04 fev, 2016 - 08:50 • Cristina Branco
É arriscada a tendência actual para privilegiar a investigação direccionada para resultados rápidos e para o produto final. O investigador Hélder Maiato diz à Renascença que investigar com objectivos de curto prazo e voltados para a investigação clínica faz saltar a fase fundamental para compreender doenças como o cancro.
“Acho que se corre, hoje em dia, uma certa tendência para querer resultados muito rápidos e pensar que o que temos que fazer é investigação clínica porque temos que chegar rapidamente aos doentes. Só que muitas vezes são abordagens cegas”, alerta o investigador do I3S, o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, no Porto.
Hélder Maiato diz acreditar “muito mais numa investigação inteligente, em que procuramos compreender as causas, o que está na origem, o que está na base, para depois se fazer uma intervenção selectiva e controlada e com conhecimento sobre a forma como poderemos prevenir, por um lado, e curar, pelo outro”.
O investigador do instituto I3S dá o exemplo da técnica recente, “uma das grandes novidades científicas dos últimos dois, três anos” que permite modificar o ADN de forma controlada e selectiva: ”questionamo-nos sobre como foi possível chegarmos aí, compreendermos algo que é uma ferramenta muito importante e com um potencial incrível, quando hoje em dia a investigação é direccionada para o produto final”.
Hélder Maiato sublinha que a “investigação é um processo que demora, por vezes, gerações e as pessoas têm que estar conscientes disso”.
O investigador considera promissores os resultados das investigações que estão neste momento nos laboratórios e que serão a base para respostas futuras, mas afirma que “dificilmente aquilo que estamos a fazer hoje chegará às pessoas que hoje têm cancro, mas poderá chegar a tempo para os filhos ou os netos e é sempre nessa perspectiva geracional que temos de trabalhar".
No I3S, no Porto, a equipa liderada por Hélder Maiato, estuda o complexo processo de divisão celular e de que forma os erros que aqui ocorrem podem explicar doenças como o cancro, investigação distinguida recentemente com um prémio no valor de 100 mil euros, atribuído pela Fundação Louis-Jeantet, sediada em Genebra.