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Estágios fraudulentos. CGTP pede “tolerância zero” para “situações de escravidão"

22 ago, 2016 - 12:11

Conselho Nacional da Juventude denuncia fraudes nos estágios profissionais, com estagiários obrigados a devolver parte do salário ao empregador. À Renascença, Hugo Carvalho pede que os jovens sejam ouvidos.

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O secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, considera “inaceitável” a situação denunciada esta segunda-feira pelo Conselho Nacional da Juventude: há empresas a obrigar estagiários a devolver parte do salário.

“Temos tomado conhecimento, no Conselho Nacional de Juventude, de alguns casos de jovens a quem os empregadores dizem que os aceitam na empresa, mas só vão lhes pagar o que o Estado der para pagar”, diz à Renascença Hugo Carvalho, presidente do Conselho Nacional da Juventude.

Hugo Carvalho explica que se trata de um apoio do IEFP é indexado ao Indexante de Apoio Social. “São 691 euros que o estagiário tem de receber e a empresa é apoiada, na maior parte dos casos, em 65% deste valor e pede ao estagiário que no final de cada mês vá ao multibanco, levante os 35% que faltam e os entregue em dinheiro ao seu patrão. Isto sai contabilisticamente como salário da empresa e entra como dinheiro em numerário para o patrão e ninguém sabe para onde vai”.

Em reacção a esta denúncia, a CGTP afirma que vai reclamar junto do Ministério do Trabalho uma actuação “imediata e urgente por forma a clarificar, junto do Instituto do Emprego e Formação Profissional e de outras entidades, aquilo que se está a passar”.

Arménio Carlos diz que “estas situações de escravidão” não se podem repetir e “estas entidades patronais sem escrúpulos” têm de ser penalizadas.

“É caso para pedir tolerância zero para estas e outras ilegalidades”, remata o sindicalista, em declarações à Renascença.

Segundo o "Jornal de Notícias", que avançou a notícia esta segunda-feira, os sectores profissionais em que estas situações mais acontecem são arquitectura, pequeno comércio, psicologia e advocacia.

Jovens com medo de denunciar

“De todas as pessoas com quem falei, nenhuma disse que não ao patrão. E assim é ainda mais difícil dar a cara”, afirma o presidente do Conselho Nacional da Juventude.

Hugo Carvalho explica que, ao aceitar estas condições, o jovem “também entra no conluio” e pode ser prejudicado no futuro. Aceita, porque vê aquele estágio como a única maneira de entrar no mercado de trabalho.

Admite, por isso, que o IEFP não tenha conhecimento de tais situações. “As pessoas têm medo das represálias”. Tanto que, até agora, não há qualquer queixa formal apresentada.

Hugo Carvalho considera que o problema tem uma solução complexa, mas considera que “entre o IEFP e a Autoridade para as Condições do Trabalho terá de haver uma forma” de agir, “porque, de facto, no mínimo isto é fraudulento”.

O responsável lamenta ainda que o conselho a que preside ainda não integre o Conselho Económico e Social, “onde se continuam a decidir sobre as novas intenções do Governo para as medidas activas de emprego sem os jovens – a decidir o que os jovens têm de querer sem eles lá”.

“Há coisas que se podem fazer ao nível político, mas é pena que a única forma de ter este assunto na agenda política seja através desta denúncia, porque o Conselho Nacional de Juventude está há duas legislaturas à espera de ingressar no Conselho Económico e Social. É muito difícil para nós também denunciar estas situações em sede de concertação social”, critica.

Comentários
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  • Pedro
    26 ago, 2016 Porto 12:17
    Uma das empresas que explora os estagiários é a MENINA DESIGN, em Rio Tinto. Fui lá estagiário e sei do que falo. Investiguem.
  • Pinto
    23 ago, 2016 Custoias 01:50
    Os patrões portugueses são conhecidos em todo o mundo por burlões e gente falsa. Neste país são protegidos e gozam de impunidade. O ACT deve estar sob domínio do grande capital, tal os acontecimentos que ficam em aguas de bacalhau. As pessoas não querem perder o trabalho e são obrigadas a alinhar em vigarices, não denunciam por medo de perder o emprego.
  • Pinto
    23 ago, 2016 Custoias 01:39
    Existem empresários que estão sempre a receber dinheiro do estado para criação de postos de trabalho e estes estão continuadamente a readmitir e a despedir os mesmos funcionários à anos.
  • Pinto
    23 ago, 2016 Custoias 01:26
    Digam lá se os patrões portugueses são boas pessoas e merecedoras de ajudas e subsídios. Os patrões portugueses são os mais corruptos a nível da Europa, sei de imensos casos de burlas, aproveitamentos de ajudas do estado, fugas aos impostos e corrupção. Dar dinheiro a um patrão para criação de postos de trabalho ´neste país, é dinheiro mal gasto.
  • Helder
    22 ago, 2016 Lisboa 21:59
    Feios porcos e maus ...e chamam a isto empresários ...não passam de ratos à procura de dinheiro
  • Amer
    22 ago, 2016 Sintra 17:44
    A posição da CGTP peca sempre por tardia e só reage depois de aparecerem notícias na comunicação social. É preciso fechar os olhos o mais tempo possível, este é o governo da mil maravilhas...! A dívida está a aumentar? Não faz mal os que ainda não nasceram que paguem a crise...! Não é assim camarada...! Ainda não estamos como a Venezuela mas com pouco trabalho e muito esforço lá chegaremos...!
  • zé Tuga
    22 ago, 2016 Conchinchina 16:09
    Nós povo que quer trabalhar e ir e vir sem atrapalhos, também queremos tolerância zero da polícia para tirar os vagabundos da CGTP quando eles querem fechar espaços públicos. TOLERÂNCIA ZEROOOOOOOOOOOO com vagabundos que não deixam muitas vezes outros trabalhar .
  • Fields
    22 ago, 2016 Lx 15:34
    O problema é que a tolerancia zero apenas chega quando a comunicacao social decide divulgar o caso, até agora foi tolerancia100... %.
  • João
    22 ago, 2016 Porto 15:28
    Injustiças neste país!? Quantas....!!! Conheço um jovem, com curso superior, a trabalhar 40H e mais, por semana, numa empresa na área de terapia para crianças, subsidiada pela Seg Social a ganhar 3,75 euros/hora. Também não se pode queixar, nem dar a cara sob pena de ficar sem trabalho!!! É este um dos aspetos desta sociedade que gasta milhões com reformas douradas e vencimentos milionários de alguns...
  • portuense
    22 ago, 2016 porto 15:19
    É só conversa! Enquanto fizeram parte da geringonça os amigos da central do PCP, vão dizendo publicamente umas bacoradas para inglês ver, mas no fundo, nu fundo, gostam-se de se ver 'fazer parte da governação' então de palpites fora, são imensos. Letra, muita letra e conversa fiada.

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