23 fev, 2016 - 23:50 • Raquel Abecasis
Veja também:
A eutanásia é uma solução “anti-social” que vai incidir, sobretudo, nos mais pobres e desfavorecidos da sociedade, alerta o bastonário da Ordem dos Médicos em entrevista ao programa “Terça à Noite” da Renascença.
José Manuel Silva está muito preocupado com as consequências que uma futura lei da eutanásia possa vir a ter para os portugueses. Alerta que este é um caminho sem fronteiras e que, na Holanda e na Bélgica, já se aplica a eutanásia a pessoas com depressão que não foram tratadas.
"Este conceito de que a fase terminal da vida já não é digna de ser vivida, vai obviamente aumentar a pressão sobre as pessoas, nomeadamente sobre os idosos para que optem pela eutanásia", afirma o bastonário.
José Manuel Silva explica que, de acordo com alguns estudos, "um quarto dos idosos é submetido a alguma forma de violência, seja física, seja psicológica”. E estes idosos podem ser empurrados para a eutanásia.
“Certamente todos percebemos com facilidade que esses idosos que são submetidos a essas formas de violência, a partir do momento em que seja descriminalizada/ legalizada a eutanásia, vão ser coagidos a optar pela eutanásia", alerta.
Já quanto ao argumento de que eutanásia pode ser a solução para evitar um sofrimento insuportável, o bastonário da Ordem dos Médicos contra-argumenta que os avanços da Medicina permitem atenuar essas situações.
"Não há razão para as pessoas terem dores insuportáveis com os conhecimentos médicos e científicos que existem actualmente. Não há razão para as pessoas terem medo de dores insuportáveis. O que podem precisar é de acesso a uma unidade de cuidados paliativos, para que possa ser exercida uma paliação adequada para tratar a dor.”
José Manuel Silva defende que o acesso a cuidados paliativos “devia ser a discussão primordial” na sociedade portuguesa.
“Quer dar-se o direito às pessoas a terem acesso à morte antecipada sem que tenham, previamente, o direito de aceder a uma unidade de cuidados paliativos. A verdade é que aquilo que se verifica é que as pessoas que têm acesso a uma unidade de cuidados paliativos, normalmente, já não querem morrer. Porquê? Porque deixam de estar em sofrimento e as suas dores são adequadamente tratadas", argumenta.
Nesta entrevista à Renascença, o bastonário da Ordem dos Médicos vai mais longe e diz que a eutanásia é uma solução “anti-social”, que vai incidir, sobretudo, nos mais pobres e desfavorecidos da sociedade.
"Se houver mecanismos sociais de apoio às pessoas que necessitam, as pessoas já não querem morrer. O que a eutanásia vem tornar desnecessária é a solidariedade social, em certa medida, é uma medida anti-social porque as pessoas com menos recursos, com menos posses, os mais pobres que não têm acesso, que não podem contratar uma empregada 24 horas por dia para os ajudar, vão ser esses que vão ser obrigados a optar pela eutanásia, mas não é uma opção livre consciente e deliberada”, defende.
Para José Manuel Silva, o que se verifica “nos vários inquéritos que têm sido feitos é: o problema não são as dores, o problema principal das pessoas é tornarem-se um fardo para as famílias, o que é cruel, ou perderem a autonomia e depois não terem apoios, o que é igualmente cruel", conclui.