16 set, 2016 - 07:46
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O ex-primeiro-ministro José Sócrates acusa o juiz de instrução da Operação Marquês, Carlos Alexandre, ter feito uma "insinuação torpe e covarde" a seu respeito, ao afirmar à SIC que não tinha dinheiro em contas de amigos.
À TSF, na primeira entrevista após as declarações de Carlos Alexandre e do adiamento do prazo do inquérito da Operação Marquês por 180 dias, o antigo chefe do Governo considerou que o juiz, ao afirmar que não tinha dinheiro em contas de amigos, pretendeu atingi-lo, fazendo um juízo quanto à sua culpabilidade no processo.
"Foi uma insinuação covarde e torpe que o sr. juiz fez a meu respeito", argumentou, considerando que Carlos Alexandre pretendeu insinuar que o dinheiro da conta do seu amigo Carlos Santos Silva é seu.
Para Sócrates, trata-se de uma "insinuação gravíssima", além de "absurda e estapafúrdia".
"Isso é falso e injusto. Se alguma coisa está provada no processo, é que essa acusação é falsa", salientou.
José Sócrates sustentou que o juiz "faltou e falhou aos seus deveres" ao fazer uma insinuação que pretendeu fazer um juízo de culpabilidade".
"Fê-lo sem haver acusação, sem haver julgamento, abusou do seu poder, ultrapassou todas as fronteiras", argumentou, na entrevista que a TSF vai emitir durante a manhã.
Na entrevista à SIC, Carlos Alexandre apresentou-se como um "saloio de Mação" que precisa de trabalhar para pagar as contas e não tem dinheiro em nome de amigos.
"Não tenho fortuna pessoal, nem herdada, não tenho amigos pródigos, os meus encargos só são sustentados com trabalho sério", disse o magistrado do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC).
Marcelo acusado de querer "tomar parte" no processo
Sócrates acusou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, de ter dado um sinal político de apoio ao departamento responsável pela investigação da Operação Marquês, ao visitar a instituição.
“Ao visitar o DCIAP (Departamento Central de Investigação e Acção Penal) uma semana antes daquilo que - já se estava mesmo a ver que era mais um adiamento (do prazo para a conclusão do inquérito da Operação Marquês) o Presidente da República decidiu tomar parte”, afirmou na mesma entrevista.
“Fez um sinal político que não me escapou. De quem entre aqueles que abusam do poder – como é o caso do Ministério Público – o Presidente da República decidiu assim, do ponto de vista simbólico, visitar o DCIAP para sinalizar que está do lado de uma instituição contra o indivíduo”, sustentou o ex-primeiro-ministro socialista.
Na mesma entrevista, Sócrates refere que o Presidente da República “não foi eleito pelas instituições”, e que “deve compreender” que o principal dever de um chefe de Estado de uma República democrática é para com os direitos dos cidadãos.
No dia 7 de Setembro, ao visitar o DCIAP, o Presidente da República, afirmava estar "muito empenhado" no funcionamento da investigação criminal.
A Operação Marquês conta com 18 arguidos, incluindo José Sócrates, que esteve preso preventivamente mais de nove meses, e que está indiciado por fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e corrupção passiva para ato ilícito.
Sócrates, 59 anos, foi o primeiro ex-chefe do Governo a ser detido preventivamente em Portugal, indiciado por corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais.
Entre os arguidos no processo estão o ex-administrador da CGD e antigo ministro socialista Armando Vara e a sua filha Bárbara Vara, Carlos Santos Silva, empresário e amigo do ex-primeiro-ministro, Joaquim Barroca, empresário do grupo Lena, João Perna, antigo motorista do ex-líder do PS, Paulo Lalanda de Castro, do grupo Octapharma, Inês do Rosário, mulher de Carlos Santos Silva, o advogado Gonçalo Trindade Ferreira e os empresários Diogo Gaspar Ferreira e Rui Mão de Ferro e o empresário luso-angolano Helder Bataglia.