15 fev, 2016 - 11:59
A Associação de Médicos Católicos (AMC) posiciona-se oficialmente contra a legalização da eutanásia, formalizando a posição esta segunda-feira num comunicado onde diz ser “incompreensível” não apostar em cuidados de saúde.
“Estranha-se que, em vez de se apresentarem propostas para melhorar os cuidados de saúde dos idosos, para apoiar os doentes crónicos e as suas famílias, em tempo de grande dificuldade para o Serviço Nacional de Saúde, se discuta e se apresente como solução a eutanásia”, lê-se na nota.
“Em vez de se lutar por proporcionar todos os meios disponíveis para se cuidar dos mais idosos, das doenças oncológicas e neuro-degenerativas, haja a preocupação, não em oferecer os melhores cuidados disponíveis e em proporcionar os recursos para que isso aconteça, mas em desprezar os meios de que se dispõe e, em nome de ideologias, proclamar a eutanásia como um direito”, criticam.
Na óptica da AMC, a morte assistida “é apresentada sob a aparência de um acto de misericórdia e escondida numa capa de compaixão, procurando ocultar a realidade do que se propõe: tornar legal que os médicos matem, a pedido, determinados doentes”, sublinham, lembrando o dever dos clínicos, “reafirmado no juramento de Hipócrates de defender a vida humana”.
Políticos de vários quadrantes, cientistas, médicos e artistas assinaram no início do mês um manifesto em defesa da despenalização da morte assistida. No documento, defende-se a possibilidade de antecipar ou abreviar a morte de doentes em grande sofrimento e sem esperança de cura.
Para os médicos católicos, “existe o risco de os interesses economicistas aflorarem” numa “sociedade onde a pessoa real deixou de ser uma prioridade”.
No comunicado enviado à Renascença, a associação lamenta ainda que, “num contexto de envelhecimento da população e de crise económica”, seja “bem aceite pelos Estados a proposta de, face aos custos crescentes na saúde, se suspenderem os tratamentos mais onerosos a doentes mais idosos ou declarados incuráveis”, apontando que existem também riscos relativos a pessoas jovens, “abrindo-se a porta a que as pessoas não sejam ajudadas a viver a doença, mas, sim, encaminhadas a acabar com a sua vida”.
A missiva dos médicos católicos termina com a afirmação de que “aquilo por que, na realidade, as pessoas anseiam é experiência profissional, afecto, fuga à solidão, consolo e ajuda, em momentos difíceis, de alguém que as ajude a encontrar sentido para a vida, uma vez que o desejo mais profundo de cada pessoa é viver”.