08 jul, 2016 - 10:35
A Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia queixa-se de que faltam médicos nos hospitais para cumprir o programa de rastreios ao cancro do cólon e do recto e acusa o Governo de estar a asfixiar as unidades hospitalares.
“Tem havido, contrariamente ao que foi prometido, uma estratégia de diminuição dos recursos humanos hospitalares, levando à completa exaustão dos parcos recursos que existem neste momento”, afirmou José Cotter, presidente da Sociedade de Gastrenterologia, em declarações à agência Lusa.
A sociedade está preocupada, nomeadamente, com a falta de substituição dos gastrenterologistas que vão saindo dos hospitais.
“Estou no terreno e sei que médicos que têm saído não são substituídos, apesar dos múltiplos pedidos. Isto é uma situação insustentável”, afirmou José Cotter, que hoje participará no I Congresso da Europacolon Portugal, que se realiza no Porto.
O médico explica que os rastreios ao cancro colorretal passam necessariamente pelos hospitais, quando há uma lesão ou alguma complicação com o doente.
“Há necessidade absoluta de manter os rastreios extra-hospitalares [através das colonoscopias feitas nas entidades concessionadas]. Por outro lado, há a necessidade de ter recursos humanos que permitam, nos hospitais, que esta estratégia de rastreio tenha um princípio, um meio e um fim, ou fica amputado o circuito”, justificou.
A par do que considera ser a escassez de recursos humanos nos hospitais, José Cotter manifesta-se preocupado com a falta de pagamento da tutela a entidades convencionadas que realizam colonoscopias, por acordo com o Serviço Nacional de Saúde.
“A tutela diz que vai implementar o rastreio de base populacional do cancro do cólon até ao final do ano, por outro lado, acontece uma situação inédita: no mês passado a tutela não pagou aos prestadores”, indicou.
Para José Cotter, as falhas de pagamento não se podem repetir, uma vez que podem pôr em causa a adesão dos prestadores, logo, os próprios rastreios.
O cancro do cólon e do recto é o que mais mortalidade provoca em Portugal. Só em 2014, houve sete mil casos da doença, com a mortalidade a cinco anos a ser de 50%.
Os rastreios permitem detectar casos precocemente e, de forma atempada, podem fazer com que a sobrevida atinja os 90% aos cinco anos.