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Bastonária dos Enfermeiros. "Eutanásia já é praticada nos hospitais públicos"

27 fev, 2016 - 14:24

A garantia de que a morte assistida no Serviço Nacional de Saúde é já uma realidade foi dada no programa Em Nome da Lei da Renascença.

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Bastonária dos Enfermeiros. "Eutanásia já é praticada nos hospitais públicos"

A eutanásia já é praticada nos hospitais portugueses. A revelação é feita, no programa “Em Nome da Lei”, por Ana Rita Cavaco, bastonária da Ordem dos Enfermeiros. A responsável garante que viu situações no Serviço Nacional de Saúde (SNS) em que médicos sugeriram dar insulina aos doentes em situação terminal para lhes causar o coma e provocar a morte.

Vivi situações pessoalmente, não preciso de ir buscar outros exemplos. Vi casos em que médicos sugeriram administrar insulina àqueles doentes para lhes provocar um coma insulínico. Não estou a chocar ninguém porque quem trabalha no SNS sabe que estas coisas acontecem por debaixo do pano, por isso vamos falar abertamente”, sublinha Ana Rita Cavaco. "Não estou a dizer que as pessoas o fazem, estou a dizer que temos de falar sobre essas situações", acrescentou.

Então a eutanásia já é praticada nos hospitais? “É, mas não sou só eu que digo isso. Há outras figuras públicas que já o admitiram, e mais vale admitirmos que há coisas que não estão legisladas, mas que são feitas”, disse a responsável. É um crime? “É, mas isso acontece em todos os sectores da sociedade, mais vale discutir."

Ana Rita Cavaco assinou a petição "Direito a Morrer com Dignidade", – que pede que se despenalize e regulamente a morte assistida, quer seja o próprio doente a autoadministrar o fármaco letal (suicídio assistido) quer a droga seja administrada por outra pessoa (a eutanásia), em ambos os casos com a orientação e supervisão de um médico–, diz que o fez pela experiência de sofrimento com que se tem deparado na sua vida profissional. A bastonária da Ordem dos Enfermeiros afirma que há casos em que os cuidados paliativos não conseguem aliviar o sofrimento.

“Há alguns casos em que por mais cuidados, técnicos e fármacos que tenhamos, não podemos intervir. Se há esses casos, porque não fazer esta discussão”, defende.

A eutanásia é acabar com a vida. Ponto final

Já a médica e deputada do CDS Isabel Galriça Neto, com uma experiência de mais de 20 anos a tratar doentes terminais, enfatiza que só em situações muito pontuais os cuidados paliativos não conseguem acabar com a dor intolerável. O problema está em que não há cuidados paliativos em todo o país. São apenas cerca de 300 camas no SNS e alargar a rede é o que deve ser feito para evitar que pessoas estejam em sofrimento intolerável.

“Isto não é um tratamento médico. Porque é que não são os enfermeiros ou os juristas a fazê-lo. Os médicos servem para ajudar a viver e a eutanásia ajuda a acabar com a vida. Ponto final paragrafo”, defende.

A petição que quer legalizar a morte assistida em doentes que estejam em grande sofrimento e sem esperança de cura reuniu o número de assinaturas necessárias para ser debatida na Assembleia da República, mas Galriça Neto alerta que não está apenas em causa a sua aplicação a doentes terminais.

“O manifesto diz ‘acabar com a vida de pessoas com uma doença incurável e em sofrimento profundo’ e não no fim da vida. Ora isto é um eufemismo. Um diabético, por exemplo, antes de ser amputado ou ficar cego poderá pôr término à vida porque está num sofrimento intolerável”, ilustra.

"A vida não é uma coisa que eu possuo"

O que é sofrimento intolerável?, pergunta José Souto Moura. O juiz conselheiro e ex-procurador-geral da República defende que todo o sistema jurídico está assente na pedra angular que é a inviolabilidade da vida.

“A vida independentemente de concepções religiosas, seja um dom de Deus ou não, ou seja resultado das relações da natureza, não é uma coisa que eu possuo. Por isso não posso dispor dela”, defende.

Também Vítor Feytor Pinto, responsável pela Pastoral da Saúde do Patriarcado de Lisboa, está contra o conteúdo e a forma da petição. E afiança que morte assistida não é a precipitação da morte.

“A morte digna é a morte assistida com cuidados eficazes, assistida com a companhia da família, assistida com a terapia de compaixão indispensável e com os apoios religiosos que o doente tem direito. Tudo isso é que é morte assistida. Considerar morte assistida a precipitação da morte, não o é, não pode ser”, resume Feytor Pinto.

Outro subscritor da petição a favor da despenalização da eutanásia e do suicídio assistido foi o advogado Francisco Teixeira da Mota. O causídico percebe que quem tem convicções religiosas defenda o direito à vida, mas não pode impor as suas convicções aos outros.

“Quem tem uma visão religiosa da vida tem de a defender intransigentemente. Não o posso censurar. Não vou discutir que o Papa seja contra a eutanásia, acho bem. Mas quem não tem uma concepção religiosa tem de viver sobre as regras religiosas? Eu sinceramente duvido”, remata Teixeira da Mota.

[no primeiro parágrafo foi alterada a expressão "mandaram dar insulina" por "sugeriram dar insulina" e no segundo parágrafo e alterada a expressão "ministraram insulina" para "sugeriram administrar"]

[no segundo parágrafo foi acrescentada a frase: "Não estou a dizer que as pessoas o fazem, estou a dizer que temos de falar sobre essas situações", acrescentou.]

