20 jul, 2016 - 08:15 • Fátima Casanova
A Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES) chumbou, desde 2010, 220 formações superiores, entre licenciaturas, mestrados e doutoramentos, que estavam a funcionar em universidades e politécnicos públicos e privados.
O universo de cursos descontinuados é, contudo, muito mais vasto: praticamente metade das formações que existiam há seis anos já desapareceram. As próprias instituições puseram fim a cerca de 2.400 cursos, sem intervenção da A3ES.
O presidente da A3ES, Alberto Amaral, destaca, em entrevista à Renascença o facto de os estabelecimentos de ensino terem percebido que havia excesso de cursos: "As instituições aproveitaram estes processos de acreditação também para arrumar a casa. Havia formações antigas, que já não respondiam a nada, formações que não atraiam alunos, e havia formações que não tinham quadros qualificados. Portanto, houve, de facto, uma supressão de um número muito grande de cursos. Diria que 45% dos cursos que existiam desapareceram desde o início do processo.”
“É muito mais agradável que sejam as próprias instituições a tomarem a decisão de arrumar a casa do que estarem à espera de intervenção externa e nesse sentido o processo foi positivo", reforça, acrescentando que "a maioria dos fechos deverá ter sido no universitário publico".
Este ano, o processo ainda não está fechado. Foram apresentados 225 pedidos para acreditação de novos cursos e, até agora, foram aprovados 43. Redes e telecomunicações, tecnologias de informação e engenharia informática são exemplos de novas formações a abrir portas em Setembro.
Empregabilidade: factor a ter em conta
No dia em que são conhecidos os dados relativos ao concurso nacional de acesso ao ensino superior público, Alberto Amaral considera que os jovens "devem procurar cursos que não se afastem muito da sua vocação e que tenham à partida melhor empregabilidade", apontando a informática como uma boa aposta, porque, "neste momento, em Portugal, há uma enorme falta de pessoal na área da informática".
"Cerca de 20 mil pessoas que são necessárias para preencher as necessidades do país”, estima Alberto Amaral.
Exemplo do reverso da medalha é a área da engenharia civil, "um problema muito complicado", porque foi atingida por dois factores: "Por um lado, porque passou a ser exigida a matemática e a física para ingresso, o que diminuiu o numero de candidatos, e, por outro lado, devido à crise, engenharia civil passou a ser sinonimo de desemprego. Só o Técnico, em Lisboa, e a Faculdade de Engenharia do Porto é que, mais ou menos, sobreviveram sem grandes problemas. Tudo o resto teve problemas.“
“Curiosamente, não se sentiu tanto na Arquitectura, onde o privado protegeu o público, onde se tem aguentado o mesmo número de alunos", acrescenta Amaral.
Qualidade
O presidente da A3ES avalia positivamente a qualidade da formação em Portugal. “De uma maneira geral, a oferta que nós temos é boa. Não há dificuldade nenhuma em jovens que terminam a sua licenciatura encontrarem emprego lá fora, em França, Alemanha ou Inglaterra. São procurados. Por exemplo, as áreas das engenharias são muito procuradas lá fora, com enfermagem não há dificuldade nenhum. Os nossos enfermeiros têm uma formação excelente”, sustenta Amaral.
Alberto Amaral sublinha, ainda, que se verifica, "de forma evidente, que houve um aumento substancial da qualificação do pessoal docente. Por exemplo, a percentagem de doutorados, quer no publico quer no privado, aumentou significativamente e isso é positivo para a qualidade do ensino".
Menos jovens, no presente e no futuro
Dado evidente é o da diminuição do número de alunos que chega ao superior, "que está relacionada com questões demográficas".
Alberto Amaral alerta para o facto de ser necessário "estar atento ao que vai acontecer nos próximos 20 anos, porque todas as estimativas apontam para uma diminuição significativa de jovens a frequentar a universidade e politécnicos".