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“Fica tudo em cinza”. Incêndios deixam Arouca e Águeda com prejuízos de 155 milhões

30 set, 2016 - 14:33 • Júlio Almeida

Proprietários de montes onde o fogo andou durante dias não escondem a revolta, depois de meses e anos a cuidar de floresta na esperança de ter um complemento de rendimento.

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Arouca e Águeda, os dois concelhos onde lavraram os maiores incêndios do Verão, sofreram prejuízos de 155 milhões de euros. Em Arouca, só a madeira ardida valeria 117 milhões de euros.

Foram depois contabilizadas perdas de três milhões de euros devido a estragos em instalações diversas, mas também no sector agrícola, onde enormes extensões de pasto e alguns estábulos em zonas serranas ficaram reduzidos a cinza. Em Águeda, as perdas rondaram os 35 milhões de euros, sobretudo na mancha florestal.

Não foi um milagre, mas quase: os grandes fogos pouparam este ano os extensos eucaliptais de Alquerubim e Fial, no concelho de Albergaria-a-Velha.

Um dos muitos pequenos produtores florestais, Américo Cruz, diz à Renascença que já pode dormir mais descansado. “Eu acho que estão a limpar. Os matos estão mais pequenos e eu acho que é por isso. E também a entidade, a GNR, intima as pessoas para que limpem num prazo indicado, se não, são multadas”, diz.

Mas basta andar dez quilómetros até Macinhata do Vouga, já no concelho de Águeda, para encontrar um cenário de total devastação. Os proprietários de montes onde o fogo andou durante dias não escondem a revolta, depois de meses e anos a cuidar de floresta na esperança de ter um complemento de rendimento, como acontece na família de Gracinda.

“Ficam os pinheiros todos ardidos, fica tudo em cinza, o que é que quer que lhe diga? Está à vista. É uma pessoa a trabalhar uma vida inteira e pensa que tem alguma coisa para em 10, 12 anos cortar um pinhal. Mas estamos numa altura em que, infelizmente, não deixam chegar a esses 12 anos. Antes, destroem tudo”, lamenta a proprietária.

“O que é que os madeireiros dão por aquilo? Nada. As pessoas, a maior parte delas, quando vêem que não dá vão optar por comprar madeira ou comprar lenha? Não. Cortam e dá para passar o inverno.” Sobre se são extensas áreas, Gracinda confirma que houve “pessoas que ficaram sem nada, tudo o que tinham ardeu”.

As chamas chegaram a cercar o lugar de chãs quando os bombeiros, dispersos por muitas frentes, não podiam acudir a todos. O povo não arredou pé com o fogo a tocar nas casas. “Houve muita dificuldade. Tivemos poucos bombeiros. Tivemos cá, no início, dois ou três carros. Não sendo a população a defender, quase que não dava para acudir”, lembra.

“No final do dia ficaram um ou dois carros e foi o que pôde ficar porque as populações seguintes também ardiam por todo o lado. Em questão de madeiras, para os lavradores que têm madeiras, é bastante prejuízo. Mas ficam as casas, fica o que nos interessa. Em questões de gado não houve grandes prejuízos. E pronto, esperemos agora que volte tudo a renovar”.

"Os proprietários estão agora a ser assediados para venderem as madeiras a preços muito reduzidos mas preferem cortar para lenha. José Laranjeira, director da Associação Florestal do Baixo Vouga, uma das maiores do país, recomenda mesmo que esperem alguns meses. “Para que não cortem já a madeira do eucalipto, que a cortem só no próximo ano, em Março, Abril porque, entretanto, as árvores rejuvenescem e a casca sai com mais facilidade, para que a madeira possa chegar às celuloses sem zonas queimadas, porque a celulose o que rejeita é a madeira com a casca queimada”, explica.

Para o presidente da Câmara de Arouca, Artur Neves, chegou a hora de tomar medidas de ordenamento para defender a floresta. Os proprietários, se tiverem de limpar os terrenos, o resultado do produto da venda das madeiras, jamais pagarão a limpeza dos terrenos. Também não é solução entregar aos municípios essas parcelas abandonadas ou que os proprietários não querem limpar porque nós também não vamos limpar.”

“Não teremos condições financeiras para limpar seja o que for e, portanto, enquanto não sentir que há instrumentos de planeamento capazes de permitir àqueles que decidem como os seus territórios devem funcionar, eu não vou apelar. Isto é uma urgência, uma necessidade”, aponta.

O autarca acrescenta ainda que “não é admissível que os autarcas tenham responsabilidade sobre a qualidade de vida das pessoas e depois venha um incêndio atacar a vida das pessoas. Porque é a sua essência, a casa onde residem, e não temos condições para as proteger”.

Em Águeda, o município local decidiu lançar uma oferta pública de aquisição de terrenos florestais que estejam estrategicamente localizados para diminuir o risco de incêndio. O valor a pagar varia entre 40 cêntimos e um euro o metro quadrado. O orçamento disponível nesta fase é de 200 mil euros.

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