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  • paulo
    27 set, 2016 lisboa 17:11
    ninguém tem o direito de tirar uma vida ,por isso a eutanásia não é para aplicar a ninguém ,edeve ser proibida paulo
  • Eduardo Oliveira
    01 mar, 2016 04:35
    Isabel Galrica Neto...Se algum dia estiver presa a uma cadeira de rodas, ou uma cama; se se quiser mexer e não conseguir; se acumular tantas mazelas no seu corpo por estar imóvel; se não conseguir articular uma palavra, seja para dizer olá ou para se queixar do seu sofrimento físico ou psicológico; se se sentir presa em si mesma, sem controlo do seu corpo, presa dentro da sua própria cabeça que é a sua última casa; a questionar-se sobre o sentido que a sua vida está a ter no momento em que se encontra; a penar por não mais se reconhecer ao espelho ao fim de uma vida inteira...julgo que voltará a pensar se a eutanásia é apenas uma forma de tirar a vida ao invés do sofrimento. Sofrimento seu e sofrimento de quem a rodeia. É dever de um médico auxiliar a vida, mas também é dever de um médico zelar pelo bem estar do seu paciente, e bem estar físico é apenas um entre tantos. A medicina ainda não tem respostas para tudo; o corpo humano ainda tem questões para a medicina responder. É direito do paciente de decidir o que fazer com a sua vida, e é dever do médico assegurar que ele está a tomar a decisão com as ideias no lugar. Não é dever do médico ser juiz, de lei, ou de princípio. Feche os olhos e imagine essa prisão de que falei, com toda a dor que puder ter presente. Imagine-se sozinha. Imagine o tempo. E agora imagine-se a ver-se livre dele, com uma morte digna, escolhida por si, ou a ter que continuar a penar nesse calvário até que o seu coração decida parar, ou seja parado.
  • José
    29 fev, 2016 faro 22:44
    Bastonária - Ana Rita Cavaco, penso que esta Srª. só pode trabalhar para Companhias de seguro. Assim pode criar mais rentabilidade para as mesmas
  • Jorge Cabral
    29 fev, 2016 Porto 20:03
    Realmente, grande, grande hipocrisia! Espero, apenas, que as declarações da Sra. Bastonária não tenham sido contraproducentes para um mais que devido direito a uma morte digna e em paz, legalmente vergonhosamente adiado. Às vergonhosas falsas virgens ofendidas, apesar de tudo, não lhes desejo um final prolongado e realmente torturante e doloroso, de acordo com a suas presentes convicções.
  • rebelo
    29 fev, 2016 viseu 13:40
    a dr.galriça neto ao dizer que eutanásia não é um tratamento médico, defina se a pratica de aborto legal no sns é tratamento médico e quantos colegas pediram "objeção de consciência" para não o praticarem pois esse é que não representa a defesa da vida humana.
  • Luzia Alvarez
    29 fev, 2016 Vendas Novas 13:37
    Eu digo mais que a bastonária, dado que a eutanásia é uma forma assistida de morrer dignamente, no SNS existem médicos que enviam doentes para casa para morrerem sem qualquer assistência. Necessitam de casos? Conheço um, devidamente documentado. Não podemos classificar uma classe por um membro, mas calhando vamos ter que encarar a realidade, não vale tapar o SOL COM A PENEIRA...
  • Manuel Silva
    29 fev, 2016 Tomar 11:53
    Que a investigação, pedia pelo governo, seja séria e que não sirva apenas para tapar o sol com a peneira e mais uma vez enganar o povo. Investiguem também as orientações governamentais sobre esta matéria, pelo menos de à 15 anos para cá.
  • Patrícia Moreira
    29 fev, 2016 Lisboa 11:24
    Ouvi a entrevista e de imediato pensei que a Bastonária fez uma acusação que terá de provar e da qual é também parte responsável. Se conhece situações como as que disse ter presenciado nos hospitais onde trabalhou, foi conivente com crimes, como muito bem lembrou a entrevistadora. Ficamos pois à espera que as coisas não caiam em saco roto e que a senhora faça prova agora do que denunciou. E já vai tarde, porque já o deveria ter feito na altura.
  • Manuel Silva
    29 fev, 2016 Tomar 11:13
    Boa tarde D. Teresa Varela Aos doentes terminais e não só. Muitos dos doentes que não são terminais tornam-se terminais porque os necessários recursos não chegam a tempo, fruto da sua escassez e nalgumas situações de situações oportunistas de alguns agentes económicos.
  • Teresa Varela
    29 fev, 2016 LISBOA 10:53
    A tudo isto me apetece dizer, daaaaaaaaaah. A senhora bastonária da ordem dos enfermeiros é tótó e teria feito muito melhor figura se ficasse calada. Penso que a eutanásia a que a senhora enfermeira se quer referir é ao facto de se dar, aos doentes terminais , medicação suficiente para que não tenham dores, ou tenham um mínimo de dores, sem que para tal fiquem os médicos preocupados por esses mesmos medicamentos irem encurtar o tempo de vida dos pacientes. Situação com a qual, certamente, quase toda a gente concorda, No entanto, se a senhora enfermeira estava a falar noutro tipo de eutanásia, então estamos perante atos criminosos que essa senhora, ao ter conhecimento deles, deveria ter reportado atempadamente

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