09 jun, 2016 - 06:56
A prática do autocaravanismo está a crescer em Portugal e estimam-se entre 4.000 a 5.000 as autocaravanas nacionais que já circulam pelas estradas do país, um segmento do turismo que reclama mais legislação e melhores infraestruturas de apoio.
"Na Europa estarão em circulação perto de dois milhões de autocaravanas. Em Portugal não existe registo oficial da viatura autocaravana, mas calcula-se que serão entre 4.000 e 5.000. O crescimento destes valores (na Europa e em Portugal) andará pelos 15% ao ano", diz à agência Lusa o presidente da Federação Portuguesa de Autocaravanismo (FPA).
José Pires frisa que o autocaravanismo, conhecido como "turismo itinerante", é um segmento do mercado turístico "em franco desenvolvimento" e projecta que neste ano se ultrapassem os dois milhões de dormidas - cerca de 5% do total de dormidas turísticas no país.
"Em Portugal, anualmente, o número de dormidas já ultrapassarão os dois milhões, de que resultarão mais de 100 milhões de euros vertidos directamente no comércio e restauração dos locais visitados. É possível pensar num forte incremento destes valores de forma sustentada", defende o presidente da FPA.
Mais de 80% destes dois milhões de dormidas são de estrangeiros que visitam o nosso país que, à semelhança dos autocaravanistas nacionais, preferem as épocas média e baixa e optam por viajar ao longo da costa portuguesa, nomeadamente no litoral alentejano e Algarve.
A Lusa pediu à Secretaria de Estado do Turismo dados relativos à prática de autocaravanismo em Portugal, designadamente o peso que esta actividade tem no total do turismo nacional e se está a ser preparada alguma legislação para este segmento do turismo.
Numa resposta escrita, o Ministério da Economia informou que "não existe neste momento informação reunida suficiente" sobre o assunto.
Uma das principais críticas apontadas pela Federação Portuguesa de Autocaravanismo é a falta de legislação adequada.
"Não existe uma lei que trate convenientemente a autocaravana, o autocaravanismo e as infraestruturas indispensáveis para o apoiar. As poucas leis que estão publicadas não servem, porque, tendo sido escritas sem escutarem as organizações que representam o autocaravanismo, apresentam erros e são assimétricas", salienta o presidente da FPA.
José Reis diz que existem resoluções do Conselho de Ministros e regulamentos autárquicos de trânsito e de actividades diversas, mas que não servem esta actividade nem o país.
"Todas estas restringem de forma discriminatória e absurda sem oferecerem alternativas credíveis, e não resolvem a verdadeira necessidade: uma rede nacional com diversos tipos de infraestruturas de apoio, inteligentemente situadas, que possam encaminhar os autocaravanistas para locais de interesse, sugerindo circuitos", defende este responsável.
O presidente da FPA acrescenta que a falta de planeamento está a potenciar o aparecimento de infraestruturas incompletas, que não servem os autocaravanistas, os quais têm um tratamento bem diferente na vizinha Espanha.
"Enquanto em Portugal se vive este clima de alguma hostilidade, embora existam algumas câmaras municipais e juntas de freguesia, poucas, mas boas excepções, em Espanha a situação de alguma dificuldade que existia, vai sendo alterada, com grande apoio das autarquias", aponta José Reis.
Cerca de 80% dos autocaravanistas são reformados.
O custo das autocaravanas pode ir dos 60.000 aos 100.000 euros, mas há no mercado de usados, ofertas por valores inferiores.
Encontro anual junta mais de 200 autocaravanas
Idanha-a-Nova, no distrito de Castelo Branco, recebe entre sexta-feira e domingo o oitavo encontro nacional de caravanismo de Portugal, um evento que vai juntar 220 participantes no parque de campismo daquela vila do centro do país.A CDP-Associação de Caravanismo de Portugal (CDP/ACP), organizadora da iniciativa, sublinha que as expetativas já foram superadas ao nível das inscrições, uma vez que as 60 autocaravanas permitidas - um número recorde - foram atingidas há cerca de um mês.
Dois dos objectivos destes encontros de caravanismo são deixar "uma marca positiva" e dar a conhecer a região, que recebe anualmente o evento, nomeadamente através de passeios e de iniciativas culturais, que fazem parte do programa preparado para os três dias.
O primeiro encontro nacional de caravanismo de Portugal contou com 16 inscrições e a evolução tem sido sustentada ao longo dos anos.
"Está a ser um sucesso juntar famílias oriundas de várias regiões do país que estão ansiosas por rever amigos que fizeram nestes encontros, ano após ano. Temos crescido bastante, mas com qualidade, pois cada encontro tenta sempre melhorar aspetos para proporcionar uns dias bem passados aos companheiros participantes", salientou o presidente da CDP/ACP.
O sector de caravanismo (carro com reboque) e autocaravanismo, que esta associação defende como turismo de hotelaria ao ar livre, "está a evoluir, mas necessita urgentemente de uma orientação das entidades" que o tutelam.
"Tem um potencial enorme este sector, pois o país fala por si: clima, gastronomia, geografia do país que proporciona diversidade em tão poucos quilómetros e que torna um destino apetecível para nós portugueses e para os estrangeiros", sublinhou Ricardo Tavares.
Em relação ao campismo, o presidente da CDP/ACP lamentou a falta de investimento e manutenção dos parques que se verificou nos últimos anos, situação que levou à degradação dos equipamento e a uma menor qualidade dos serviços.
"Se tivermos melhores parques de campismo teremos mais turistas, mais dinheiro a circular, as economias locais crescem, os impostos aumentam nos cofres das autarquias e teremos mais emprego. É para isso que servem os investimentos desde que sejam bem pensados e nesse campo estamos abertos a sermos consultores deste tipo de turismo de hotelaria ao ar livre", vincou Ricardo Tavares.