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Trabalhador processa empresa por "mobbing laboral" e ganha caso em tribunal

30 mar, 2016 - 12:06

Empresa condenada a pagar mais de 172 mil euros por assédio moral. Depois de rejeitar a redução do seu ordenado, para cerca de um terço, começaram as retaliações: foi proibido de se deslocar na empresa, a não ser para ir à casa de banho, e até de conversar com outros colegas.

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O Tribunal da Relação de Guimarães condenou uma empresa a pagar mais de 172 mil euros a um trabalhador que se despediu, por alegadamente ser vítima de assédio moral por parte da administração.

O trabalhador alegou justa causa para o despedimento e o tribunal, por acórdão consultado pela agência Lusa, deu-lhe razão, condenando a empresa a pagar-lhe aquele valor, referente, nomeadamente, a indemnização de antiguidade e danos não patrimoniais.

Segundo a Relação de Guimarães, "existe justa causa subjectiva de resolução do contrato pelo trabalhador quando o empregador o assedia", o que considera ter acontecido naquela empresa.

Para o tribunal, o assédio moral, também designado de "mobbing laboral", traduziu-se, designadamente, na mudança do local onde o trabalhador prestava a sua actividade e na proibição de se deslocar na empresa, a não ser para ir à casa de banho.

O trabalhador foi ainda proibido de conversar com outros elementos da empresa e viu ser-lhe retirado o telemóvel de serviço "sem qualquer motivo".

A administração proibiu-o também de entrar pela porta que até aí utilizava e cortou-lhe o acesso à internet.

Retaliações após rejeitar redução de salário

Tudo, acrescenta o acórdão, depois de o trabalhador não ter aceitado nem a redução do seu ordenado para cerca de um terço nem a rescisão do contrato com uma indemnização bem abaixo do valor a que teria direito face aos seus 14 anos de casa.

Em causa está uma sociedade anónima que se dedica ao branqueamento e tingimento, lavandaria e tinturaria industriais e que tem a seu cargo cerca de 620 trabalhadores.

O trabalhador em questão no processo foi admitido em Maio de 1988, tendo a partir de 2008 passado a desempenhar as funções de encarregado e responsável pelo Departamento de Concepção e Desenvolvimentos.

O seu local de trabalho era o laboratório, onde, entre outras tarefas, lhe competia conceber, criar e desenvolver produtos e processos que, pela sua especificidade, se convertessem em mais-valias para a empresa, cooperar com a secção de amostras e realizar prospecções internas e externas relativamente a produtos e processos concorrentes. Passou a ganhar 5.000 euros por mês.

Em 2011, a administração propôs-lhe a redução do salário para 1.500 ou 1.700 euros.

Proposta de rescisão

O trabalhador não aceitou e a empresa propôs-lhe a rescisão do contrato, oferecendo-lhe 20 mil euros, valor que posteriormente foi subindo até aos 70 mil.

A proposta foi igualmente recusada e, a partir daí, segundo o tribunal, começou o "mobbing laboral", que levou o trabalhador a despedir-se, processando a empresa.

No processo, a empresa alegou que o trabalhador não tinha "nenhum motivo concreto" para resolver o contrato, com justa causa imputável à administração.

Alegou ainda que resolução apenas foi accionada porque o trabalhador "pretendia ser ele próprio a determinar as suas tarefas e o seu local de trabalho", uma faculdade que a empresa diz pertencer-lhe "em exclusivo".

Comentários
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  • FR
    17 dez, 2017 Portugal 17:04
    Neste país os melhores nunca ganham acima de 1200 a 1500 euros enquanto simultaneamente estarem a gerar dezenas de milhares para a empresa e os seus patroes, por isso em portugal é ridículo seguir para a universidade, não se ganha quase nada com isso, a ganhar esses 1200 há muitos com o 12º anos, é preciso acabar com as universidades ou obrigar as empresas a pagar os colaboradores conforme os seus lucros.
  • Felismina
    06 abr, 2016 Oliveira de Azemeis 16:40
    Para quando a Lei punir Director Chefes e Administradores que concebem este tipo de práticas com penas de prisão.
  • A. Ferreira
    30 mar, 2016 Matosinhos 17:29
    Com a desculpa da crise temos assistido aos mais variados atropelos à dignidade de quem trabalha. Estamos na época de: Ter sorte por haver trabalho. Este é o ponto onde nos encontramos decorridos estes anos de crise. Sorte muita sorte!!!!!! é o que podemos dizer por trabalharmos. Mer... digo eu que sorte a nossa!!!!!
  • António Andrade
    30 mar, 2016 Algueirão 17:00
    Para quando a Lei punir Director Chefes e Administradores que concebem este tipo de práticas com penas de prisão.
  • Ze
    30 mar, 2016 Lisboa 16:49
    Nem sabem o que se passa na GOEXPRESS empresa do Grupo Barraqueiro, estão a fazer exatamente a mesma coisa aos funcionários...e estão a meter na empresa os "amigos"....muitos funcionários desistem de lutar contra a empresa....um bem haja a esta decisão.
  • Paulo Andrade
    30 mar, 2016 lISBOA 14:53
    Este pelo menos teve "quem o ouvisse" , e quem lhe fez mal vai sofrer as consequências. Acho muito bem a decisão da relação de guimarães. Mas não nos iludemos.....Quantas mais serão as empresas onde se passe o mesmo ? E nas instituições públicas ? Estas últimas então .... é melhor nem falar !
  • Joao Santos
    30 mar, 2016 Porto 14:49
    Infelizmente já assisti a este mesmo tipo de comportamento por parte da entidade patronal face a um dos seus funcionarios que desejava dispensar mas desejava que fosse ele a tomar a iniciativa. No caso em questão ate era um funcionario competente que fazia falta a empresa. Estas empresas geridas por "Patos Bravos" com este tipo de comportamentos o mais provavel e irem a falencia como aconteceu com o exemplo que assisti porque ao longo do tempo só fica lá a trabalhar quem para mais não serve. Eu ao assistir a isto a primeira coisa que disse para mim foi "e começar a tratar de vida esta empresa não presta". Foi a melhor decisão que tomei.
  • Zé das Couves
    30 mar, 2016 Conchinchina 14:35
    É uma oportunidade, porque com esse dinheiro ele vai abrir o seu próprio negócio e deixar de ser empregado, porque se procurar emprego noutra empresa que o conheça não lhe darão trabalho e os 172 mil não duram a vida toda.
  • Ricardo Costa
    30 mar, 2016 Viana do Castelo 14:16
    Nos dias que correm e com as alterações na lei laboral ainda há quem pense que tudo pode fazer para fugir à própria e ter atiitudes menos serias para com os trabalhadores e seus direitos.Um grande Bem Haja ao tribunal de Guimarães e que isto sirva de exemplo a muitas administrações das empresas que julgam ter sempre a faca e o queijo na mão!
  • 30 mar, 2016 Lisboa 14:15
    por isso não emprega ninguém os tribunais e os sindicatos que deem emprego!!! falta aqui saber se o trabalhador/a em causa seria daqueles que só têm direitos sobre direitos e mais direitos!!

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