05 ago, 2016 - 08:13
A construção da Ponte 25 de Abril, que tornou a travessia entre as duas margens do rio Tejo mais fácil e rápida, envolveu cerca de três mil trabalhadores e teve uma “grande inovação técnica” para a época.
Segundo o arquitecto e autor do livro “A Ponte Inevitável”, Luís F. Rodrigues, a criação da estrutura custou “cerca de dois milhões de contos (cerca de dez milhões de euros)”, um investimento “bastante elevado” para a época, mas que foi “essencialmente financiado pela banca estrangeira”, nomeadamente norte-americana.
“Salazar não tinha a intenção de financiar com receitas do Estado a Ponte 25 de Abril, portanto, Marcello Caetano, através do Segundo Plano de Fomento, propôs que esta obra fosse financiada por crédito externo norte-americano e foi isso que aconteceu”, disse à agência Lusa o arquitecto.
A empreitada, para ligar Lisboa e Almada, foi adjudicada à empresa norte-americana United States Steel Export Company, em 1959, após concurso público internacional.
“Era a maior ponte da Europa e a quinta maior ponte do mundo”, reforçou Luís F. Rodrigues, explicando que a obra envolveu “muitos recursos técnicos, muitos recursos humanos, congregou operários, congregou engenheiros de diferentes nacionalidades, essencialmente norte-americanos, e constituiu quase uma escola da engenharia”.
A construção de uma ponte suspensa “nunca tinha sido desenvolvida em Portugal”, pelo que a construção despertou o interesse de vários técnicos da área da engenharia.
Inspirada na Ponte Golden Gate, nos Estados Unidos, tinha “especificidades muito próprias” e “um design muito mais leve e muito mais dinâmico” do que a ponte suspensa norte-americana, afirmou o autor do livro “A Ponte Inevitável”.
“O design foi norte-americano, mas houve muita participação portuguesa”, essencialmente a nível da mão-de-obra, frisou.
As obras começaram a dia 5 de Novembro de 1962 e, passados quase quatro anos - seis meses antes do prazo previsto -, a ponte, inicialmente designada como Ponte sobre o Tejo, foi inaugurada com o nome de Ponte Salazar a 6 de Agosto de 1966, celebrando este ano meio século.
A Ponte 25 de Abril (nome que só ganhou depois da Revolução dos Cravos) tem mais de dois mil metros de comprimento, entre as margens de Lisboa e de Almada, e o tabuleiro fica a 70 metros de altura acima do nível da água do rio.
“Os engenheiros que desenharam esta ponte eram engenheiros de topo”, sublinhou o arquitecto Luís F. Rodrigues, considerando que “a Ponte 25 de Abril não é uma ponte da segunda liga, é uma ponte da primeira liga”.
Ano de 2005 mantém recorde de trânsito
O ano de 2005 continua a ser aquele em que a ponte recebeu o maior número de viaturas – cerca de 57 milhões, quase mais sete milhões do que em 2015.
A ponte do estuário do Tejo cresceu no final do século XX com a ampliação do tabuleiro rodoviário de quatro para seis faixas e a introdução da circulação de comboios.
A criação de novas faixas rodoviárias aconteceu em 1998, com o objectivo de responder ao elevado volume de tráfego, mas já em 1990 tinha sido aberta uma quinta faixa, conhecida como “a noiva”, por ser pintada de branco, e que funcionava como via reversível, aberta para norte de manhã e para sul ao fim da tarde.
Já a intenção de instalar um comboio na ponte “esteve sempre presente nos planos dos projectistas, que desde cedo idealizaram e conceberam a travessia do Tejo”, disse à agência Lusa o arquitecto e autor do livro “A Ponte Inevitável”.
A travessia só passou a ter um tabuleiro ferroviário em 1999. Actualmente, atravessam a ponte todos os dias úteis 143 comboios da Fertagus, que circulam em intervalos de dez minutos nas horas de ponta, segundo informação da empresa.
Ao nível do fluxo rodoviário, em 1970 atravessaram a Ponte 25 de Abril cerca de seis milhões de veículos (6.133.000), enquanto em 2015 foram mais de 50 milhões de viaturas (50.564.545), segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).
Ao longo dos 50 anos da existência da ponte, o tráfego rodoviário foi aumentando, ano após ano, até 2005, altura em que se verificou a mais elevada afluência de que há registo, com a circulação de mais de 57 milhões de viaturas (57.028.695).
Sobre o futuro da Ponte 25 de Abril, que comemora este ano o cinquentenário, o autor da obra “A Ponte Inevitável” defende que existe “zelo civilizacional” para com a infra-estrutura, como prova a abertura do procedimento de classificação, “justificado pelo seu ‘valor singular, valor urbanístico, valor simbólico, valor artístico/estético, valor de engenharia e valor histórico’”.
Este processo foi uma iniciativa da Direcção-Geral do Património Cultural, num despacho de 27 de Janeiro de 2015.
Apesar de ainda não existir uma decisão quanto à classificação, a infra-estrutura de aço, pintada de vermelho alaranjado, já é um ícone da zona de Lisboa, com relevância a nível nacional e internacional.