Siga-nos no Whatsapp
A+ / A-

Doentes que morreram à espera de vez nas urgências. "Foi violado o direito à saúde"

27 jan, 2016 - 11:00

Observatório dos Direitos Humanos diz que se verificaram falhas na organização, tendo os relatórios de diversas entidades da saúde apontado para a existência de meios e dos necessários procedimentos mas que estão subaproveitados e geridos de modo ineficiente.

A+ / A-

O Observatório dos Direitos Humanos concluiu que "foi violado" o direito à saúde dos utentes que morreram nas urgências de sete hospitais, no inverno de 2015, aconselhando as respetivas administrações a seguirem recomendações para prevenir situações idênticas.

As conclusões do Observatório dos Direitos Humanos (ODH), divulgadas esta quarta-feira, surgem na sequência de uma denúncia acerca da morte de doentes, que, durante o inverno de 2014/2015, aguardaram horas em vários serviços de urgência hospitalar para serem observados por médicos ou fazerem exames de diagnóstico.

A denúncia dava conta de que as mortes ocorridas nas urgências dos hospitais de São José e de São Francisco Xavier, em Lisboa, e nos de São Bernardo (Setúbal), de São Sebastião (Santa Maria da Feira), de Peniche, de Santarém e Garcia de Horta (Almada) deveram-se a demoras excessivas no atendimento dos doentes.

No relatório publicado na sua página da Internet, e assinado por Ana Ferreira, a ODH indica que "a ineficiência dos serviços e a reduzida capacidade de resposta que demonstraram nos períodos em causa leva a que se possa afirmar que os direitos à saúde destes utentes [e dos demais que aí se encontravam e que sofreram iguais demoras no seu atendimento e tratamento] foram violados".

A relatora Ana Ferreira explica que "os factos do caso apontam, não tanto para a ausência de recursos, como, sobretudo, para a má gestão dos já existentes, bem como para a desconsideração das regras que devem ser seguidas neste tipo de contexto".

"Cremos, por conseguinte, ter sido desrespeitado o direito à saúde dos utentes (...). Assim, urge que as administrações dos Centros Hospitalares em apreço procurem seguir as recomendações que lhes foram dirigidas, por forma a evitarem a repetição deste género de situações", adianta o documento.

De acordo com o ODH, verificaram-se falhas na organização dos hospitais avaliados, tendo os relatórios de diversas entidades da saúde apontado para a existência de meios e dos necessários procedimentos e protocolos (criado no exercício da actividade legislativa e regulamentar do Estado) e, que, estão subaproveitados e geridos de modo ineficiente.

O ODH explica também, na nota enviada à agência Lusa, que só analisou a denúncia após terem sido anunciadas as conclusões das averiguações levadas a cabo pela Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) e da Entidade Reguladora da Saúde, que também abriu um inquérito aos acontecimentos.

Os relatórios daquelas duas entidades apontavam para a "existência de meios e dos necessários procedimentos e protocolos", mas que estes estavam "subaproveitados e geridos de modo ineficiente".

"Embora os eventos tenham ocorrido numa época particularmente complicada [Natal e Ano Novo], a entidade reguladora não tem dúvidas de que os serviços podiam ter sido capazes de se acomodarem a uma afluência superior ao normal", escreve a relatora Ana Ferreira, nas conclusões do relatório à denúncia.

O IGAS concluiu no ano passado "não haver matéria para processos disciplinares", recomendando alterações administrativas já transmitidas aos conselhos de administração dos hospitais em causa.

Aquele organismo refere que esta apreciação foi feita na sequência da análise das "normas nacionais e internacionais de proteção dos direitos humanos".

O Observatório dos Direitos Humanos é uma frente de acção interassociativa que contribui para a denúncia das violações dos direitos fundamentais em Portugal, bem como para a protecção e promoção dos direitos humanos.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Ze
    27 jan, 2016 lisboa 16:41
    Se não há matéria para ações disciplinares há matéria criminal, porque omissão de auxílio é crime, e a lei também se aplica dentro dos hospitais. Nesses hospitais há sempre seguranças e em alguns até polícias que nada fizeram para evitar essas mortes.
  • Ze
    27 jan, 2016 lisboa 16:35
    Quantos mais vão morrer até a máfia da Ordem dos Médicos assumir que há falta de médicos, parar de defender o elevado estatudo social da classe e parar de bloquear o número de vagas para os cursos de medicina?
  • Joao Semana
    27 jan, 2016 Porto 15:48
    Acho que as consultas todas deveriam ser como num dos países mais evoluídos da Europa, a Inglaterra em que são de 10 em 10 minutos. Aí veriamos como seria...
  • cristina vieira
    27 jan, 2016 lisboa 15:09
    Será que em Portugal nunca vai haver um ministro da saúde que ponha a classe médica a trabalhar como outro funcionário público normal???? Os Centros de saúde estão abertos das 8 horas da manhã até às 8 horas da noite os administrativos e enfermeiros têm que cumprir horário de 8 horas diárias, se os médicos cumprissem 8 horas diárias num centro de saúde como devia ser o seu dever talvez não houve-se tantos utentes nas urgências deste País. Mas é uma classe que tem numero de consultas diárias não pode ser eles devem cumprir horário e atender as pessoas que aparecem dentro desse horário. Porque como têm numero de consultas (12 por dia) eles atendem as pessoas numa hora ou duas e têm o dia feito não pode ser. E enquanto assim for não vamos a lado nenhum vão continuar a morrer pessoas nas urgências entupidas com doentes que podiam ser atendidos nos Centros de Saúde. Ponham a classe médica a trabalhar....Cada Centros de Saúde deste País têm cerca de 30 a 40 médicos em média não chegam...... até são demais é preciso é trabalhar.......
  • Pedro Rocha
    27 jan, 2016 Nelas 14:09
    A Senhora Relatora e o próprio IGAS, sabem-me dizer, porventura, se um Sr.Administrador hospitalar, no caso do Centro Hospitalar Tondela-Viseu, após uma clara negligência médica ocorrida aí, em 22 de Janeiro de 2015, que levou à morte da Paciente, tem ou não tem, a obrigação de dever de conduta em dar cabal resposta a todo e qualquer pedido de esclarecimento solicitado por familiares da vitima ?; pois o referido deixou passar 6 meses, após os quais, sempre a fugir às questões suscitadas, veio então referir que achava que o Cidadão em causa não teria sido negligenciado na Unidade clínica, para após insistência minha, afirmar que não tem qualquer tipo de obrigação de dar respostas concretas à família. Não contente com este e centenas de outros óbitos ali ocorridos, por claro desinvestimento nas pessoas e respeito obtuso à partidarite, ainda se achou no direito de referir, este mês, que em igual período do ano anterior, tinham ocorrido ali, mais de 80.000 Cidadãos com falsas urgências Questiono; Mas numa suposta " Falsa Urgência ", existirá algum caso em que o Cidadão entra a falar normalmente e acaba na morgue ?. Santa paciência. Haja, de uma vez, a intervenção de alguém com responsabilidade, não para falar de casos isolados, mas do conjunto de pessoas que se tornam vitimas forçadas destas sandices e incompetências flagrantes. Tenho dito. O caso, em concreto, e a atitude de per si, em minha opinião

Destaques V+