenção dos exames no 9º ano com o facto de acontecerem num final de ciclo, na conclusão do ensino básico e de representarem também uma certificação, mas recordou que a aplicação deste novo esquema de avaliação vai ser monitorizada por uma comissão de acompanhamento e que, ainda que não haja “intuito de mudar” o modelo, o Ministério mantém a possibilidade em aberto.
[notícia actualizada às 00h53]