17 fev, 2016 - 07:13
A directora do Registo Oncológico Regional Sul defende um rastreio ao cancro generalizado a todo o país, de modo a que mais doentes possam iniciar tratamento na fase inicial da doença.
Pelo menos um milhão de mulheres não tem acesso a rastreio ao cancro da mama – um tumor maligno com grande incidência e também com uma das maiores taxas de cura entre as portuguesas. Mas as assimetrias regionais não dão oportunidade de diagnóstico igual a todas.
Há uma grande disparidade entre a incidência e a mortalidade associada ao cancro da mama. O problema, diz a directora do Registo Oncológico Regional Sul, Ana Miranda, é que, por exemplo, na Região de Lisboa e Vale do Tejo, os únicos rastreios disponíveis são os da Liga contra o Cancro.
Ficam muitas mulheres de fora e o resultado está à vista, diz a especialista: ainda há casos de mulheres que chegam à fase de diagnóstico em fases muito avançadas – no chamado estadio 4.
Ana Miranda defende, por isso, que um rastreio generalizado a todo o país, “pelo menos conseguia trazer [ao rastreio] mulheres com tumores em estadios mais precoces, em que o tratamento é mais eficaz”.
O Registo Oncológico Regional Sul abrange quatro milhões e 800 mil pessoas. Os rastreios ao cancro da mama já estão a ser feitos no Alentejo e no Algarve, mas ainda não chegaram à Região de Lisboa e Vale do Tejo, que tem mais população.
No Centro e no Norte do país, estes rastreios são feitos há vários anos.
O Registo Oncológico Regional Sul compilou os dados nacionais e vai divulga-los esta quarta-feira, em Lisboa.
Rastreio poderia reduzir mortes por cancro no colo do útero em 80%
O acesso generalizado aos rastreios também poderia evitar o crescente número de casos de cancro do colo do útero. Todos os anos surgem cerca de mil novos casos.
“A eficácia do rastreio é comprovadamente muito grande. Se toda a gente aderisse, um rastreio organizado diminuiria a mortalidade em cerca de 80%”, refere Ana Miranda.
Por enquanto, continuam a surgir casos já numa fase muito adiantada, mas a situação pode ser revertida, porque “o rastreio do colo do útero é o único que consegue detectar lesões pré-malignas”, explica a directora do Registo Oncológico Regional Sul.
Nesta altura, fazem-se rastreios ao cancro no colo do útero apenas no Alentejo, no Algarve e na região Norte.
Cancro do pulmão é o que mais mata, mas tem rival
Apesar de estar em regressão, o cancro mais mortífero continua a ser o do pulmão. “É, de longe o tumor mais importante, porque, apesar de ter uma incidência mais baixa, continua a ser o mais letal”, afirma a directora do Registo Oncológico Regional Sul.
Mas a situação está a mudar. A mudança de hábitos está a fazer disparar os casos de tumor no colón.
“Subiu substancialmente. Passámos de 30 por 100 mil em termos de casos incidentes para 48/49 por 100 mil. Estamos quase a par do cancro no pulmão e certamente que o vai ultrapassar”, afirma Ana Miranda.
A taxa mais baixa de cancro no colón regista-se na região Centro, onde o rastreio se faz há mais tempo – tal como o cancro da mama nas mulheres.
Dos cancros rastreáveis, a mama é que o que regista maior número de novos casos em Portugal, seguido pelo da próstata e do colón.
Nas mulheres, o cancro da mama é o tumor com maior prevalência. Os homens portugueses têm mais cancro da próstata, mas continuam a morrer mais de cancro do pulmão.
Quer no caso do cancro da mama quer no da próstata, a taxa de mortalidade é baixa em comparação com a incidência.