11 ago, 2016 - 14:55
Há vários anos que existe um perfil psicológico do incendiário típico. Segundo Rui Abrunhosa Gonçalves, psicólogo forense, este perfil tem sido afinado pela Polícia Judiciária, mas, no essencial, não mudou.
“Trata-se quase sempre de indivíduos com baixo nível educacional e de qualificação profissional, habitantes em zonas rurais, consumidores de substâncias – nomeadamente álcool – e em muitos casos com um atraso cognitivo e com patologias do foro mental”, explica o especialista.
Normalmente o incendiário vive perto do local onde lança o fogo e será uma pessoa com “baixas capacidades de tolerância à frustração e de lidar com problemas que surjam no dia-a-dia”, recorrendo a esta prática muitas vezes por “vingança ou simplesmente por motivos fúteis”, diz.
Embora haja casos de incêndios causados para tentar alcançar alguma forma de vantagem económica, esta não é a realidade para a maioria dos incendiários diz Rui Abrunhosa. “Do ponto de vista da investigação, muito poucos são os casos em que aparece um aliciamento monetário, aparece mais estas situações de descompensação do ponto de vista psicopatológico”.
Uma das grandes dificuldades com este tipo de criminoso é o nível de reincidência. Ao longo dos últimos dias têm sido feitos apelos para aumentar as penas para incendiários e esta quinta-feira a ministra da Administração Interna admitiu mesmo estudar essa possibilidade.
Rui Abrunhosa Gonçalves diz que é essencial que compreendam a gravidade do que fizeram. “Em primeiro lugar estes indivíduos têm de ter noção do crime que cometeram, por isso têm de ser punidos e tem de lhes ser explicado muito bem o que aconteceu. Neste momento há pessoas que morreram e por isso alguns desses incendiários – se se verificar que foram eles – vão ter penas mais pesadas.”
“Dentro dessa perspectiva o castigo deve envolver, a meu ver, um contínuo repensar do impacto que teve o seu comportamento – uma vez que não estamos a falar de indivíduos inimputáveis, que não percebam o errado do que fizeram – eventualmente tratamento psiquiátrico sempre que houver uma patologia mental por detrás, uma depressão mais ou menos funda”.
“Algum tratamento pode resultar no caso de desordem de controlo de impulsos, que é mais típica no caso específico dos pirómanos, e diria também que é necessário todo um trabalho de educação ao nível das competências sociais, que estes indivíduos não têm e que pode ajudar a que não reincidam nestes crimes”, insiste.
Contudo, fundamental mesmo é haver mais controlo dos indivíduos quando se encontram em liberdade. “Quem cometeu um incêndio tem maior probabilidade de cometer incêndios, e portanto mesmo quando saem em liberdade condicional o controlo deve ser muito eficaz.”