29 jan, 2016 - 17:55 • Teresa Almeida
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É preciso não diabolizar o automóvel. O geógrafo Álvaro Domingues considera que a requalificação da 2ª Circular, em Lisboa, “é um projecto interessante”, mas que “ainda é cedo para avaliar os seus impactos”.
Em entrevista à Renascença, o especialista em dinâmicas de transporte sublinha que, “enquanto não houver dispersão do emprego, não se pode resolver a macrocefalia do município de Lisboa”, com milhares de automóveis a circularem em direcção ao centro, “infernizando a vida na cidade”.
No dia em que termina o período de discussão pública do projecto de requalificação desta via, o especialista afirma que se as pessoas usam preferencialmente o carro “não é, com certeza, porque são masoquistas, se pensarmos nos custos que uma decisão dessas acarreta, com seguros, combustível, pneus, impostos e manutenções”.
Para Álvaro Domingues, só a discussão gerada à volta do projecto já é um aspecto positivo da alteração. “Este projecto puxa pelo civismo, agita a sociedade e cria a ideia de planeamento, de que as coisas se podem mudar”, aponta.
O ideal, diz o especialista, é que esta nova via venha a ter mais funções do que a de tráfego puro e duro. “Espero que venha a ter uma maior capacidade de difusão das situações problemáticas dos engarrafamentos, espero um desenho de vias muito agradável, espero que tenha corredores de transporte público e áreas de parques dissuasores com custos de estacionamentos baratos”, vaticina.
Álvaro Domingues admite que “só no futuro se verão os efeitos” de transformar uma via rápida urbana numa avenida, mas dá conta de exemplos notáveis na Europa, como a Castelhana, em Madrid, que tem “oito ou dez pistas de cada lado e não deixa de ser uma avenida das mais importantes no funcionamento quotidiano da capital espanhola”.
“Se uma via tiver muitas possibilidades de entradas e saídas há uma espécie de efeito de dissipação que pode contrariar o efeito do grande engarrafamento”, diz o especialista, com a ressalva de que, para avaliar com rigor, precisaria de conhecer o desenho dos trajectos para cada veículo que percorre essas vias.
As alterações previstas passam pela repavimentação da via, a redução da velocidade para 60 quilómetros por hora e a criação de um separador central com árvores, num projecto de requalificação que implica obras com um custo superior a 10 milhões de euros.