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Há mais produtividade na saúde, mas à custa de menos atenção aos doentes

17 fev, 2016 - 11:13

A conclusão decorre de trabalhos de investigação desenvolvidos no ISCTE, segundo os quais os centros de saúde não são vistos “como locais de produção de cuidado”.

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As unidades de saúde têm tido aumento de produtividade muito à custa da redução dos tempos de consulta, ao mesmo tempo que a relação entre médico e doente é cada vez mais mediada pelo computador, segundo investigadores em ciências sociais.

"Sabemos que os cuidados de saúde primários têm tido um processo de reforma, tem havido um aumento de produtividade, mas muitas vezes é feito à custa da redução dos tempos de consulta ou da selecção de doentes em função das suas patologias", afirmou o investigador do ISCTE Tiago Correia, coordenador do livro "Novos Temas de Saúde, Novas Questões Sociais", que é apresentado na quinta-feira em Lisboa.

No livro, a reforma dos cuidados de saúde primários é encarada como tendo sido "pouco explicada, pouco divulgada e pouco ou nada participada", diz à agência Lusa.

A investigadora Lurdes Teixeira assume, por seu lado, um aumento do número de actos médicos ou de enfermagem, mas questiona se os utentes precisarão de mais consultas ou antes de mais tempo de consulta.

"Precisam, sobretudo, que independentemente do tempo de prestação do cuidado, o médico ou o enfermeiro não centre o olhar, a atenção ou a preocupação, nos registos informáticos dos indicadores e promova uma efectiva e satisfatória interacção", refere a autora.

Segundo o artigo, a relação médico e enfermeiro/doente é "cada vez mais mediada pelo computador".

Além disso, o imperativo de cumprir os indicadores da unidade de saúde pode "promover uma preferência oculta" por indicadores (ou utentes) mais facilmente alcançáveis, respondendo não à necessidade do doente mas antes à escolha do indicador que é mais produtivo.

Noutro artigo do livro lançado pelo ISCTE, da autoria de Rosemarie Andreazza, a autora considera que, "mesmo utilizando os cuidados de saúde primários, reconhecendo seu médico de família, os utentes avaliam que este é um lugar para trocar receitas, para medir a tensão e obter a licença de trabalho. Parecem não os visualizar como locais de produção de cuidado. Creditam ao hospital este papel".

O livro lançado na quinta-feira pelo ISCTE é apadrinhado pelo ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, e pretende, segundo Tiago Correia, "dar visibilidade a efeitos desconhecidos em reformas prosseguidas no Serviço Nacional de Saúde nos últimos anos", bem como "decifrar os comportamentos dos cidadãos na forma como consomem e acedem aos recursos de saúde".

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