29 abr, 2016 - 15:39
As buscas em vários pontos do país estão relacionadas com a subconcessão dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) e a venda do navio “Atlântida”, revelou a Procuradoria-Geral da República (PGR).
Até ao momento, ninguém foi constituído arguido no âmbito da operação com o nome de código “Atlantis”, de acordo com a informação avançada, em comunicado, pela PGR.
As diligências desta sexta-feira foram realizadas em Viana do Castelo, Porto, Lisboa, Aveiro e Torres Vedras, segundo a PGR.
Houve buscas em vários locais, nomeadamente no Ministério da Defesa Nacional (MDN) e na Empordef, a 'holding' estatal para as indústrias da Defesa.
Há notícia de buscas nos estaleiros de Viana e na empresa Douro Azul, que comprou o “Atlântida”.
Fonte da Douro Azul confirmou à agência Lusa a presença de inspectores da PJ nas instalações da empresa, no Porto, mas escusou-se a comentar a investigação em curso.
A fonte adiantou que a compra do navio, entretanto vendido a uma empresa de cruzeiros da Noruega, foi feita através de concurso público internacional, pelo valor da segunda proposta mais alta apresentada pela Douro Azul.
A investigação, explica a PGR, está relacionada com "suspeitas da prática dos crimes de administração danosa, corrupção e participação económica em negócio".
Críticas do autarca de Viana: venda do Atlântida “criou mais um excêntrico”
José Maria Costa, uma das vozes que criticou a solução do anterior Governo para os Estaleiros, disse mesmo que “o Governo conseguiu criar mais um excêntrico, neste caso o senhor Mário Ferreira, da Douro Azul, que comprou por 7 milhões e vendeu por 21 milhões aquilo que o Estado não soube ou não quis vender por melhor preço”.
O navio maldito
A polémica esteve colada ao “ferryboat” quase desde o início. A história do “Atlântida” não começou bem e continua a provocar ondas.
O navio foi encomendado aos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, em 2006, pelo Governo dos Açores, que depois o rejeitaria em 2009 devido a um nó de diferença na velocidade máxima contratada.
Concluído desde Maio desse ano, o “Atlântida” está avaliado em 29 milhões de euros no relatório e contas dos ENVC de 2012, quando deveria ter rendido quase 50 milhões de euros.
Os estaleiros estatais tiveram de indemnizar o governo regional dos Açores em 40 milhões de euros.
O "Atlântida" não foi para os Açores e acabou por ser vendido em 2004, em concurso público internacional, a um armador grego.
Mas a Thesarco Shipping não pagou os quase 13 milhões de euros que tinha proposto e o “Atlântida” acabou por ser adjudicado por 8,7 milhões de euros à empresa Mystic Cruises, do grupo Douro Azul, que tinha ficado em segundo lugar no concurso.
Menos de um ano depois, a Douro Azul vendeu o "ferryboat" a uma empresa norueguesa por cerca de 17 milhões, ou seja, o dobro do preço.
Os ENVC que construíram o navio estão actualmente em processo de extinção, tendo os terrenos e infra-estruturas sido subconcessionadas ao grupo privado Martifer, que criou para o efeito a West Sea.