11 mar, 2016 - 23:20
A defesa de José Sócrates critica o Ministério Público por não ter ainda fixado um prazo para concluir o inquérito e "estar à pesca em mar alto" para obter "nova prova", com cartas rogatórias para Angola e Inglaterra.
Reagindo à entrevista do director do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) sobre o inquérito relativo à Operação Marquês, Pedro Delille, um dos advogados de Sócrates, disse à Lusa que Amadeu Guerra omitiu uma questão importante, ou seja que, desde 19 de Outubro, ainda não foi fixado pelo Ministério Público (MP) qualquer prazo para a conclusão do inquérito" que envolve o antigo chefe do governo.
A defesa de Sócrates invoca que o Tribunal da Relação de Lisboa fixou em 19 de Outubro de 2015 o prazo em que o inquérito relativo à Operação Marquês deveria estar concluído.
Segundo o advogado, Amadeu Guerra transmite, na entrevista à agência Lusa, a ideia de que o MP está a analisar prova para depois proferir despacho, quando, na realidade, o que fez foi enviar cartas rogatórias para Angola e Inglaterra para tentar "obter nova prova", sendo que as diligências além-fronteiras "não têm tempo previsível" de execução.
Pedro Delille entende que o MP está a "arranjar vários pretextos para arrastar a investigação sem a concluir", deixando permanecer a "suspeição" sobre José Sócrates através da violação de matéria em segredo de justiça externo.
Quanto à carta rogatória enviada para Inglaterra, adiantou que a intenção dos investigadores é a de analisar "toda a documentação" relativa a três sociedades e com base nos documentos apreendidos verificar quem são os "beneficiários" dessas mesmas sociedades, algumas com sede na Irlanda.
"Não existe qualquer relação de Sócrates com essas contas" ou com os titulares das mesmas, disse. Admitiu contudo que a carta rogatória faz uma referência a Hélder Bataglia, que foi alvo de uma outra carta rogatória enviada para Angola para o constituir arguido.
O advogado de Sócrates observou que as cartas rogatórias para Angola e Inglaterra referem que tais diligências são "indispensáveis" para apurar o crime de corrupção.
Questionado sobre a possibilidade de o MP optar na Operação Marquês pela separação de processos, consoante os crimes em causa, Pedro Delille contrapôs que isso seria a "machadada final da credibilidade da investigação", porque foi o crime de corrupção que legitimou toda a operação, a detenção e a prisão preventiva do antigo chefe do governo socialista. "Isso seria mais um expediente (do MP)", argumentou.
Entretanto, Amadeu Guerra garantiu que o DCIAP está a fazer "tudo o que está ao seu alcance", para concluir a investigação da Operação Marquês e proferir o despacho final, "no mais curto espaço de tempo".
O director do DCIAP lembrou que, no âmbito da Operação Marquês, já foram realizadas mais de uma centena de buscas, tendo sido ouvidas mais de seis dezenas de testemunhas.
A operação Marquês já conta com 12 arguidos, entre os quais José Sócrates, que esteve preso preventivamente no Estabelecimento Prisional de Évora mais de nove meses, tendo esta medida de coacção sido alterada para prisão domiciliária, com vigilância policial, a 4 de Setembro de 2015.
Desde Outubro que está em liberdade, embora proibido de se ausentar de Portugal e de contactar com outros arguidos do processo.
Sócrates foi detido a 21 de Novembro de 2014, no aeroporto de Lisboa, indiciado pelos crimes de fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e corrupção passiva para acto ilícito.