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Maior investimento na educação não se reflecte nas carteiras dos professores

15 set, 2016 - 11:48

Segundo um relatório da OCDE, só a Turquia aumentou mais o investimento na educação nos anos entre 2008 e 2013.

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O investimento público em educação aumentou 33% em Portugal entre 2008 e 2013, de acordo com um relatório da OCDE, que indica também que entre 2010 e 2014 os salários dos professores do ensino básico baixaram 30%.

De acordo com o relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) “Education at a Glance 2016”, o investimento público em educação, excluindo o ensino superior, aumentou de forma significativa entre 2008 e 2013: o aumento de 33% foi o mais alto neste período entre os países da OCDE, à excepção da Turquia.

Ainda segundo o relatório, no mesmo período estes níveis de educação registaram um decréscimo de alunos de 6%, o que significa que o crescimento no investimento se traduz num maior montante investido por cada estudante.

No que diz respeito ao ensino superior, o investimento público caiu 12% entre 2008 e 2013, o que levou a que a percentagem de financiamento público das instituições de ensino superior baixasse dos 62% para os 58%, a segunda percentagem mais baixa entre os 22 países da União Europeia que integram a OCDE.

O investimento público em educação, incluindo ensino superior, representava 6,1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2013, acima da média da OCDE de 5,2%, e dos 4,6% do PIB em 2008.

No entanto, o relatório também refere que Portugal foi dos países onde a crise económica e financeira mais se reflectiu no PIB, tendo registado uma queda de 7% entre 2010 e 2013.

A crise sentiu-se também nos salários dos professores: os do ensino básico tiveram uma perda de rendimentos de 30% entre 2010 e 2014, em contraciclo com a maioria dos países da OCDE, que registaram aumentos.

A desvalorização salarial destes professores explica-se, segundo o relatório, não só pelos cortes nos vencimentos no período indicado, mas também pelo aumento do número de alunos por turma, o que leva a que em termos médios se traduz numa redução dos custos com salários por cada aluno.

Numa análise à liderança e trabalho de desenvolvimento profissional dos directores de escolas do 3º ciclo do ensino básico, a OCDE refere que os directores portugueses são os que menos participam em actividades do género em relação aos restantes países.

Corpo docente envelhecido

Apenas 5% dos directores disseram ter feito observação de aulas nas suas escolas no ano de 2013, e quase um quarto dos docentes (23%) não realizou qualquer actividade de formação ou valorização profissional nesse ano.

A OCDE nota ainda que o corpo docente do país envelheceu a grande velocidade na última década: entre 2005 e 2014, os professores do ensino secundário com mais de 50 anos de idade tiveram um crescimento anual de 6%.

Ainda assim, a percentagem de professores com mais de 50 anos de idade em Portugal, que se fixa nos 33%, está abaixo da média da OCDE de 37%.

No ensino vocacional, Portugal, a par da Austrália, registou o maior crescimento da taxa de diplomados nesta via de ensino entre 2005 e 2014, com um aumento de 40 pontos percentuais numa década.

“Tendo por base os padrões actuais, a percentagem de jovens dos quais se espera que concluam o ensino secundário pela via vocacional cresceu significativamente dos 13% para os 56% na última década. O aumento reflecte o crescimento da taxa de conclusão do ensino secundário de forma geral, que passou no mesmo período dos 54% para os 97%”, refere a OCDE.

O relatório sublinha que este tipo de formação tem sido “eficaz em proporcionar competências relevantes para o mercado de trabalho”, uma vez que a taxa de empregabilidade para os diplomados nesta via era de 80% em 2015 para a faixa etária entre os 25-34 anos, em linha com a média da OCDE.

“Portugal vai precisar de garantir que estes programas mantêm a sua eficácia durante o processo de expansão e que as qualificações se mantêm relevantes para o mercado de trabalho”, lê-se no relatório.

Comentários
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  • Jose Guimarães Mende
    07 fev, 2017 Valongo 10:12
    Ainda muito recentemente abordei este fenômeno da ma-educação dos alunos. Mencionei no meu portefolio a perda de "autoridade" dos professores e a má formação dos encarregados de educação. Esta triste realidade já não tem retorno. Causas: O telemóvel, os smartphones, redes sociais e a vulgaridade de aplicações que existem para os mesmos. Esta canalhada não tem respeito nem educação, são "selvagens". Com 50% da educação, respeito e humanismo que existiu até final da década de 80, adicionado ao avassalador avanço tecnológico, certamente que teriamos outra juventude e outra sociedade. Os professores precisam de autonomia e autoridade. Será imensamente justo atribuir a pensão de reforma aos Professores, quando completarem os 50 anos de idade. Sem quaisquer penalizações, nem aplicação do fator de sustentabilidade. A profissão de Professor é a mais desgastante que existe. Os Professores aguentam com toda a "carga" do mau comportamento dos alunos e dos encarregados de educação. Ser Professor' de há 30 para cá, é extremamente frustrante, ztressante e angustiante. Haja coragem e visão de quem manda, porque o comportamento dos alunos atropelam a educação e não fazem parte da civilização evoluída. Força Senhores Professores! O país tem uma grande divida pelo vosso insubstituível e indispensável desempenho social. José Guimarães Mendes
  • Helena Tomé
    07 fev, 2017 Ermesinde 10:08
    A indisciplina na sala de aula relaciona-se com a falta de uniformidade de critérios de cada escola (num universo de muitas escolas). Cada professor ou conselho de turma fixa os seus e, assim, logo no primeiro dia de aulas os jovens sentem que ali ninguém se entende. O cumprimento de regras não é exigente porque não há mecanismos de suporte para os professores (não estou a referir-me às salas que recolhem alunos expulsos de aulas por mau comportamento). Aulas de comportamento e de civismo são urgentes. Os pais também precisam de apoio porque eles próprios pensam que envolverem-se no processo educativo consiste em dizer mal dos professores. Não esquecer que estes jovens são filhos das primeiras gerações que tiveram acesso à educação obrigatória pós 25 de abril. Na época recebíamos alunos no 3 ciclo que mal sabiam escrever... penso que muitos desenvolveram a ideia de que a escola é um local onde se dá tudo sem esforço, pois não desenvolveram sentido crítico. As associações de pais não cativam ninguém e as direções escolares continuam incompetentes e cheias de vicios após 20 ou mais anos naqueles postos, sem formação e a conceder favores. As caraterística da função docente não permite horários de trabalho lógicos e a tutela não consegue perceber o peso dos horários na prestação de alunos e professores. As aulas são, assim, geridas de forma inconsequente. É admirável notar que, no contexto, a escola se transformou num conjunto de "negociações" entre professores amigos e direções.

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